Rezo a cura.

105 12 1
                                    

Aviso de conteúdo extremamente sensível.

×

Tínhamos nos prolongado durante as conversas da madrugada e acabamos dormindo tarde, consequentemente acordamos tarde novamente. Notei uma diferença em minha vitalidade, que por sinal estava baixa, senti muito cansaço e algumas dores de cabeça, o que poderia ser comum depois de uma troca muito densa de energias, assim como havia sido com Joana. Eu havia pedido da minha em detrimento da dela, era de se esperar já que não havia sido um trabalho fácil.

Foi difícil de admitir e me deixar ser driblada, mas Elizabeth tomou a frente de tudo mesmo que eu não tenha verbalizado, ela simplesmente percebeu que eu estava pedindo arrego internamente e cuidou de mim. É muito bom sentir afeto assim.

Deixou que eu dormisse por mais tempo porque sabia que era bom para recarregar energias de uma maneira geral, me fez comer mesmo que eu não estivesse com fome, me entreteu durante todo esse tempo e ainda me preparou um chá, de bônus me ofereceu massagem, que eu poderia aceitar, se não tivesse de preceito ainda porque meu sexto sentido acusava que a demanda espiritual não tinha acabado.

Às vezes a gente ainda pensa em pedir arrego, mas eu não podia e nem devia fazer isso, afinal se um trabalho havia me destruído tanto era porque talvez meu espiritual não tivesse tão forte assim. Eu sou uma irmã mais velha ou um saco de batatas? Minha Iyá aguenta tanta coisa sozinha, precisava ter ao menos um terço da sua força. Não podia mentir, que era cansativo era. Fraqueza espiritual mexe com a cabeça e com o corpo de maneira geral, por debaixo do tapete, de maneira quase imperceptível e quando você nota, já não está nada bem.

— Posso lhe perguntar o porquê de você não ter aceitado minha solicitação para te seguir lá no Insta? — Sua voz veio dramática e até brincalhona, me fez sorrir.

Estavamos em um papo sobre fotos e vídeos, onde eu havia descoberto que Elizabeth os fazia muito bem e que inclusive estava realizando um documentário informal muito do bonito durante esses tempos. Tinha me pedido permissão para continuar, dizendo que só queria guardar de memória e que não ia postar em canto nenhum.

Ela era uma pérola, um diamante bruto, cheio de características que encantam. Beth tem o seu jeito tímido de se mostrar, faz tudo de uma maneira natural, o que dificulta que ela perceba o quão grandiosas são. Era brilhante, inteligente e muito talentosa.

Só nessa brincadeira de gravar momentos, saber editar vídeos, saber o jeito certo do enquadramento da câmera, de ter a desenvoltura para lidar com a mesma... Isso era grandioso, mas tão intuitivo que nem ela percebia seu potencial. Mas eu pesquei, pesquei aquelas partículas enquanto conversava com a lente no cantinho da casa, debruçada nas cercas, no meio da minha horta, envergonhada de eu pegá-la no flagra. Notei que Elizabeth tinha um desejo naquela área, que se divertia e que acima de tudo, era uma menina que brincava. Ela só estava brincando.

— Eu não vi, amor. — Respondi em tom de lamentação. — Aceite aí, pegue meu celular. — Apontei com a boca para o aparelho que estava apagado em cima da mesa.

Recebi um encarar um tanto inseguro, mas ela seguiu a minha ordem. De qualquer maneira aquele comportamento me fez estranhar, não compreendi porque havia ficado tão nervosa em mexer no meu celular.

— O que foi? — Franzi o cenho me deitando no sofá, meu corpo estava doendo, principalmente a minha lombar.

— Estranho. — Comentou chegando mais perto.

— O quê? — Ergui minha cabeça para ela, suas orbes estavam desconfiadas.

— É bizarro. — Confessou em um riso tímido. — Eu era tão podada antes que  não achei que pudesse ter essa liberdade com outro alguém. Não que eu esteja bisbilhotando seu celular, estou me procurando, olha... — Evidenciou a tela com a lista de solicitações para me seguir que eu sempre deixava sem responder. Eu esquecia, tinha preguiça, desinteresse ou seja lá como pudesse ser nomeado.

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora