Inquieta.

182 12 3
                                    

Aviso de conteúdo sensível.

×

Após cansar de esperar na cama, ao notar a ausência de movimentação nos outros cômodos, Beth decidiu levantar para ir atrás da companheira, a quem esperava para que pudessem deitar e dormir. Ao observá-la mexendo no celular, encostou-se na parede até acompanhar os seguintes atos de ela fazendo uma expressão de deboche para a tela, desligando o aparelho e jogando-o no outro sofá, o que causou uma risada na outra.

— Não presto pra ter twitter, Beth. — Se justificou cruzando os braços e mostrando que havia percebido a presença dela. — A menina postou um negócio sobre coisas que ela faz, porque é o que ela acredita, no perfil único e exclusivamente dela e o pessoal nos comentários enchendo a porra do saco chamando ela de fubanga. Eu não sei nem o que é isso. — Franziu o cenho escutando a gargalhada da companheira. — Eles são muito oito ou oitenta, ou você segue meus comportamentos ou tá tudo errado. Ah, vai se lascar, não tenho paciência. Se eu passasse dez minutos nessa rede ia arrumar cinco brigas uma seguida da outra, não daria certo.

— Boa parte da rede serve pra isso mesmo. — Informou ainda rindo. — É só o que fazem.

— É por isso que eu não vou lá com frequência. Nem sou briguenta, mas me estresso facinho aqui.  — Cruzou as pernas, arrumando o vestido que trajava. — Achei que já estivesse dormindo.

— Na verdade, estava te esperando. — Confessou sentando do outro lado do sofá. — Tá tudo bem, preta?

— Estou inquieta. — Revelou soltando os cabelos acinzentados e arrumando-os. — Tô com a sensação de quando fica um espaço vazio no estômago e você sabe que se não preencher vai sentir fome mais rápido ou no meio da noite. Então... Só que eu não queria comer, queria tomar algo, mas café vai me deixar pior, suco eu tô com preguiça, pensei em fazer um chá e acabei de desistir nesse exato momento.

— Posso preparar pra você. — Ofereceu em prestatividade e conseguiu um sorriso da outra.

— Não é preciso, obrigada. — Recusou educadamente.

— Tem certeza? Meu chá de camomila é uma delícia. — Até ia se direcionar até a cozinha, mas foi impedida.

— Não se dê o trabalho, sério mesmo. — A respondeu de pronto.

— Vou te fazer companhia. — Falou em tranquilidade, evidenciando que estaria presente nos momentos de inquietação ainda que não fosse muita coisa. — Mas gente pode ir para o quarto? Está mais fresquinho.

— Acho que é porque o vento bate direto nas paredes de lá. — Disse levantando e seguindo-a, logo se aconchegou no colchão.

Havia um clima estranho sem ser, que rolava entre as duas pós beijo. Aquele que não havia sido o único durante o dia, para tanto desejo era impossível que fosse.

Querendo deixar bem óbvio que sua vontade era de não se afastar, mas deixando evidente o respeito com a imposição de liberdade, assim que sairam do monte Beth a puxou de volta pelo braço e a prensou em uma das várias árvores do local. Disse num sussurro bem ao pé do ouvido de maneira entendível: "Tecnicamente a gente ainda tá no pé do monte, deixa eu me despedir da sua boca", logo em seguida a entregou um dos beijos mais intensos e quentes que havia dado, era quase um pedido de socorro alegando tamanho maltrato por deixar as bocas separadas... Mas será possível que Dalila não via que elas funcionavam perfeitamente bem, juntas?

O contato foi tão sentido que fez a mais velha voltar o caminho todo perdidinha das ideias, só com a sensação da quentura, desejando que não fosse uma despedida porque odiaria ter um beijo tão bom quanto aquele, pela última vez. Era crueldade. Se seria tomado de si, porque lhe apresentaram tamanho prazer? Se negava a ter aquilo somente por um mero momento, por esse motivo a sua inquietação.

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora