Ossos do ofício.

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Meu corpo foi abraçado por traz e eu pausei a música nesse exato momento porque precisava curtir o contato, Beth tinha um envolver único, apertado com os dois braços enquanto distribuia seus beijos na extensão do meu pescoço e lateral do rosto. Foi impossível não sorrir.

— Bom dia, minha pretinha. — Surgiu sussurrado em meu ouvido e eu tive vontade de me jogar em seus braços, deixando que ela me sustentasse a partir dali... Mas só respondi.

— Bom dia, meu amor. Tudo bem com você? — Fui doce igual, expondo o pescoço para que ela prosseguisse nos carinhos.

— Tudo sim e com você? — Seguiu apertando o abraço e me trazendo conforto.

— Tem certeza? Tá tudo bem mesmo? — Retornei na pergunta porque sabia que a nossa conversa antes de dormir havia ecoado por mais tempo em sua cabeça.

— Tudo bem mesmo. — Concordou dando um beijo estalado em minha bochecha. — Vou te ajudar hoje aqui. 

— Não há muito o que fazer, nem adianta. — Informei rindo com sua expressão de decepção. 

— A louça e minha então. — Resmungou cruzando os braços. 

— Que louça? Louça é o trabalho que você tem que escrever e tá só enrolando, tá pensando que eu não sei? — Acusei e a vi tapar o rosto com as duas mãos, pega no flagra. Senti o celular vibrando no bolso e logo apanhei, verificando quem era. — Peraí que a mulher tá ligando. — Era um pedido de silêncio e ela concordou, assentindo. — A benção, iyá. — Pedi de pronto colocando o celular no viva voz.

— A mãe abençoe, filha. — Me respondeu em calma. — Galo já cantou, viu? Que voz de sono é essa? — Me fez gargalhar por entender que ela estava dizendo que já era tarde para eu estar acordando naquela hora. Eu já conhecia aquele deboche. — Ori já ouviu sua voz hoje?

— Já acordei tem tempo, a voz rouca foi o maço de cigarro que consumi pra acalmar. — Brinquei porque é óbvio que não ia dizer o real motivo da minha rouquidão.

— Você não tá nem louca. — Me fez gargalhar outra vez. — Tô ligando pra saber se entregou o que pedi, passarinho me contou que Oxum desceu lá...

— Entreguei, iyá. — Garanti e senti a necessidade de me explicar por minha santa ter passado na frente em uma casa de axé que não era a minha. — Oxóssi quem chamou, eu não estava nem pronta.

— E como foi? Tudo tranquilo? — Tentou me sondar.

— Foi sim, a senhora não já sabe? Cuidaram dela com todo carinho e respeito, e eu também já estava de preceito. — Puxei a cadeira para me sentar, observando Beth coando o café.

— Pois tá bom, qualquer coisa a mãe tá aqui. — Informou a fim de mostrar presença, mesmo a distância. — Já tá pensando no Olubajé?

— Tô sim, depois te mando mensagem, queria chamar uma pessoa específica... — Confessei pensativa.

— É a menina da rua, não é? — Deduziu certeira. — Teve por aqui esses dias, tava com o corpo todo pipocado de ferida e disse que foi as plantas que ela estava capinando numa roça.

— Não acredito, meu Deus. — Coloquei a mão na testa, o coração acelerou em preocupação. — Mainha cuidou dela, não foi?

— E eu lá nego cuidado a ninguém, Lumanda. — Respondeu, dando a entender que era pra eu acalmar. Ela sabia a consideração que eu tinha por Attena, muito já tinha me ouvido falar sobre. — Queria dizer nada não, mas essa menina tá é precisando de um jogo, consigo até dizer o nome do orixá...

— E por quê a senhora não faz? — Arqueei uma sobrancelha. — Se eu não posso fazer.

— Vamos ver... — Soltou muito sorrateira para o meu gosto.

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora