Capitulo 43•

727 94 11
                                    

Fazia exatamente uma semana do dia em que Edgar havia quebrado meu braço, fiquei todos esses dias isolada em meu quarto sem nem ao menos falar com minha mãe e muito menos minha abuela, assim que ela visse meu braço iria me encher de perguntas e eu como uma boa chorona que sou iria contar tudo, eu sei que sou sensível mas admito que isso mudou muito desde que me mudei para essa casa, a cada dia eu deixo de ser menos eu e me torno mais um vazio. Eu estava no meu quarto encarando a janela encima da minha cama enquanto abraçava meu corpo quando uma das empregadas veio avisar que o jantar iria sair em meia hora, fico uns quinze minutos ainda no meu quarto quando decidi descer a cozinha para comer, assim que me aproximo em passos lentos e silenciosos ouço a conversa das empregadas.

— Pobre garota, nunca mais conseguirá sair deste tormento.— Uma delas, a mais velha, diz se lamentando.

— Isso por escolhas de outras pessoas, mal sabem que o senhor Alejandro pode agora mesmo arranjar outra e esquecer elas, como aconteceu com a última.— Outro de cabelo preto preso num coque suspira.

— Isso se elas tiverem muita sorte, não se lembram da última?.— A mais velha continua enquanto cortava os tomates.

— O que será que deve ter acontecido, aquele dia foi terrível!. Ainda tenho pesadelos só de lembrar.— A loira dos olhos azuis diz se arrepiando.

— Que ela seja esperta o suficiente para pegar a filha e sair daqui, fugir para o mais longe possível.— A morena volta a dizer.

— Olhem para a cara de apaixonada daquela mulher, está claro que ela não fugiria nem mesmo para proteger a filha ou não se lembram o que Janete contou sobre o tapa que a menina levou da última vez que aprontou? Nem a mãe a defendeu.— A mais velha diz e eu tive certeza de que eram sobre mim e minha mãe que estavam comentando.

— Você tem razão, pobre garota! Está sozinha.

Todas as falas ditas condiziam com a realidade que eu estava vivendo mas eu, como uma boa ingênua, me recusei a acreditar, aquilo não era verdade, não podia ser.

— Mas vamos parar de falar sobre isso antes que sobre para nós, voltem ao trabalho.— A mais velha diz e eu entro na cozinha, vendo os olhares de surpresa ao me ver.

— O jantar está pronto?.— Pergunto.

Eles se entreolham e depois uma, a loira, diz com receio.

— Senhorita, o senhor Alejandro ordenou que você jantasse na mesa hoje. — Ela diz murmurando.

— O que? Ele não... eu não...

Passei a semana toda jantando primeiro antes de todos e me enfiando dentro do quarto logo em seguida.

— Sinto muito senhorita, foi uma ordem dada diretamente por ele.— A mais velha diz e eu apenas balanço a cabeça confirmando.

Vou em passos lentos até a sala de jantar que estava iluminada e dela podia se ouvir risos, eu me aproximo vendo Alejandro na ponta e minha mãe ao seu lado direito, ao lado esquerdo Edgar estava se deleitando com vinho, ele não tinha idade para vinho mas afinal, nesta caso nós não tínhamos idades para tantas coisas já vividas ali.

— Querida você veio comer conosco.— Minha mãe diz reparando minha presença.

O olhar de Alejandro e Edgar focaram em mim e ambos tinha uma sombra maldosa pairando.

— Não por opção!.— Digo me aproximando.

— Senta aqui irmãzinha.— Edgar diz com um sorriso nos lábios.— Deixe me te ajudar com o jantar, é o mínimo pelo o ocorrido.

Me sento ao seu lado contra gosto mas o sorriso de minha mãe era tão enorme, e como se ela estivesse vendo diante de seus olhos o retrato de uma família feliz e unida mas sabemos que a realidade disso nunca nos atingiu nessa casa. Os pratos foram postos na mesa e o cheiro estava espetacular, como do jeito que posso.

— Vou te ajudar irmãzinha.— Havia maldade em sua fala.

Edgar diz pegando minha colher mas ele bate a mão fazendo todo o conteúdo do prato que era uma sopa quente, cair no meu colo, o grito foi tão forte que eu fechei os olhos tentando aguentar a sensação de ardência.

— Você fez de propósito, seu maldito.— Xingo enquanto tentava se livrar da dor.

— Eu só estava querendo te ajudar!.— Ele diz sussurrando como se fosse inocente.

— Mentiroso, porque não para de mentir!.— Grito com dor.

— CHEGA!.

Alejandro bate a mão na mesa fazendo a taça de vinho de minha mãe virar o conteúdo todo, arregalo os olhos vendo ficar em pé e apontar o dedo em minha direção.

— Você deveria ser grata pela bondade do meu filho, pela minha misericórdia mas a única coisa que sabe é ser ingrata é mimada.— Ele diz e eu por mais medo que tivesse não iria me calar.

— Bondade? Misericórdia? Olha em sua volta, isso aqui não passa de um pesadelo.— Digo me levantando.

Começo a andar indo em direção a saída.

— Volte aqui agora garota e termine seu jantar, em silêncio.— Ele ordena mas eu o ignoro.

Continuo a dar passos e quando finalmente estou chegando sinto mão fortes segurando meu braço com força.

— Eu não gosto de ser ignorado.— Ele diz com o rosto vermelho.

— E eu não quero ficar aqui.— Digo o encarando.

— Eu vou fazer você me obedecer, parece que da última vez você não entendeu o recado.

As palavras frias de Alejandro me acertaram com um raio, o seus dedos apertavam ainda mais meu braço com força que provavelmente ficaria a marca ali.

— já que quer ficar sozinha e isolada eu vou te apresentar um lugar bem legal.— Ele diz me arrastando.

Olho para minha novamente e a velho chorando parada no lugar, novamente observando a cena como se fosse apenas um filme triste que estivesse assistindo.

— Mãe?.— Desta vez eu a chamo mas ao primeiro passo que ela da Alejandro a avisa com os olhos a fazendo parar. — Mamãe? MAMÃE?

Para o meu desespero que enquanto gritava pela casa pedindo que ele me soltasse pois estava me machucando, ninguém fez nada, nem minha própria mãe e nem ninguém que trabalhava naquela casa, ninguém, não havia ninguém que iria me ajudar. Quando ele parou de andar estávamos no porão da casa, era escuro, sujo e medonho e Alejandro não parecia se importar com nada disso pois o mesmo me empurrou sem nenhuma delicadeza para dentro e me vi presa na escuridão enquanto ele fechava a porta acabando com qualquer ponto de luz daquele lugar.

Os meus gritos não eram o suficiente para pedir ajuda, ninguém me escutava, ninguém vinha, eu estava sozinha então me sentei e abracei meu corpo chorando tanto que os soluços eram mais altos que meus gritos e mesmo assim, não havia ninguém.

Nossos segredos. Onde histórias criam vida. Descubra agora