De volta em casa.

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O caminho da volta foi mais silencioso que o da ida, porém mais regado de carinho. Vez ou outra a mão pálida de Elizabeth repousava na coxa da outra e fazia uma carícia com o polegar, recebia por um milésimo um olhar de afeto que era quase como um compartilhamento de uma dor em comum, quase como uma troca de "eu sei o que você está sentindo agora, também sinto o mesmo", em seguida um longo suspiro de ambas as partes.

A despedida foi silenciosa, sem afirmações de algo, sem declarações, sem muitas palavras porque a dor estava mais latente do que o normal. Aconteceu de um beijinho na bochecha, do beijinho na bochecha percorreu para a ponte do nariz, do nariz virou selinho que até lutou para se transformar em um beijo, mas não virou.

De cá, Elizabeth tinha agonia dentro do peito e a falta de tempo, logo tudo se transformou em estresse por causa da alta demanda do trabalho, mas ainda sim não tirava do pensamento os dias em calma que teria passado. De lá Dalila incomunicável, viajando até outra cidade para dar aula e logo em seguida retornar, mesmo sem sinal, checava o celular querendo ver uma foto, uma mensagem, um áudio, qualquer coisa.

Nada.

A hora de dormir foi estranha, deitar na cama e procurar uma a outra, se cobrir e por fim se contentar com o vazio. O cansaço diário venceu, o sono acabou por chegar, mas o acordar também era agustiante ao tatear a cama e ter só o espaço gelado. Nada de beijinhos, nada de cheiro de café, nada de calor humano, nada de cantos, nada de olhos de mar ou cor de mel e tudo, nada do cheiro de creme de pentear, nada de roçar dos narizes. Pra quem tinha tudo, não ter nada de uma hora para outra, deixava uma lacuna imensa interna.

As ocupações tomaram a mente, indo embora na hora da aula o que deu espaço para a ansiedade. Era aula dela, iriam se ver.

Ela entrou diferente na sala, sem o sorriso costumeiro. Parecia incomodada, séria, talvez estressada. Estava alheia, tanto é que nem perdeu tempo em reclamar dos sons de cochicho, só queria cumprir o planejado e ir embora.

Percebia os olhos de mar em si, era mais difícil ainda manter a postura perto dos braços que lhe acolheram nos últimos dias, a quem se demonstrou confortável e a quem podia chorar, se encostar e resmungar sobre o que sentia.

Se manteve distante, passou a atividade final e deu graças aos céus por poder se sentar, estava zonza. A aula acabou, respirou em alívio quando checou o relógio no horário do intervalo onde todos saiam da sala.

Como de costume, todos saíram menos uma, que seguiu com seu olhar de adivinhação, o cenho franzido e uma expressão de quem gostaria de questionar. Dalila até perguntaria algo, se tivesse forças para tal.

— Está tudo bem, professora? — Não conseguiu segurar, notando ela um tanto desnorteada.

— Uhum. — Assentiu brevemente, até porque não conseguia mover muito a cabeça. Porém o gesto tornou a situação ainda pior, passou a observar tudo girando e o corpo começou a arrepiar enquanto respirava fundo, buscando força para se manter ali.

— Dalila? — Perguntou de longe, observando a moça se debruçar por cima da mesa enquanto sua mão tremia.

Não obteve resposta, por esse motivo levantou em um rompante, preocupada, ouvindo a respiração profunda. Seu coração acelerou tanto quanto os passos que deu para se aproximar.

— Dalila, pelo amor de Deus. — A viu só movimentar as orbes para a encarar, estava pálida e tinha gotículas de suor escorrendo pela lateral do seu rosto. Tinha expressão de desagrado e de dor. — Amor, não me assuste assim. — Repousou sua mão nas costas dela e a sentiu gelada.

— Já vai passar. — Garantiu baixinho e escondeu o rosto, ainda tremendo.

— É a cólica, não é? Você já tomou remédio? — Questionou em atenção, erguendo o rosto dela com as mãos, mal tinha firmeza porque tremia ao observar que ela estava fraca.

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora