Bebe uma comigo?

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O dia estava sendo tão estressante para mim e eu tenho certeza que era por causa da expectativa que havia depositado nele.

Depois daquela conversa com Dalila, pensar em vê-la novamente me deixa em pânico porque obviamente meu surto de coragem passou e agora não sei onde enfio a minha cara. Além disso, eu também só queria ficar bonita para impactá-la.

Demorei mais do que devia no trabalho porque parece que advinharam que eu tinha compromisso e só me liberaram mais tarde, ainda precisei gastar tempo para ir atrás do prato que havia me comprometido a levar para complementar a mesa. Isso consequentemente gastou o tempo que eu tinha para me arrumar melhor, ainda sim, optei por me atrasar do que ir bagunçada.

Tomei meu banho em paz, arrumei meus cabelos como nunca havia feito e confesso que até achei que meus cachos haviam colaborado comigo. Passei minha roupa, coloquei até um salto alto e pintei meus lábios com uma cor que contrastavam com o azul dos meus olhos.

Cheguei lá, chequei minha aparência jurando que ela estaria presente e a primeira decepção foi que Lila não tinha dado nem sinal de vida. A segunda foi que minha única companhia, Lumbiá, também não iria aparecer.

Até tentei me enturmar, mas assim que vi uma cadeira livre, me sentei e fiquei quieta mexendo no celular, rindo vez ou outra do pessoal da minha sala que já começava a se embriagar. Eles tentavam me puxar, me fazer dançar, mas segui sentada no meu canto.

Quando comecei a considerar ir embora para dormir, afinal trabalharia no dia seguinte, Dalila chegou surpreendendo a todos e a mim. Eu havia me convencido de que a professora não iria comparecer, fui pela cabeça dos colegas que afirmavam com total certeza que ela não gostava de estar nesses tipos de lugares ou de comparecer a esses tipos de festa, não fazia o feitio dela.

Tentei não parecer tão animada, nem ao menos levantei para cumprimentá-la, deixei que o alvoroço se acumulasse a sua volta e decidi que era melhor ir depois, em privacidade. Me mantive de escanteio, atenta a tudo e pareci passar despercebida por ela, que se dirigiu aos colegas de trabalho e por ali ficou por um bom tempo conversando.

Meus olhos seguiram acompanhando-a caminhar até o bar enquanto guardava o celular no bolso e me surpreendeu quando abraçou por trás uma mulher que estava ali esperando a bebida, a tal moça fazia parte das pessoas da administração, eram colegas de trabalho também.

Senti uma pontada imensa de incômodo porque se ela tinha liberdade para agir assim, sendo naturalmente tão reservada, muita intimidade tinham. Tentei não expressar minha seriedade pela face, o problema é que eu era expressiva demais. Tinha que controlar o mal humor repentino porque havia uma colega, que por acaso eu nunca tinha falado na vida, tagarelando sobre o comportamento alheio dos nossos outros colegas... Isso estava me irritando até, sei que a situação de Dalila potencializava tudo, portanto, ela não tinha nada a ver com o que acontecia e não era justo descontar nela tamanho mal humor.

A professora até saiu de trás da outra mulher, mas se posicionou ao lado dela, seguindo a continuar com a mão na cintura e a sua colega de trabalho não parecia se incomodar com tamanho contato físico. Me remexi na cadeira lutando bravamente para não ficar encarando as duas, mas era uma batalha tão difícil.

E tornou-se pior, eu podia jurar que estavam flertando tão descaradamente. O jeito em que Dalila a olhava e fazia carinho nela me causou tanto ciúmes que eu até briguei comigo, nós não tínhamos nada e eu não deveria agir dessa maneira. Caso ela quisesse ficar com a mulher nessa noite, eu não tinha nada a ver com isso porque, no final das contas, as expectativas eram somente minhas... Bem como, a minha paixonite extrema.

Achando que não podia piorar, a tal mulher ainda fazia Dalila rir. E rir alto por sinal. Na boa, pessoal, eu era quase igual o Phil Dunphy de Morden Family:"Você pode beijar minha esposa, levá-la para cama, mas não fazê-la rir".

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora