— Hoje é domingo, dia de quem? Nanã Buruquê. — Começou informativa assim que o vídeo iniciou a reprodução.
— Tá. — Beth semicerrou os olhos sem entender muito bem o intuito.
— Você sabe quem é Nanã? Não sabe? Pois eu vou te apresentar por meio de duas histórias. — Ela arrumou pano de cabeça e colocou a mão em suas guias roxas com lilás. Estava belíssima como sempre e esbanjava um brilho que era tão seu. — Quando Olorum, O Deus maior, encarregou Oxalá, o pai de todos, a fazer os seres humanos, ele tentou de tudo. Tentou fazer os seres humanos de fogo, de madeira, de pedra, de ar e até de azeite, água e vinho de palma, nada deu certo. E foi então que Nanã apareceu em seu socorrro, cedendo do seu barro e lama para que Oxalá pudesse então modelar os seres humanos. Assim foi feito, deu tudo certo e nós, por fim, povoamos a Terra. Mas, com uma condição, tudo que fosse dela, voltaria ao seu devido lugar. — Explicava com a voz mansa e terna, assim conseguiu atrair total atenção de Elizabeth que até desligou a boca do fogão e se sentou, prestando atenção. — É por isso que quando morremos, voltamos a Terra. Porque do barro nós viemos e para o barro nós voltaremos.
— Faz sentido. — Respondeu pensativa olhando a mulher sorridente.
— Certa vez, Ogum, o deus do ferro e da tecnologia, precisava ir a mata. Só que no meio do caminho havia um lamaçal imenso no qual ele teria que atravessar e assim Ogum seguiu, afobado, entrando naquela lama e querendo sair o mais rápido possível, começou a se desesperar quando notou que estava se afundando cada vez mais. — Contava aquilo como se fosse uma fofoca, mudando até o tom de voz e seguia atraindo a atenção de Elizabeth. — Então identificou uma senhora idosa que observava tudo, quieta. Ogum começou a pedir por ajuda e ela o questionou quem era ele. Ele cheio de si disse que era Ogum, o Ogum, deus do ferro. — Seguia a gesticular com seus dedos cheios de anéis. — Ela perguntou se ele havia pedido licença a alguém antes de entrar naquelas terras e ele disse que não, então Nanã solicitou que pedisse licença para passar, aquela era sua casa, era uma questão de respeito. — Cruzou os braços. — Ogum negou e ela foi deixando a lama cada vez mais mole ir engolindo-o aos poucos. Ele berrou que era o senhor das lâminas e que ela iria passar fome caso não o liberasse, afinal, precisavam de lâminas para cortar a comida. Ela aceitou o desafio, disse que não precisava dele e nem dos utensílios forjados por ele. Por fim, vendo que ele realmente não iria pedir, ela o liberou e o deixou ir embora, mas voltando o caminho e fazendo com que ele arranjasse um outro lugar para passar, por causa da sua falta de respeito não atravessaria a sua casa. Ele foi embora e ela aboliu todo uso de lâminas feitas de ferro de dentro das suas terras.
— Hum. — Beth apoiou o celular na sua xícara de café cruzou os braços, parecia estar assistindo a um documentário de televisão.
— E agora, você já sabe um pouquinho sobre quem é Nanã? — Perguntou sorridente. — Nanã é conhecida como a senhora da morte, é aquela que toma conta do portal que controla a saída e entrada dos mortos. Nanã é uma anciã, a vovó dos orixás, está presente com você desde o seu nascimento, até a sua partida. É o lodo, é a lama, é o manguezal, é o barro, é a lagoa, é o pântano, é a água benta que corre nos rios... Nanã é sábia, é paciente, mas também é brava. Nanã é o amor maternal, o colo de vó, mas o puxão de orelha também. Nanã é o cuidado que a gente dá assim, de graça. — Falava com carinho sobre a senhora idosa. — Ela quem rege a linha das pretas velhas, guias espirituais, espíritos de mulheres idosas que foram escravizadas de verdade em vida, que viviam no cativeiro apanhando e sofrendo, mas conseguiram se refugiar em quilombos. Agora voltaram para auxiliar a nossa vida aqui na Terra. — Salientou e fez Elizabeth franzir o cenho lembrando do seu enevoado sonho e da tão querida "Vó", preta retinta, simples, que fala muito sobre o tão sofrido "tempo do cativeiro". — As cores da orixá Nanã são o roxo e o lilás e a sua saudação é "Saluba".
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Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.
RomanceElizabeth desde a sua infância tem sonhos questionáveis com pessoas específicas a quem não conhece, mas a medida em que foi crescendo, receber a visita de uma determinada moça por meio dos seus devaneios tornou-se bem mais frequente. Como não podia...