Capítulo 30

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JIMIN

Acordo suando. A cabeça de Jungkook está na minha barriga, e seus braços me envolvem num abraço apertado. Sem dúvida está com os braços dormentes pelo peso do meu corpo. Suas pernas estão entrelaçadas nas minhas, e ele está roncando baixo.

Prendendo a respiração, ergo a mão cuidadosamente para afastar seu cabelo maravilhoso da testa. Parece que faz séculos que não toco seu cabelo, mas na verdade a última vez foi no sábado.

Corro os dedos por entre os fios bagunçados, e minha mente repassa os acontecimentos em Seattle como num filme. Ele abre os olhos, e eu afasto a mão depressa.

— Desculpa. - digo, envergonhado de ser pego em flagrante.

— Não, estava gostoso. - ele responde com a voz embargada de sono.

Depois de se recompor e respirar contra a minha pele por um instante, Jungkook levanta - rápido demais -, e eu desejo não ter tocado seu cabelo, assim ele ainda estaria dormindo, abraçado comigo.

— Tenho um trabalho para fazer, então vou passar na cidade. - ele anuncia e pega uma calça jeans preta no closet. Jungkook calça as botas depressa, e tenho a sensação de que está fugindo.

— Tá...

O quê? Pensei que ficaria feliz por ter dormido comigo e me abraçado pela primeira vez em uma semana. Achei que algo teria mudado, não completamente, mas imaginei que talvez ele pudesse ver que estou começando a mudar de ideia, que estou alguns passos mais perto de me reconciliar com ele do que estava ontem.

— É... - diz ele, girando o piercing da sobrancelha antes de tirar a camiseta branca e pegar uma preta na cômoda.

Jungkook não fala mais nada antes de sair do quarto, me deixando confuso mais uma vez.

De todas as coisas que imaginei que fossem acontecer, essa fuga não era uma delas. Que trabalho ele pode ter para fazer agora?

Ele avalia manuscritos, o mesmo trabalho que eu - só que trabalha em casa, então por que sair hoje?

A lembrança do que aconteceu na última vez em que Jungkook disse que ia "trabalhar" faz meu estômago se revirar.

Ouço-o falando com a mãe brevemente e a porta da frente ser aberta e batida. Me jogo de volta nos travesseiros, esperneando feito uma criança. Mas, ao ouvir o apito que sinaliza cafeína, finalmente saio da cama e vou até a cozinha para tomar um café.

— Bom dia, querido. -  Ye-jin cantarola ao me ver passar por ela na bancada da cozinha.

— Bom dia. Obrigada por fazer o café. - agradeço enquanto pego a bebida fresquinha.

— Jungkook falou que tinha um trabalho para fazer. - diz ela, embora pela entonação pareça mais uma pergunta que uma afirmação.

— É... ele comentou alguma coisa a respeito. - respondo, sem saber o que dizer.

Mas ela parece ignorar e diz, com a voz cheia de preocupação:

— Estou feliz que ele esteja bem depois da noite passada.

— Eu também. - Então, sem pensar, acrescento: — Não devia ter falado para ele dormir no chão.

As sobrancelhas de Ye-jin se erguem numa expressão de interrogação.

— Ele não tem pesadelos quando não dorme no chão? - ela pergunta, cautelosa.

— Não, ele não tem pesadelos quando estamos... - Eu me interrompo, mexendo o açúcar no café e tentando pensar numa maneira de sair dessa.

After Depois da Verdade  ( Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora