Apesar de querer.

113 11 2
                                    

E pelo visto, a era de se esconder havia se encerrado para ambas em um acordo que não tivera sido implícito ou feito de verdade. Ele foi interno e individual, servindo para benefiar o conjunto.

— Beth, juro que se eu ver um sapo no meio dessa trilha, eu pulo em suas costas e você vai ter que me carregar até o topo do monte assim. — Expressou sua aflição quando adentraram a mata com um caminho de terra úmida porque havia chovido não fazia muito tempo.

— Você me surpreende, Dalila. Não achei que poderia ter medo de bicho. — Caía na gargalhada toda vez que a mulher precisava ficar na ponta dos pés para pisar nas partes de alta folhagem, por puro medo. — Tão amiga da natureza.

— E sou. — Apertou as alças da mochila que carregava e assentiu freneticamente com a cabeça. — Mas tenho o pavor de bicho assim... E o pior, rãs e sapos são fundamentos de Nanã, afinal eles vivem em lugares úmidos, em pântanos, lagoas. A cobra é um bicho de Oxumarê e Iyewá que são filhos dela, então não posso nem me desentender, mas eu sou capaz de desmaiar se algum tocar em mim. — Seguia focada no chão e abaixou-se por um tempo para pedir licença ao seu pai Oxóssi, o dono das matas.

— E como você lida com eles em casa? Estando sozinha naquele terreno? — Segurava o riso todas vezes que Dalila arregalava os olhos ao pisar em algo diferente.

— Por incrível que pareça, nunca apareceu nenhum lá. — Comentou seguindo adiante. — Minha erê que adora, me faz pegar eles na mão, bota eles no colo.

— E você não sente? — Pendeu a cabeça para o lado, sem entender.

— Não, acho que na verdade ela me priva disso, da sensação de estar tocando, apesar de ser uma pestinha. Eles tem controle disso, Maria Mulambo normalmente acende uma vela e a coloca presa no corset ombro a omrbo em cima do meu peito, onde fica meu coração. A chama toca na minha pele, mas não me queima e não sinto dor, porque ela não deixa. — Observou o queixo de Elizabeth cair e riu em diversão. — Juro pra você, mas acho que não tem foto dela fazendo isso porque ela odeia o tal do "fofocador".

— O celular, né? Ela pediu pra eu parar de dar atenção a ele da última vez. — Recordou-se olhando a companheira bem mais na frente, mas do nada ela voltou, com o cenho franzido.

— Eu estava pensando... — Iniciou meio alheia.

— Hum? — Permitiu que ela continuasse.

— Sou uma mulher desinibida, falo tudo explicitamente independente do assunto. Só que, confesso, você ainda não tem acesso a mim, completamente. Talvez porque eu esteja muito apegada a ideia de que sou sua professora. — Foi desenvolvendo seu pensamento tocando exatamente nos pontos em que a aluna também pretendia puxar algum assunto em algum momento. — Não falo determinadas coisas e não expresso determinados comportamentos porque sei que eles podem gerar expectativas, então na maior parte das vezes deixo que minha confusão seja interna para não te contaminar com nada.

— Comecei a compreender, mas agora não sei mais. — Foi sincera, parando para amarrar seu cadarço. — Me contaminar? Como assim?

— Evito falar sobre certos assuntos porque ainda estou em confusão e ela na maioria das vezes me domina. Falar as coisas que tenho vontade, muito provavelmente iria te enfiar dentro dessa confusão e talvez até gerar uma culpa na qual você não tem. — Reformulou suas frases para que sua mensagem fosse melhor compreendida. — Acontece que tô me acertando, apesar de alguns pontos pesarem, queria propor algo.

— Sim? — Se sentiu um tanto instigada, caminhando lado a lado com ela.

— Que sejamos completamente verdadeiras, assim, de falar ou fazer mesmo, ao menos enquanto estivermos nesse monte. — Propôs esperançosa. — Eu não preciso disso, mas tô usando de pretexto para comunicá-la sobre a mudança, para não te assustar ou só pra firmar que você tá tanto nessa quanto eu... — Olhou para o rosto dela de perfil por um tempo. O nariz pontudo e os cílios loiros curvados eram uma gracinha.

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora