58 - Código vermelho

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— Sobe para o quarto — Devon ordena, autoritário, parecendo nervoso e inquieto, o que, consequentemente, me deixa do mesmo jeito. Não faço ideia do que ele viu no celular, só sei que ficou estranho desde então.  

— O que foi? — pergunto.

Ele esfrega a têmpora, ainda apertando os dedos no celular, e, de repente, segura o meu braço, me puxando com ele em direção às escadas. Eu franzo o rosto, sem entender porra nenhuma.  

— Eu só quero que fique no quarto e não me faça perguntas — subimos as escadas. Estou começando a ficar mais nervosa, puxo o meu braço bruscamente e o cruzo, esperando uma explicação dessa atitude tão repentina e estranha.  

— Devon, fala logo o que tá acontecendo? — exijo.  

Já estou farta de segredos. Eu sei que ele esconde coisas de mim e que, ultimamente, anda muito estranho, como se estivesse preocupado o tempo todo.

— Depois tá bom? — ele abre a porta do quarto e me puxa para dentro.

Observo enquanto ele vai até a cômoda, abre uma gaveta e tira de lá uma arma. Arregalo os olhos, um tanto assustada. Que merda está acontecendo? Por que ele está com uma arma? A última vez que o vi segurando uma arma foi para matar Álvaro, ou só pode significar uma coisa...

— O que está acontecendo? — imploro por uma explicação, meus nervos à flor da pele.

Devon coloca a arma no quadril e anda até mim com uma expressão séria, pondo as mãos nos meus ombros.

— Você não pode sair desse quarto por nada. Me promete que não vai sair, não importa os sons que escutar lá embaixo... Não saia daqui por nada — instrui.

Franzo o rosto e um lampejo de memória invade a minha mente.

— ...mas você tem que me prometer, Nicole, que não vai sair daqui por nada, mesmo que escute barulhos. Não saia daqui, ok?

Era a voz do meu pai.

Pisco os olhos, voltando a olhar para Devon, que me observa com uma expressão preocupada.

— Nicole, esta entendendo? não é pra você sair daqui. Tranque a porta e não abra. — Suas mãos vão para a minha bochecha, seus lábios tocam o meu rosto e ele me solta, andando para fora do quarto. Eu ando até a porta no automático, mas Devon fecha a porta e manda eu trancá-la de novo.

Eu não sei que merda está acontecendo, mas tenho noção de que não deve ser nada bom ele levar uma arma e parece tão perturbado. Eu não posso mais lidar com estresse e não consigo deixar de me sentir estressada e apavorada, seja lá com o que merda esteja acontecendo.

Como se bastasse que tudo o que estou passando já não fosse suficiente, há menos de três dias tive que enterrar o meu pai. Vê-lo pela última vez, enterrando tudo do passado e do presente, é o que me dói. O meu pai não morreu em coma; eu suportaria mais se ele tivesse morrido assim, sem sentir dor alguma. Quando eu nem tinha tanta esperança, seria mais fácil deixá-lo ir e suportar essa dor. Mas não, ele morreu quando estava bem acordado, quando iria se recuperar, quando estava pronto para viver. Isso é tão injusto. Eu não vou conseguir suportar mais nada.

Estou um poço de sentimentos; nenhum deles é bom. Eu luto comigo mesmo para não ceder à tentação de abrir a porta e sair para ver que merda está acontecendo, mas eu penso na minha bebê e não, eu vou ficar aqui e esperar, torcendo para que não seja nada ruim. Mas ele saiu com uma arma e mandou eu ficar e não sair.

Acordo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora