Capítulo 5

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JIMIN

Quando chego ao carro, não caio no choro como achei que cairia. Fico só olhando pela janela.

A neve se acumula no para-brisa, me escondendo aqui dentro. O vento lá fora é caótico, apanhando os flocos de neve e fazendo-os girar no ar, me encobrindo por completo. Cada floco que cai no vidro complementa a barreira entre a dura realidade e o meu carro.

Não consigo acreditar que Jungkook apareceu no apartamento enquanto eu estava lá. Estava torcendo para não encontrá-lo. Mas ajudou um pouco, não para aliviar a dor, mas a situação como um todo.

Pelo menos agora posso tentar tocar a vida a partir desse desastre. Quero acreditar que ele me ama, mas isso tudo aconteceu justamente porque confiei em Jungkook.

Ele pode estar dizendo isso só porque sabe que não tem mais controle sobre mim. E, mesmo que seja verdade, que diferença faz? Não muda nada o que ele fez, não apaga as piadas, o fato de ter se gabado das coisas que vivemos, e muito menos as mentiras.

Queria ser capaz de bancar o apartamento sozinho, bem que eu ia gostar de ficar e fazer Jungkook ir embora.

Não quero voltar para o alojamento e ter que dividir o quarto com alguém… não quero voltar para os chuveiros comunitários.

Por que tudo tinha que ter começado com uma mentira? Se tivéssemos nos conhecido de outro jeito, poderíamos estar dentro daquele apartamento agora, rindo no sofá ou dando beijos no quarto. Em vez disso, estou sozinho no meu carro, sem ter para onde ir.

Quando enfim ligo o motor, minhas mãos estão congeladas. Não dava para ter ficado sem casa no verão, pelo menos?

Me sinto uma Catherine de novo, só que dessa vez não é a Catherine de O morro dos ventos uivantes, e sim a de A Abadia de Northanger: atordoado e forçado a fazer uma longa viagem sozinho.

Tudo bem, não estou fazendo uma viagem de mais de cem quilômetros de Northanger depois de ser dispensado e humilhado, mas entendo sua dor.

Não sei que personagem Jungkook seria nessa versão do livro. Por um lado, ele é parecido com Henry, inteligente e espirituoso, com um conhecimento sobre romances comparável ao meu.

Só que Henry é muito mais gentil do que Jungkook, e nesse sentido Jungkook é mais parecido com John, arrogante e grosseiro.

Dirijo pela cidade sem ter para onde ir, e percebo que as palavras de Jungkook tiveram um impacto ainda maior em mim do que gostaria de admitir.

O modo como ele me implorou para que ficasse quase resolveu as coisas entre nós, mas ele acabaria estragando tudo de novo depois.

Tenho certeza de que só queria que eu ficasse para provar que era capaz. Afinal, não me ligou nem me mandou mensagens desde que fui embora.

Eu me obrigo a dirigir até o campus para fazer a última prova antes do recesso de inverno. Me sinto desconectado durante a prova, não me parece possível que as pessoas na faculdade não percebam o que estou passando. Acho que um sorriso falso e um pouco de conversa fiada escondem a dor lancinante.

Ligo para minha mãe, para ver como estão indo suas tentativas de me pôr de volta no alojamento, mas ela murmura um “nada feito” e rapidamente desliga o telefone.

Depois de dirigir sem rumo por um tempo, percebo que estou a um quarteirão da Vance e já são cinco da tarde.

Não quero abusar de Taehyung, pedindo para dormir na casa de Mingyo de novo. Sei que ele não se importaria, mas não seria justo envolver a família de Jungkook na situação e, sinceramente, aquela casa me traz lembranças demais. Não iria aguentar.

After Depois da Verdade  ( Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora