Sentada bem no cantinho do sofá, abraçava seus joelhos e tentava focar sua atenção na televisão ligada em som ambiente que só estava ali para lhe dar uma sensação de ter mais alguém em casa.
Lidar com sua solidão estava sendo tão difícil e dolorido que por vezes era complicado não deixar pairar pensamentos ruins em sua cabeça.
O som da porta da entrada foi audível, o rangido que indicava que ela já estava um pouco gasta. Por seguinte ela entrou, parecia vim da rua, dos seus afazeres, aparentava estar até um pouco cansada pelo jeito que se espreguiçou e resmungou de alguma dor nas costas.
Os tais olhos de mar de Elizabeth mesmo que tristonhos pararam na mulher alta e a admiraram. Ela tinha um sorriso de canto confortável, típico seu, meio descarado e sincero como quem perguntava "Sentiu saudades?".
— Você veio. — Expressou em surpresa, suas sobrancelhas até se ergueram um pouco, mas ainda sim seguia em desânimo.
— É claro que sim. — Respondeu andando pela casa até se sentar na outra ponta do sofá, soltando um suspiro de cansaço ou de alívio. — Você não queria me ver?
— Eu... — Disse de uma maneira negativa, falando por si, negando o "questionamento".
Recebeu rapidamente um riso bem breve. Não foi deboche, foi sabedoria. Reagia assim na maioria das vezes, não se irritava com não receber respostas óbvias. Se estava afirmando algo, era porque sabia sim que Elizabeth havia pensado nela, sabia que a loira se sentia só, que pedia por uma companhia qualquer que fosse, só para que não precisasse ficar encarando as paredes mortas do seu apartamento.
Dalila também compreendia o lugar da moça, que era realmente difícil para ela admitir que sentiu saudades. E estava tudo bem, todo mundo tem seu processo.
— É claro, você jamais admitiria. — Disse em calma, sem parecer ofendida com tal. — Mas não tem problema. — Deu de ombros. — Quem vinha hoje era a vó... — Soltou iniciando uma conversa.
— É mesmo? — Se surpreendeu recordando-se que fazia um bom tempo que não a via.
Seu primeiro contato com essa mulher foi quando também era pequena, havia sido transportada para a beira de uma praia onde havia uma senhora de pele retinta sentada ali. Ela tinha um terço na mão, usava um lenço na cabeça e um vestido simples em preto e branco. Era linda, com marcas da idade e com os olhos que começavam a se branquear.
Surgiu para salvá-la e literalmente salvá-la de certas idealizações que já começavam a ganhar espaço dentro da pequena mente da menina loira. Após uma noite difícil com a mãe, após vê-la chorar com tanta dor sem ter colo nenhum, a vovó surgiu e conseguiu acalmar a moça.
Desde então Elizabeth tinha um lugar reservado no seu coração, para ela. Apesar da fala simples e às vezes difícil de entender, a vovó sempre aparecia para conversar um pouquinho com ela quando notava as coisas começando a pesarem mais do que deveriam.
— Sei que você não a vê faz um tempo, mas ela acabou por me deixar vim. — Confessou disfarçadamente sentando um pouquinho mais perto. — Porque além de beijinhos, também sei dar colo. — Se aproximou um pouquinho mais. — O que aconteceu? — Preocupou-se com a falta de reação até mesmo para a implicância ou recusa. — O que posso fazer por ti, hoje? — Usou do questionamento constantemente dito por si.
— Você pode só continuar sentada aí. — Sugeriu após engolir em seco.
— Tudo bem. — Concordou obedecendo, mas ofereceu sua mão para a outra segurar e precisou ficar um tempo apenas com a palma amostra, esperando. — Mas por quê?
— Quero sentir que tenho alguém por mim. — Balbuciou em total depreciação. — Só uma pessoa, alguém. Achei que o outro poderia não me fazer nenhuma falta, até me ver com vínculos falsos no trabalho que não me causam nenhum tipo de prazer, até me ver sem nenhuma amizade na faculdade e agora de férias, sentada na sala olhando para as paredes e sentindo falta de ter uma simples conversa verdadeira com alguém. — Ergueu seus olhos tristonhos para a outra moça. — Sei que às vezes a gente só quer um tempo só, mas eu vivo tanto tempo só... Só queria um pouquinho de contato, sabe? Um afeto real e eu não tenho nem a quem pedir um abraço. — Respirou fundo mais uma vez.
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Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.
RomanceElizabeth desde a sua infância tem sonhos questionáveis com pessoas específicas a quem não conhece, mas a medida em que foi crescendo, receber a visita de uma determinada moça por meio dos seus devaneios tornou-se bem mais frequente. Como não podia...