Capítulo 28

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JUNGKOOK

Abraçá-lo pela primeira vez em uma eternidade é melhor do que eu poderia tentar descrever.

No instante em que ele correu para os meus braços, fui invadido por um alívio físico — nunca achei que isso fosse acontecer.

Ele tem andado tão distante, tão frio ultimamente. Não que seja culpa dele, mas dói pra cacete.

— Você está bem? — pergunto junto ao seu cabelo.

Ele move a cabeça para cima e para baixo contra o meu peito, mas continua a chorar. Sei que não está. Sua mãe provavelmente disse alguma merda.

Sabia que isso ia acontecer e, para falar a verdade, meu lado mais egoísta está feliz que tenha acontecido. Não por ela ter magoado Jimin, mas porque isso significa que o meu menino correu para mim em busca de conforto.

— Vamos entrar — digo.

Ele faz que sim com a cabeça, mas não me solta, então me esforço para tirar seus braços de mim e caminhamos juntos para dentro.

Seu belo rosto está marcado com trilhas de lágrimas, e seus olhos e lábios estão inchados. Espero que não tenha chorado a viagem toda.

Assim que entramos no saguão, pego o cachecol com o qual desci e o enrolo em sua cabeça, cobrindo as orelhas e fazendo um pacotinho roxo e macio em torno de seu belo rosto.

Ele deve estar com frio, só com essa camiseta. Essa camiseta… Normalmente eu elaboraria longas fantasias sobre despir o tecido fino de seu corpo. Mas hoje não, não com ele desse jeito.

Jimin solta o soluço mais lindo do mundo e puxa o casaco ao redor de si. Seu cabelo loiro está todo para o lado, fazendo-o parecer ainda mais jovem do que o habitual.

Quando saímos do elevador e caminhamos até o nosso… até o apartamento, aproveito a pequena chance que tenho para perguntar:

— Quer conversar?

Ele faz que sim, e eu abro a porta. Minha mãe está sentada no sofá, e a preocupação se espalha por seu rosto assim que repara na aparência de Jimin.

Lanço um olhar de advertência, torcendo para que ela se lembre da promessa que fez de não bombardear Jimin com perguntas sobre sua volta. Minha mãe desvia os olhos de Jimin e os fixa na televisão, fingindo indiferença.

— Vamos ficar um pouco lá no quarto — comunico, e minha mãe faz um gesto silencioso concordando. Sei que está louca para falar, mas não vou deixar sua curiosidade piorar ainda mais o estado de Jimin.

Ao passarmos pelo corredor, paro junto do termostato para aumentar a temperatura, pois sei que está congelando.

Quando entro no quarto, Jimin já está sentado na beirada da cama. Sem saber se posso me aproximar, espero que ele diga alguma coisa.

— Jungkook? — começa ele, baixinho. A rouquidão em sua voz me diz que Jimin chorou a viagem toda, o que me abala ainda mais.

Fico de pé na frente dele, e Jimin me surpreende mais uma vez, me agarrando pela camiseta e me puxando entre suas pernas. Aconteceu alguma coisa mais grave do que simples grosserias vindas de sua mãe.

— Ji... o que foi que ela fez? — pergunto quando ele começa a chorar de novo, manchando a barra da minha camiseta branca com a maquiagem de seus olhos. Não ligo a mínima para a sujeira, no mínimo vai me deixar algo como lembrança quando ele for embora de novo.

— Meu pai… — ele choraminga, e eu fico imóvel.

— Seu pai? — Se ele estava lá… — Jimin, ele estava lá? Ele fez alguma coisa com você? — pergunto por entre os dentes.

Ele faz que não com a cabeça, e eu ergo seu queixo com uma das mãos, forçando-o a olhar para mim. Jimin nunca fica tão quieto, mesmo quando está chateado. Em geral, fala ainda mais nessas horas.

— Ele voltou para cá… Eu nem sabia que ele tinha ido embora. Quer dizer, acho que sabia, mas nunca pensei a respeito. Nunca pensei nele.

— Você falou com ele hoje? — pergunto, e minha voz não soa tão calma quanto eu gostaria.

— Não. Mas ela falou. Disse que ele não vai entrar em contato comigo, mas não quero que ela decida isso por mim.

— Você quer vê-lo? — Jimin só me disse coisas ruins sobre esse cara. Ele era violento, muitas vezes batia na mulher na frente dele. Por que iria querer vê-lo?

— Não… quer dizer, não sei. Mas eu quero decidir. — Ele enxuga os olhos com as costas da mão. — Não que ele queira me ver… — A vontade de ir atrás do sujeito e impedir que ele se aproxime dele me invade, e preciso me acalmar antes de fazer alguma coisa estúpida e impetuosa. — Não consigo parar de pensar, e se ele for que nem o seu pai?

— Como assim?

— E se ele tiver mudado? Se não estiver bebendo mais? — A esperança em sua voz é de partir o coração… bom, o que restou dele.

— Não sei… nem sempre isso acontece. — digo com franqueza. Vejo como seus lábios se curvam para baixo nos cantos, por isso acrescento: — Mas é possível. Talvez ele tenha mudado… — Não acredito nisso, mas quem sou eu para destruir sua esperança? — Não sabia que você tinha algum interesse nele.

— Não tenho… quer dizer, não tinha. Só estou com raiva porque minha mãe escondeu isso de mim… — ele explica, e em seguida, entre uma parada e outra para limpar o nariz e o rosto na minha camiseta, me conta o que aconteceu.

A mãe de Jimin é a única mulher que contaria para o filho que seu ex-marido alcoólatra voltou e em seguida anunciaria casualmente que ia às compras.

Não comento sobre a presença de Rosé, apesar de isso me irritar. A garota não larga o osso.
Por fim, ele me olha com uma expressão um pouco mais calma. Parece muito melhor do que quando me abraçou lá na garagem, e gostaria de pensar que é porque está comigo.

— Tudo bem eu ficar aqui? — pergunta.

— Tudo… claro. Pode ficar o tempo que precisar. O apartamento é seu, afinal de contas.

Tento sorrir e, surpreendentemente, ele retribui o gesto antes de limpar o nariz mais uma vez na minha camiseta.

— Semana que vem já devo ter um quarto no alojamento.

Faço que sim com a cabeça; se falar alguma coisa, vou acabar implorando pateticamente para ele não me abandonar de novo.

After Depois da Verdade  ( Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora