XXXIV - What I Need

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Quando você toma uma decisão, é só a sua convicção que importa ou existe alguém do qual a opinião tem peso?

Quando eu era criança, sempre tive que ser mais madura que os demais. Mais confiante e mais inabalável.

Tive que me fortalecer para opiniões sobre meu tom de pele, cabelo, nariz, olhos, boca e corpo não abalasse minha autoestima.

Nem sempre é fácil. A maioria das vezes é muito difícil, mas quanto mais velha você fica, menos a opinião dos outros importa.

Depois de adulta, só uma opinião me importava.

Não era uma opinião, era A opinião. Tem a ver com a dona dela.

Olho ao redor e não sei onde estou. Parece tudo vazio.

Não tem começo ou fim.

O chão é cinza escuro e tem água.

Não o bastante pra cobrir os pés.

Apenas o suficiente pra refletir.

Há várias ondulações na água, mas elas correm tão devagar que parece câmera lenta.

Um clarão surgiu e lá estava ela.

— Acho que o tempo só passou pra mim — Digo com os olhos cheios de lágrimas.

Era a mamãe.

O mesmo vestido vermelho com florzinhas brancas minúsculas.

O corpo todo no lugar sem nenhum sinal de flacidez.

A pele negra tão retinta que brilha.

O rosto sem nenhuma mancha ou ruga.

O cabelo em um coque baixo e nem um fio branco.

Mas ela me olha tão triste e tão decepcionada que me envergonho sem nem saber o motivo.

— Você cresceu — O tom de voz é baixo e suave como sempre foi — É assim que escolheu viver?

— Do que a senhora está falando?

— Você mata, Rebeca.

— Mãe — Engulo o nó na minha garganta — É necessário. É a minha profissão.

— Você disse que faria as coisas diferente. Entraria pra polícia, seria firme e até usaria força física quando necessário, mas deixaria a justiça fazer seu trabalho ao invés de matar pessoas.

— Eu era nova e ingênua, mãe.

— Você se perdeu?

— Não.

— Ainda é você?

— Também não — Minhas lágrimas caem — Não consegui ser eu sem você — Baixei a cabeça — Lhe peço perdão.

— A culpa foi minha.

— Não — Enxuguei minhas lágrimas com o dorso da mão — Não foi escolha sua partir. 

— Eu tentei ficar. Nunca quis te deixar. Se eu não tivesse ido, você não teria mudado.

— Não me reconhece mais?

— Reconheço. Eu enxergo você — Voltei a olhá-la — Sinto muita saudade.

— A senhora não está decepcionada?

— Acho que eu não conseguiria mesmo se quisesse — Levou as duas mãos no peito na altura do coração — Não sou capaz de sentir nada, mas ainda assim sinto muita saudade.

Corri pra abraçá-la, mas quando cheguei perto uma força me puxou.

Mamãe abriu os braços e corri novamente.

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