Chamada de Emergência.

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"Oi, querida. Sei que não costumo mandar mensagem pra você, mas imaginei que pudesse saber... Conversou com Beth hoje?" enviada por Dalila antes de entrar na sala de aula, estava recorrendo a tudo o que podia recorrer no momento.

"Não conversamos no horário de trabalho normalmente, mas ela me mandou mensagem dizendo que o dia estava cheio. Logo deduzi que iria demorar de chegar aqui." respondeu Lumbiá, a vice líder da sala.

"Ah, compreendi. Tenho um assunto a tratar com ela, mas espero. Obrigada." Retornou disfarçando e desconversando sem querer dar detalhes porque não sabia se a companheira havia falado da relação que tinham para a amiga.

Por mais que quisesse se enganar com a troca de mensagens, seu coração seguia apertando de uma maneira em que chegava a lhe dar fraqueza nas pernas.

Precisou ser profissional, estava ali para dar aula e daria aula, não seria uma paranóia que lhe paralisaria. Pode ser que no momento Elizabeth estivesse ocupada ou talvez o celular tivesse descarregado, nunca foi pilhada assim, era sempre muito flexível e compreensiva.

"Meu amor? Tá por onde? Não vem pra faculdade hoje?" Deixou mais uma na caixa de mensagens da companheira e foi dar a sua aula como deveria de ser.

Sempre havia um modo em que entrava antes de dar a aula, tudo ao seu redor incluindo seus problemas, sumiam. Sempre foi assim toda a sua vida, por isso adorava ser professora, porque desde o primeiro dia em que pisou os pés em uma sala de aula, até mesmo o seu nervosismo da inexperiência tinha ido embora. Para ela, era natural ensinar... Afinal, nasceu para tal.

Não conseguia, dessa vez não conseguia entrar nesse modo tão natural, o embrulho no estômago lhe fazia pausar algumas vezes a sua fala somente para engolir a saliva e pensar na próxima palavra, algo que normalmente já se formava de maneira rápida em sua cabeça, se complexava nesse momento.

Com a ajuda da companheira, como era péssima em tecnologias, havia configurado seu celular para tocar somente para alguns determinados contatos e consequentemente os desconhecidos, já que sabia que poucas pessoas adquiriam aquele seu número pessoal, por esse motivo deixava o som ligado sem medo algum.

E ele tocou, em um número desconhecido.

Não demorou, pediu licença para atender e justificou que estava a espera de uma resposta, por isso precisaria se ausentar por alguns minutos.

— Alô? — Foi automático, o celular chamou, só fez apertar o botão verde e levá-lo para perto do ouvido.

— Alô? Estou falando com a senhorita Dalila Lumanda? — Perguntou do outro lado uma voz feminina quase que robotizada, de quem fazia aquilo o dia inteiro e estava acostumada.

— Sim, quem fala? — Fechou a porta da sala, querendo mais privacidade, aproveitou que estava sozinha no corredor.

— Eu me chamo Rebecca, sou recepcionista do Hospital Público Santa Maria e ligo para falar a respeito de Maria Elizabeth Jatobá. A senhora a conhece? — Ao listar o nome completo da sua companheira, a pontada no coração lhe acertou em cheio, a ponto de ela precisar levar a mão ao peito para tentar se acalmar. Se recostou na parede e apertou os olhos com força, temendo o que viria pela frente.

— Sim, conheço. É a minha esposa. — Mentiu a relação das duas porque caso fosse necessário um responsável, poderia tomar decisões no lugar da outra. — O que aconteceu?

— Bom... A paciente Maria Elizabeth Jatobá deu entrada no hospital durante essa tarde com algumas lesões após sofrer um grave acidente veicular, o veículo que a transportava colidiu com um outro de grande porte. Procuramos alguém que pudesse se responsabilizar e achamos o seu contato listado como de emergência nos pertences da vítima. Precisamos que a senhora compareça aqui para que possamos falar mais detalhadamente sobre o estado de saúde da paciente. Seria possível? — Esperou pacientemente uma resposta.

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora