Benditas fantasias.

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— Ei, gatinha. — Chamou como quem não queria nada e virou mais um gole diretamente do gargalo, sentindo o gosto da cerveja gelada. — Psiu. — Tentou outra vez, arrumando o cabelo com uma mão e atraiu a atenção da moça que desconfiou que era consigo. — Psiu. — Lançou um olhar por cima do seu óculos, algo bem típico seu, até que aquela loira a achasse.

Na mesma hora, toda aguniada enquanto mexia em sua bolsa, Elizabeth parou tudo o que fazia e com seus olhos claros passou a procurar atentamente.

Parou de imediato naquela que parecia um ímã e trazia agora todas as suas hipnoses em um estado bem mais bruto, tudo ficava fora de foco ao seu redor, aquela mulher conseguia atrair a atenção até de quem não queria. Com as pernas cruzadas, despojada em uma cadeira de madeira sozinha na mesa, um macacão leve no corpo com um decote em V que deixava bem amostra a sua tatuagem em meio aos seios, bonita e sensual. Os tons de roxo e preto realçavam sua pele que era preta, mas em um tom claro, os cabelos encaracolados e selvagens pareciam estar sendo assumidos em sua naturalidade, já que os fios brancos estavam em maioria por ali, mas não o tomavam por completo ainda.

Inúmeros pensamentos invadiram a mente da loira, a maioria todos em xigamentos porque o calor que lhe invadiu foi exatamente o mesmo que sentia na sala de aula quando ela chegava.

"Gata pra caralho" era repetido em sussurro todas as vezes, incluindo no tempo atual, precisou sair dos seus lábios mesmo que discretamente.

Disfarçou do impacto, é claro. Sorriu abertamente e acenou, mas com a erguida da mão dela e o dedinho indicador chamando para que se aproximasse, mexeu consigo. Beth logo se recompôs e obedeceu... Quem não obedeceria?

— Boa noite, moça. — Desejou levantando-se e relembrando Beth da sua altura, mesmo que fossem da mesta estatura. — Quanto tempo em? — A puxou para um abraço apertado e tão aconchegante, mas cheio de tensão.

Todos eles eram, desde a época da faculdade quando vez ou outra sentiam a necessidade, sozinhas em sala, em uma despedida rápida de aluno e professor que eram um tantinho mais íntimos porque tinham assuntos em comum. Elizabeth sempre travava, mas Dalila tinha manejo suficiente para apertá-la em seus braços e fazer com que aquele contato realmente fosse sentido.

— Não mudou quase nada, só a beleza que aumentou. — Fez questão de elogiar em sinceridade, sua aluna agora parecia mais madura. Parecia ter se encontrado, se vestia conforme era e isso ficava tão perceptível.

Era perceptível que Beth estava bem consigo, com sua personalidade e com seu interior, apenas de vê-la era fácil de tirar essa conclusão. Havia se tornado um mulherão, não que não fosse antes, mas quando nos enxergamos como realmente somos e sabemos valorizar nossos pontos fortes, o poder se potencializa.

Elizabeth exalava poder.

— Só posso dizer o mesmo de ti. — Ela devolveu em um bom humor, custando a soltá-la porque aproveitava a carícia da mão com anéis que descia e subia por suas costas, arranhando sua blusa social. — Boa noite, professora. — Sussurrou rente ao ouvido dela e ouviu um estalo de boca em negação.

— Ah, pare com isso. — Resmungou se afastando e bebendo mais um gole da sua cerveja. — Você sabe que pode parar de usar esse termo por agora.

— É o hábito. — Riu envergonhada.

— E como é que você tá, doçura? — Chamou pelo apelido que fazia a aluna se derreter por completo, seus olhos percorriam sem disfarces do rosto para o corpo de Beth, inúmeras vezes.

— Eu tô bem e a senhora? — Seguiu mantendo a educação com ela.

— Senhora não. — Fez uma expressão de desagrado. — Tudo bem que tô assumindo meus fios brancos, mas isso é mais genética, acredita que com vinte e dois eu já os tinha? Cansei de tingir. — Deu de ombros. — Já pintei de vermelho, já fiz mechas, luzes, já até raspei a cabeça, por que não assumir o branco?

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora