Capitulo 47•

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Passei o resto da semana escondida no meu quarto com as portas trancadas quando saí daquele porão velho e escuro, quando uma empregada abriu a porta eu corri dali como se a qualquer momento fossem me empurrar para lá de novo, eu vi a sombra da minha mãe na porta ela me observando arrependida e quando tentou se aproximar eu voltei a correr até o que eu considerava seguro. Durante toda essa semana eu recebia comida das empregadas que me davam o olhar de pena, eu odiava aqui, odiava aquela casa e tinha raiva de mim por ainda permanecer ali.

Minha mãe tentou conversar comigo depois que eu afastei ela por quatro dias, eu estava no meu quarto lendo meu livro quando a porta foi aberta e minha mãe me olhou com aqueles mesmo olhos arrependidos e aflitos, ela se aproximou de mim com cautela enquanto eu somente observava.

— Hija! Vamos conversar.— Ela diz baixinho e calma.

— O que quer conversar?.— Pergunto grossa.

— Sei que as coisas não estão fácil e que talvez aqui não seja como você idealizou...

— Talvez?.— Eu largo o livro dando total atenção a ela.— Talvez? Serio mãe, olha ao seu redor isso daqui não chega aos pés de ser idealizado. Tudo o que eu passei e a senhora não fez nada, ele me trancou no lugar escuro, sujo e assustador e a senhora, a minha mãe, não fez nada.

Dizer essas verdades na cara dela me dava um certo alívio por finalmente expor o que eu realmente pensava dessa situação.

— Eu fiz! Cecy minha hija, eu fiz, eu tentei mas Alejandro ele só quer nos proteger, ele não é...

— Proteger? Meu Deus mãe, a senhora está se ouvindo?.— Eu estava indignada pelo quão cega ela podia estar.

— Ele te ve como uma filha e só quer te educar para ser uma mulher...

— Nada do que você tá falando faz sentido, pelo amor de Deus, ele não é meu pai, o idiota do filho dele não é meu irmão essa não é a porra da família perfeita caramba!.

— Cecília olha as palavras.— Ela me repreende e eu dou uma risada sarcástica. — Eu sei que não é perfeito mas eu estou tentando te proteger, eu juro.

— Me proteger do que? De quem? Porque certamente não é dele.— Eu estava com tanta raiva.

— Hija, por favor, só quero que entenda que esse é o melhor lugar para nós duas.

— E a Abeula? O tio?.— Pergunto a lembrando deles.

— Eles sabem se virar!.

— Mãe.— Peço cansada olhando para ela exausta.— Por favor, vamos embora daqui, vamos voltar para como era antigamente, Sinto saudades da abuela, sinto saudades das noites cozinhando para assistir filmes. Eu não quero mais ficar aqui.

Peço em um ato de desespero olhando com súplica a ela que deixa uma lágrima rolar mas logo seca me olhando duramente.

— Não podemos!.

Isso foi o comprovante que eu precisava para entender que minha mãe independente do que aconteceu ou acontecia nessa casa nunca iria mudar sua opinião, ela estava destinada a acreditar que aqui seria o lugar mais seguro para nós, e que talvez toda essa escuridão dentro de Alejandro fosse iluminada apenas com o toque do seu amor, queria poder acreditar nisso, dizer que deu certo e que realmente mudará mas alguma coisa dentro de mim sabia que aquilo era apenas o começo de algo ruim.

Eu passei a andar como uma rata dentro da casa e isso chamou atenção de Alejandro que passou a cantarolar " pequena ratinha." Toda vez que me via, meu estômago revirava e minha bile subia a sensação de formigamento era quase que insuportável, ele ainda insistia em que eu participasse do jantar, como sempre seu filho, Edgar, dava um jeito de atormentar e me machucar, uma vez ele deixou uma faca muito afiada cair na minha coxa e ela rasgou minha carne enquanto eu gritava com dor, minha mãe estava no banheiro quando isso aconteceu mas mesmo quando voltou ela caiu no conto de que éramos apenas crianças brincando e simplesmente aconteceu uma travessura.

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