Capítulo 51

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JUNGKOOK

Karen abre um sorriso enorme ao abrir as formas de bolo.

— Estou querendo esse conjunto desde que lançaram!

Jimin acrescentou o meu nome na etiqueta de boneco de neve e achou que eu não tinha percebido, mas percebi. Só resolvi não tirar.

— Estou me sentindo um idiota. Ganhei esses ingressos maravilhosos e só dei um vale-presente — Taehyung diz para Jimin.

Tenho que admitir que fiquei bem satisfeito com o presente impessoal de Taehyung, um vale-presente para o e-reader que dei de aniversário para ele. Se ele tivesse comprado alguma coisa mais interessante, teria me incomodado. Mas, pelo sorriso carinhoso de Jimin, parecia que tinha ganhado uma merda de uma primeira edição da Jane Austen. Ainda não estou acreditando na pulseira cara; que exibidos. E se ele quiser usar a deles em vez da minha?

— Obrigada pelos presentes, adorei — diz meu pai e olha para mim, erguendo o chaveiro que Jimin escolheu por engano para ele.

Me sinto um pouco culpado por seu rosto machucado, mas ao mesmo tempo acho aquele estranho toque de cor um tanto divertido. Quero pedir desculpas pelo meu ataque — bom, não diria que quero, mas preciso. Não quero que as coisas entre nós retrocedam. Foi até legal passar um tempo com ele, acho.

Karen e Jimin se dão muito bem, e me sinto obrigado a dar a ele a chance de ter uma figura materna por perto, já que é minha culpa que esteja tudo tão ruim com sua mãe. E é bom para mim que esteja, em certo sentido, pois é menos uma pessoa tentando nos separar.

— Jungkook? — Ouço a voz de Jimin em meu ouvido. Ergo os olhos e percebo que um deles devia estar falando comigo. — Você quer ir ao jogo com Taehyung? — pergunta ele.

— O quê? Não — respondo depressa.

— Valeu, cara. — Taehyung revira os olhos.

— Quer dizer, acho que ele não ia querer — me corrijo.

Ser legal é muito mais difícil do que eu pensava. Só estou fazendo isso por ele… Bom, para ser sincero, é um pouco por mim também, pois as palavras de minha mãe sobre a minha raiva só me render mãos machucadas e uma vida solitária continuam ecoando na minha cabeça.

— Posso ir com o Jimin, se você não quiser — diz Taehyung.

Por que ele está tentando me irritar quando estou me esforçando para ser gentil pela primeira vez na vida?

Ele sorri. — Legal, eu vou. Não entendo nada de hóquei, mas vou.

Sem pensar, passo o outro braço ao redor da cintura dele e o puxo contra o meu peito.

— Eu vou — dou o braço a torcer.

A diversão está estampada no rosto de Taehyung e, mesmo de costas para mim, sei que Jimin está com a mesma expressão.

— Gostei da decoração, Jungkook — meu pai diz.

— O apartamento já estava quase todo decorado, mas, obrigado — respondo. Estou chegando à conclusão de que é menos estranho dar um soco nele do que tentar evitar uma discussão.

Karen sorri para mim. — Foi muito legal da sua parte chamar a gente.

Minha vida seria muito mais fácil se ela fosse uma megera, mas claro que ela é uma das pessoas mais legais que já conheci.

— Não foi nada, sério… depois do que aconteceu ontem, é o mínimo que posso fazer. — Sei que minha voz soa mais frágil e tensa do que gostaria.

— Não foi nada… essas coisas acontecem — Karen me assegura.

— Acho que não. Não lembro de violência fazer parte da tradição de Natal — acrescento.

— Talvez faça, a partir de agora… o Jimin pode me dar um soco no ano que vem — brinca Taehyung, numa tentativa idiota de aliviar o clima.

— Olha, que eu dou. — Jimin mostra a língua para ele, e eu sorrio um pouco.

— Não vai acontecer de novo — digo e olho para o meu pai.

Meu pai fica me encarando, pensativo. — Eu também tive culpa, meu filho. Devia ter percebido que não ia dar certo, mas espero que, agora que você extravasou um pouco da raiva, a gente possa voltar às tentativas de construir uma boa relação — diz ele.

Jimin coloca sua mão pequena sobre a minha para me consolar, e eu faço que sim com a cabeça.

— Hã, tá… legal — digo timidamente. — É… — Mordo a parte interna da bochecha.

Taehyung bate as mãos nos joelhos e levanta.

— Bom, temos que ir. Se quiser mesmo ir ao jogo, me avisa. Obrigado aos dois por nos receber.

Jimin abraça os três, e eu fico encostado contra a parede. Até topei ser gentil hoje, mas não vou abraçar ninguém, de jeito nenhum. A não ser Jimin, claro, mas, depois da maneira como me comportei, ele podia me dar bem mais que um abraço.

Observo o jeito como sua roupa um pouco mais larga esconde suas belas curvas e tenho que me segurar para não arrastá-lo para o quarto.

Lembro da primeira vez em que o vi com essa calça horrorosa. Bom, na época achava horrorosa; agora meio que adoro. Ele saiu do alojamento parecendo pronto para vender Bíblias de porta em porta.

Revirou os olhos para mim quando impliquei com ele enquanto entrava no meu carro, mas não tinha ideia de que acabaria apaixonado por ele.

Aceno mais uma vez enquanto nossas visitas vão embora e solto um suspiro profundo que não tinha percebido que estava segurando. Uma partida de hóquei com Taehyung — onde fui me meter?

— Foi tão bom. Você foi tão gentil. — Jimin me elogia e tira os sapatos, arrumando-os cuidadosamente ao lado da porta.

Dou de ombros. — Foi tudo bem, acho.

— Foi melhor do que tudo bem. — Jimin sorri para mim.

— Tanto faz — digo, num mau humor exagerado, e ele ri.

— Amo você de verdade. Você sabe disso, né? — pergunta ele enquanto caminha pela sala, catando o lixo. Eu implico com suas manias de limpeza, mas a casa estaria um chiqueiro se eu morasse sozinho. — E o relógio? Gostou? — pergunta ele.

— Não, é horrível. E não uso relógio.

— Achei bonito.

— E a pulseira? — pergunto, hesitante.

— É linda.

— Ah… — Desvio o olhar. — É chique e cara — acrescento.

— É… Me sinto um pouco mal que eles tenham gastado tanto dinheiro, já que nem vou usar. Vou ter que colocar uma ou outra vez, quando estiver com eles.

— E não vai usar por quê?

— Porque já tenho uma pulseira preferida. — Ele balança o pulso, fazendo os pingentes baterem um no outro.

— Ah. Você gostou mais da minha? — Não consigo esconder meu sorriso idiota.

Ele me lança um olhar com uma leve reprimenda. — Claro, Jungkook.

Tento manter a pouca dignidade que me resta, mas não consigo me conter e o levanto pela parte de trás das coxas. Ele solta um grito, e eu dou uma gargalhada. Não me lembro de ter rido assim alguma vez na vida.

After Depois da Verdade  ( Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora