Dizendo te quero sem dizer.

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— E então, como se sente após a meditação? — Perguntou deitando-se em seu colchonete e olhando para as telhas vermelhas, respirava fundo porque gostava do cheiro de terra molhada, era perceptível.

— Ah, era pra eu estar sentindo alguma coisa? Acho que fiz errado então. — Devolvi o questionamento fazendo Dalila rir alto porque provavelmente a peguei de surpresa com a minha sinceridade.

Eu adorava ouvi-la porque ela tinha uma risada parecida com a de criança. Suas gargalhadas quando sinceras eram tão contagiantes igualmente quando se escuta a de um bebê, era um riso doce, inocente, que distoava de toda seriedade que ela tinha diariamente, era gostoso acompanhar, aquecia meu coração.

— Não é uma mágica, mas se feito de maneira correta ajuda sim a acalmar um pouco. Quando rotineiro, cientificamente, faz efeito em casos de ansiedade, depressão e em outros transtornos psicológicos. Além de também ser um bom centralizador e concectador com o mundo espiritual, quando intencionado a isso, a voz da intuição fala mais alto. Os seres espirituais poderão se conectar caso você esteja aberto e os chame para conversar. — A explicou calmamente me observando deitar ao seu lado. — É um bom passo para desacelerar, para quem quer se conectar consigo, serve de assentamento de pensamentos. Com ela, você passa a enxergar que às vezes nem tudo é tão urgente como a gente faz parecer, tem como deixar pra lá sim, por dez, quinze, vinte minutos ou pelo tempo em que você não pode resolver um problema. É um exercício, é difícil, mas faz muito bem. A mente vai tentar fazer de tudo pra te sabotar, vai fazer coçar o corpo, sentir vontade de abrir os olhos, te dar dor de cabeça, dor nas costas, nas pernas, é um grande exercício de persistência.

— Que legal, teve um momento que eu meio que entendi como funcionava. Parecia que não sentia nada do meu corpo e que eu flutuava, mas foi bem rápido, pouco tempo antes de acabar o meu tempo. — Senti vontade de confessar e recebi uma erguida de sobrancelhas.

— Legal, significa que você conseguiu chegar no estado de concentração muito rápido. Se já na sua primeira meditação foi assim... Acho que seria legal fazer mais vezes. — Recebi como uma sugestão e conselho, parecia que ela sabia bem o que vinha depois. Sabia que se questionasse, ela enrolaria e não revelaria sobre o que pensava.

☼✳☾

— Você está me saindo uma ótima aluna. — Elogiou ao ver que eu sempre me apresentava muito disposta a tudo o que propunha.

— Achava que eu era menos flexível, tô arrasando. — Comentei me achando enquanto arrumava a legging que vestia. Só que não me aguentei, precisei rir do comentário, a quem eu queria enganar? Aquela autoestima não era minha, só estava empolgada demais por participar.

— Tô gostando de ver. — Seguiu mantendo a minha autoestima alta enquanto se sentava. — Espero continuar assim. Vem, senta aqui. — Deu dois tapinhas indicando onde deveria ficar. — E de costas, por favor.

— Não acabou não? — Questionei surpresa e deixei óbvio o meu desagrado, se soubesse que não tinhamos terminado, não teria cantado vitória. Agora não podia mais passar por nenhuma vergonha ou seria vista como fracote.

— Está com medo, é? — Era quase como um desafio e eu me senti severamente ofendida. Aguentava kilos de cimento nas costas, não aguentaria uma esticada no corpo? Não sou de arregar fácil.

— Estou. — Confessei, mas não era contraditória a minha postura. Admitir que tinha medo de algo não significava desistir de fazer esse algo. Usei do humor para disfarçar meu nervosismo diante a ela, por estar perto dela. O beijo que tinha recebido no ombro durante a manhã, já tinha sido informação demais.

Não que eu esteja reclamando, ela pode me mandar informações o quanto quiser hoje, mas isso não significa que não irei ficar nervosa. Ela me deixava nervosa por qualquer coisa. É assim, eu acho, quando se gosta de alguém. Esses dias não estavam sendo fáceis.

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora