Querendo chamar atenção.

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Achei que iria começar a me acostumar em vê-la, mas já fazem alguns dias que acho tosco o meu pensamento.

Completaram semanas que eu havia retornado para a faculdade, dentre elas tiveram feriados no meio e meus colegas estavam animados pelo final do semestre, ficavamos quase três meses sem ter aula e isso era muito animador para quem precisava de descanso.

Já era para eu ter me adaptado a vê-la toda semana, mas a presença de Dalila era tão impactante que eu já tinha até desistido de tal. Eu metia os pés pelas mãos, a fazia rir com meus questionamentos ou quando ela me chamava a atenção por estar fazendo caras e bocas sem prestar atenção. Não conseguia controlar boa parte dos meus atos, esbarrava em tudo o que tivesse na minha frente quando ela estava por perto, derrubava meus pertences, meu coração acelerava toda vez que a via e eu, sem perceber, havia ficado mais preocupada com a minha aparência, algo a mais para que eu também me tornasse desastrada.

Não ficar do jeito que eu queria, me deixava em uma grande angustia porque de maneira inconsciente gostaria de chamar a sua atenção. Apesar de ser extremamente difícil até mesmo de tirar um elogio da professora, porque parecia ser do tipo que nem ao menos reparava em como as pessoas se trajavam da forma em que se trajavam, não as julgava. Era muito reservada com relação aos seus gostos, não falava sobre sua vida pessoal e sabia fugir bem quando questionada sobre, eu entendo, sua vida não deveria ser do nosso interesse e era seu direito não falar sobre ela... Angustiante para quem tinha sede de conhecê-la melhor, já que nem suas redes sociais eram fáceis e ela parecia não ter aderido ao processo dessa nossa vida estar sempre ligada a tecnologia, inclusive malmente eu a via mexendo no celular.

Dalila era difícil.

Certa vez, eu tinha acabado de apresentar um seminário para ela e escondia as mãos trêmulas dentro do bolso porque na minha opinião havia sido um desastre. Sabia que podia muito mais do que aquilo que consegui apresentar, em meio aos meus gaguejos e esquecimentos sobre o assunto até deu para enrolar, porém conhecia o meu potencial e mais uma vez, queria impressioná-la.

Um tempo após ela seguia engajando coisas que haviam sido ditas por mim, enquanto eu lidava com o bombardeio da minha própria mente.

Senti ela se aproximando, o coração quase saindo pela boca quando parou ao meu lado. Teceu elogios a mim, mais precisamente a minha didática e escolha a informações relevantes sobre o assunto. Fiquei quase como pinto no lixo, a alegria de ter sido notada daquela maneira era muito boa.

E por seguinte tudo foi melhorando, Dalila passou a brincar mais comigo e soltar piadas internas sobre a minha apresentação. Apesar de eu ter dito que não gostava de falar em público mesmo que tivesse desenvolvido minha comunicação, ela sabia me instigar tanto a ponto de constantemente ouvirem minha voz, claro que somente quando era convidada.

Do fundo eu fui para o meio, do meio para a frente e da frente minha cadeira já estava sempre reservada perto da sua mesa. Não conversávamos com constância, ela mantinha diálogos muito casuais, não se abria com nenhum aluno seu e não seria diferente comigo.

Tudo ia bem, mesmo eu ainda sentindo as mesmas coisas quando estava em sua presença. Consegui acalmar os ânimos um pouquinho porque imaginei que estava passando uma boa impressão, de alguém que era equilibrado e dedicado... Até chegar o dia da prova.

Eram somente três questões e em todas elas se fazia necessário escrever uma dissertação sobre o assunto no qual ela questionava de maneira implícita nos enunciados das perguntas. Quando li toda a prova, eu ri amargamente por achar uma graça no meu desespero. Cheguei a reler uma segunda e terceira vez na tentativa de encontar uma luz por onde seguir. Na quarta fui até a ela e questionei o que exatamente a moça queria, ainda sim, nada saia. Parecia até que eu havia desaprendido a escrever, colocar as palavras em ordem e a encher linguiça, isso eu tinha dominância e não consegui fazer.

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora