Vitrine.

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Ao sair do quarto após ter se percebido sozinha novamente, reparou na mulher mais velha que estava quieta em frente a pia, picando algumas coisas de maneira muito ágil. Elizabeth notou que ela realmente não iria lhe acordar na mesma hora em que costuma, por isso decidiu que colocaria um despertador no seu celular para que pudesse de fato acompanhá-la.

Andou na ponta dos pés até ela, em silêncio, notando que ela estava bastante distraída no que fazia. Colocou as mãos para trás, ainda chegou a repensar se tinha aquela intimidade toda, mas mesmo assim o fez, sem se importar com as consequências. Posicionou-se atrás dela, com seu corpo quase colado no da mulher e enfim deixou sua boca próxima ao ouvido dela.

— Bom dia, Lila. — Sussurrou bem baixinho e começou a rir quando a moça paralisou por completo.

Ela já estava vestida com roupas normais então significava que já não estava mais de preceito, o que dava Elizabeth a oportunidade de ter a ousadia de se aproximar. Não foi nem preciso de reação, Dalila até fingiu que não, mas era óbvio o seu panic pela falta de movimentação. Parou imediatamente o que fazia e não se movia porque a mente ainda estava tentando processar a animação.

— Ué? — Franziu o cenho, analisando bem o rosto dela de perfil, como podia naquela posição. Espalmou suas mãos no balcão, não permitindo que ela saísse dali. — Estava chorando? — Preocupou-se ao notar os olhos meio avermelhados e decidiu desistir daquele contato maior, ficando imediatamente ao lado dela, para que pudesse analisá-la com mais propriedade. — Aconteceu alguma coisa? — O coração apertou assim que ela olhou para si, realmente com um rosto que sinalizava um pós choro, ela ainda fungava, significava que havia parado há pouco tempo.

— Bom dia, doçura. — Disse meio tremula, mas ainda tentou ser dócil. A preocupação da outra ativou novamente suas glândulas lacrimais e precisou levar um tempo segurando o choro para que conseguisse verbalizar. Beth esperou pacientemente. — Tive terapia online hoje e falamos sobre assuntos não tão fáceis, eu como a bela chorona que sou, honrei meu papel. — Sorriu abertamente e em seguida respirou fundo. — Está tudo bem.

— Está mesmo? — Cruzou os braços. Sentia que quando tratava-se de assuntos íntimos ou da sua vida pessoal, Dalila ficava bem mais arredia e misteriosa, talvez lhe causasse um certo incômodo porque nutria o desejo de realmente conhecê-la, mas ela não dava muita abertura para tal.

— Sim. — Concordou em um suspiro cansado e dolorido. Realmente até estava tudo bem na sua vida, mas voltar em suas feridas para tratá-las era o que doía, por esse motivo ficava mais reservada. — Preparei o café, estava esperando você acordar. — Guardou os temperos que cortava em um pote pequeno e depois sentou à mesa. — Vem comer.

— Ultimamente você tem me ganhado pela barriga, mas eu não gosto de estar aqui e não contribuir com nada, sério mesmo. A louça vai ser minha. — Declarou sentando em frente a ela, esperando que a moça terminasse de descobrir tudo o que havia colocado ali.

— Pode deixar que eu lavo. — A respondeu negando com a cabeça. — Quero que realmente descanse nesses tempos, durma o tempo necessário, acorde tarde e não faça nada de obrigação. — Sua intenção era realmente lhe entregar um período para que descansasse de tudo.

— Você sabe que irei ignorar tudo o que me disse agora e quando terminar meu café, irei me levantar e lavarei a louça inteira independente da sua resposta, não é? — A encarou levantando suas sobrancelhas, completamente debochada e recebeu a mesma expressão de volta.

— Que rebelde você. — Observou, tentando disfarçar o quanto que tinha gostado daquela ousadia.

— Ah, você não viu nada. — Garantiu cheia de si, se sentindo desejada por um mísero minuto que lhe encheu o ego.

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora