Tão perto e tão longe.

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As aulas voltaram e as férias novamente também. Todo o espaço de tempo havia sido estressante para a menina loira que estava decidida a tomar alguma atitude com relação ao que vivia, mas sentiu que sua chance havia se esvaído.

Havia ganhado mais responsabilidades dentro da empresa e isso estava fazendo a moça entrar quase em colapso, cumprir sua função e ainda realizar a do outro era bastante complicado. E o que fazer para acabar isso? Se enchia cada vez mais de ódio pela instituição que trabalhava e aceitou o seu lado rebelde. Não podia largar seu emprego, mas dentro de si certas mudanças iam acontecendo.

Uma Elizabeth com maior sede de conhecimento e mais voz ia ganhando espaço. Começou a revoltar-se e aceitar que gostava de expor sua opinião, que gostava de se pronunciar, que gostava de ser desafiada.

Ainda que fosse uma profissional explorada que não pudesse falar nada contra a empresa que trabalhava, algo maior ia se construindo para que um dia conseguisse expor tudo o que pensava.

Tinha lá seus altos e baixos, havia dias que estava esgotada e aprendeu também a aceitá-los, aos poucos começou a fazer as pazes consigo sem nem saber. Há momentos e momentos, todos eles fazem parte da nossa vida, ignorar um lado seu era se recusar a ver a verdade.

Usou das armas que tinha para a faculdade e os estudos, ia com gosto as aulas, participava dos debates, lia textos e livros sempre que podia, às vezes precisando abdicar um pouco do seu sono ou do tempo de alimentação, mesmo assim tentava dar o seu máximo.

E então do seu jeito conseguiu, sem ter tanta intenção, que os olhos de Dalila parassem em si por um tempo.

Uma noite na hora da saída ia mais a frente até a portaria e sentia por instinto olhos parados em seu corpo, virou-se em curiosidade e era ela, cheia de papéis na mão e uma bolsa nas costas, sorriu dócilmente.

— Estava mesmo querendo falar com você. — A professora pronunciou-se fazendo a aluna esperar.

— Sim? — Tentou parecer calma, mas apertou as alsas da sua mochila.

— Queria falar sobre a sua genialidade, moça. — Admitiu causando um sorriso sem graça em Elizabeth. — Que mente brilhante a sua, que escrita. — Seguiu elogiando-a e achando o comportamento dela adorável. — Quanto mais eu lia seu texto, mais eu queria ler. Essa onda de revolta contra instituições, brilhante... Foi por isso que deixei a sua correção em branco.

— Achei que tinha ido muito mal, o de todo mundo estava escrito. — A fez rir. — Até escondi o meu trabalho.

— É porque eu precisava falar sobre isso pessoalmente. — Seguiu andando lado a lado com ela. — Não fique pressionada ou nervosa, mas sinceramente estou ansiosa para as suas próximas produções. — Procurou as chaves do seu carro. — Penso em seguir deixando os temas livres, quero ver até onde vai.

— Eu apoio, deixar com que nós escolhessemos o que queremos relacionar com os assuntos que dá em aula estimula a nossa criatividade. — Cruzou os braços, querendo esconder as mãos que tremiam e se sentiu orgulhosa não somente pelo trabalho, mas também por estar conseguindo falar sem gaguejar.

— É isso. — Assentiu. — Queria exatamente que vocês fossem acima de tudo, críticos. Você foi brilhante, Elizabeth, exerceu isso com uma maestria tamanha. Meus parabéns. — Pousou uma mão no ombro da moça e apertou.

— Obrigada, é muito bom saber que agradei. — Agradeceu sem graça ao sentir suas bochechas começando a esquentar.

— Continue assim. — Prosseguiu desativando o alarme do carro. — Bom... Ficamos por aqui. — Avisou observando a moça dar um passo para trás, dando mais espaço para ela. — Você tem com quem ir? — Olhou ao redor, estava tudo muito vazio para que uma mulher ficasse sozinha nas ruas. — Quer carona?

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora