Esteja pronta para a realidade.

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Ogum, meu pai, é de ronda
Ogum, é guerreiro de umbanda
Seu Ogum de Ronda
É quem vem girar
E vem trazendo folhas
Para descarregar...

Tudo muito embaçado em suas vistas, ainda mais a claridade que lhe dava tanta agonia que se equiparava a uma dor de cabeça.

Havia fumaça e o som de um chocalho, ele balançava devagar, em um ritmo lento enquanto uma cantiga era murmurada baixinho.

— Ela está acordando. — Foi sussurrado baixinho por uma voz bem conhecida.

— Eu não disse? — Outra voz, de tom mais maduro, respondeu, no mesmo volume. — É só falar no pai dela... Essa menina é uma protegida.

Os olhos arregalaram, como quem acabava de sair de um pesadelo, de um sono paralisante, de algo que lhe impedia de abrir as pálpebras. E elas se abriram, com toda força.

— Ela tem um Ogum firme, não? — Riu a outra de voz inconfundível. — É só chamar que ele logo aparece.

— Espero que ela seja grata a tamanha proteção. Na rapidez em que ele se apresenta... Isso é para poucos. — Informou seriamente.

Ainda zonza, a moça ergueu as mãos até os olhos, olhando-as tremendo. Se viu vestida em uma roupa branca, percebeu que estava deitada em uma esteira de palha e tentou se sentar, em um solavanco. A pancada veio, do seu próprio corpo, que não tinha tanta energia pra reagir tão rápido como ela queria.

Então Beth tentou novamente, sentando-se devagar e conseguindo se situar. Estava num lugar simples, onde todas as suas paredes eram brancas e o chão de cera azul. Tinha velas ligadas, um defumador, uma senhorinha de pele retinta estava sentada num banquinho e um pouco mais distante dela, no chão, estava ela, Lumanda, com uma mão cheia de ervas e entre todas havia uma folha da tão conhecida espada de Ogum.

— Acordou, Zifia. Seja bem-vinda de volta a vida. — Declarou em um tom feliz e até ergueu seu rosto para ela.

— Vovó! A sua benção. — Beth se surpreendeu justamente porque nunca mais tinha visto aquela sua fiel companheira de sonhos aconselhados.

— Que o Deus maior te proteja, minha filha. — Abençoou sem titubear, parecia que já fazia isso há muito tempo.

— E você? — Direcionou-se a Lumanda, um tanto envergonhada, sem jeito. — O que faz aqui? Nunca mais a vi.

— Nunca mais me viu, olha que mentira... Está dormindo ao meu lado nesse exato momento, abraçada ao meu corpo. — Informou, mostrando que não tinha só noção daquilo que acontecia naquele espaço, mas também da realidade.

— Você sempre me confunde tanto. — Resmungou a loira em chateação e ouviu uma risada breve das duas. — O que estou fazendo aqui? Por que vocês visitam meus sonhos? O que está acontecendo? O que estavam fazendo?

— Não seja afobada, menina. — A vovó retinta colocou um freio nos questionamentos.

— Sabia que esse seu desespero é o que atrapalha, muitas das vezes, que chegue a conclusões e as próprias respostas sozinha? — Lumanda pontuou seriamente, reflexiva. — Você estava precisando de uma limpeza e nós viemos providenciar isso.

— Por que não apareceu mais pra mim? — Perguntou meio sentida, ainda confusa.

— Porque você não precisa de mim, já me tem em realidade. Eu e ela somos a mesma coisa, a mesma pessoa. — Explicou cuidadosamente para ela. — Eu te avisei que não me veria com tanta frequência, só não disse que continuaria em outro plano.

— E quem é você? De verdade? — Questionou querendo se situar.

— Me chamo Nananwale Osungbami Ososilore, que diante a tradução significa "Nanã veio para casa", "Oxum me salvou" e "Oxóssi tem bondade". É o meu real nome, que as forças da natureza me deram, no qual eu sou conhecida aqui. — Deixou a moça ainda mais perdida e riu brevemente da confusão. — Eu sou a total consciência de Dalila Lumanda de Nanã e Oxum com Oxóssi. Expandida, sem as amarras da materialidade do mundo que vocês vivem e que, obrigatoriamente, as fazem esquecer dos seus conhecimentos quando se encarnam para uma nova vida.

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora