Alison
— Ai, graças a Deus você está aqui!
Kat me prendeu em um abraço de morte assim que atendeu a porta de seu apartamento.
Eu ainda estava borbulhando de raiva, insana da cabeça com o que Noah havia ousado me propor e queria mais do que tudo contar todo o acontecido para minha melhor amiga, para nós duas passarmos a tarde amaldiçoando a existência dele.
Mas o desespero trêmulo em pessoa que me abraçava agora? Parecendo um filhotinho de macaco que se agarrava a mãe quando estava assustado? Isso calou meus incômodos, ordenando que esperassem quietinhos.
— Kat... o que aconteceu, amiga? Por que está assim? — questionei, alisando seu cabelo preso em um rabo de cavalo.
— Não é o que aconteceu, Alison, é o que vai acontecer! — Ela me segurou pelos ombros, a agonia pura me encarando. — Você não lembra?
— Lembro do quê? — Mínimos átimos se passaram em sua indignação velada.
— A festa, Alison, a festa do Preto e Branco! É neste fim de semana! Eu não acredito que você esqueceu!
Kat foi se afastando para a sala e eu fechei a porta de seu apartamento, logo me colocando para segui-la.
— Eu não esqueci da festa, só não considerei que esse fosse o motivo do seu nervoso. — Me larguei sentada em seu sofá. — Alguma coisa deu errada no planejamento que preparamos?
Kat me enfrentou num perfeito misto de raiva, severidade e... desespero?
— Diana está vindo ainda assim, foi isso que deu errado.
Ai, não...
Cinquenta por cento do meu cerne se cansava só de ouvir o nome da irmã mais velha de Kat.
A família Heaven, em geral, era muito exaustiva. Eles nunca tiveram a mesma significativa conexão amorosa que sempre tive com meus pais e irmãos. Muito pelo contrário: Kat sempre dizia que dentro da casa onde cresceu, tudo se resumia a aparências, exigências dos pais para que as filhas sucedessem — tanto nos estudos e trabalhos, quanto nas próprias vidas pessoais —, e, claro, em tentativas eternas por parte de Diana de se mostrar melhor do que sua irmã mais nova nisso tudo.
Então, em feriados tradicionais, por exemplo, desde que descobriu que era muito bem-vinda, geralmente era comigo e com a minha família que Kat estava. Ou no mínimo dava um jeito de escapulir e aparecer no dia seguinte. Não era sempre que conseguia, mas se esforçava, pois, por mais que esta verdade não a agradasse, a necessidade de superação estava nela tanto quanto estava em Diana e, sendo sua amiga, já havia lhe dito isso. A forma que encontrou de lidar era os evitando o máximo que pudesse.
No entanto, Diana era a fundadora e produtora ativa de uma das mais conhecidas e lucrativas agências de produção de eventos e assessoria de pessoas da atualidade. Não era "bom para as aparências da família de socialites" negar sua ajuda na festa anual do "Preto e Branco", como era conhecido o aniversário da Heaven's, mas a verdade era que este era só o jeito que ela havia descoberto de se mostrar melhor do que Kat dentro de seu local de trabalho.
Era uma cisma frustrante, infantil e irracional, mas, este ano, nós haviamos nos antecipado do problema e, no sigilo, contratamos outro especialista para cuidar de todos os preparos.
Tecnicamente, eu era dona igualitária da Heaven's, assim como Kat, mas eram direitos que nunca senti que me cabiam, apesar dela sempre afirmar o contrário por uma série de motivos irrelevantes. Mas, no papel, era verdade e, somente desta vez, decidi me aproveitar deste título e assumir toda a produção da festa, para que quando Diana ligasse perguntando, Kat apenas lhe dissesse que "eu havia tomado as rédeas dessa vez e, legalmente falando, não havia nada que ela pudesse fazer". E isso era o que esperávamos que fosse vagamente publicado em blogs de fofoca também.
Agora, mesmo depois disso tudo, o fato de Diana ainda querer aparecer aqui sem justificativa obrigatória alguma, era além da minha compreensão.
E mais do que o suficiente para deixar minha amiga no limite.
Exalei profusamente.
— É só fazer a coisa de sempre, Kat: sorrir para as fotos e depois não trocar mais palavras uma com a outra.
Porque, não, dizer a Diana que ela não poderia comparecer estava completamente fora de cogitação! Seus pais a interrogariam depois feito dois tiranos da classe alta, então eu mesma sequer considerava a opção.
— Sim, é, mas... eu ainda não engoli a merda do ano passado.
Ah, é! Teve isso também.
Na última festa, Dennis, provavelmente o primeiro namorado de Kat com quem ela realmente pensou que pudesse ter algo sério, deu uma escapulida da festa para ter um encontro sexual com sua irmã mais velha.
O qual Diana não apenas não teve dificuldade alguma de confessar sem estar sob mínima suspeita, como também até hoje zombava com a cara de Kat sobre o ocorrido, fingindo a história de que "foi uma das melhores transas de sua vida", sendo que ela sequer se lembrava do nome do cara.
Nós já havíamos colocado-a sob variados testes sem que soubesse, ela não se lembrava. Ela só remoia esta satisfação em ter feito a própria irmã de idiota como se houvesse algo para se orgulhar nisso.
— Bem, ela está noiva agora, não está? — lembrei e Kat revirou os olhos, ainda de pé a minha frente.
— Está. Daquele piloto idiota.
— Famoso! Melhor ainda, mais atenção em cima dela. Com isso e a festa já pronta, ela está de mãos atadas — ponderei, a tranquilizando. — É só sobreviver a noite seguindo os mesmos paradigmas sociais de sempre e, quando menos perceber, já vai ter acabado.
Minha amiga soltou um longo e sonoro suspiro, encarando o teto.
— Sim, eu sei. Vai ser mais fácil do que as outras vezes, só que... — Emudeceu com a boca ainda aberta, não encontrando as palavras.
— Eu entendo. É sempre difícil ter de encará-la e ainda pior no seu ambiente.
— Sim! Ela não precisa vir, não tem nada para ela fazer aqui, mas ela está... insistindo! Isso é irritante, não sei porque está fazendo isso!
— Pra isso mesmo, te irritar. — Apontei para sua compleição estressada, o que contrastava diretamente com o leve vestido de verão amarelo que usava e com sua casa, em geral, tão bem ordenada, limpa e livre de cores fortes e excessivas, como ela gostava de manter.
Os dois únicos pontos de cores gritantes no cômodo agora eram do meu vestido, todo listrado de roxo e rosa, e do seu rosto, avermelhado feito um tomate.
— É aniversário da Heaven's, Kat, não deixe que ela lhe roube o prazer disso.
Minha amiga expirou, acenando afirmamente.
— Você está certa, não vou deixar. O que eu vou fazer é convidar algumas das amigas irritantes dela, para que ela tenha o que fazer e... talvez eu chame o Dennis também. Seria legal se ela repetisse a dose com ele, alguém descobrisse e a coisa virasse manchete. — Abriu seu melhor sorriso cínico e prometi para mim mesma que tentaria impedir que qualquer coisa do nível acontecesse.
Conhecia minha melhor amiga e, não importa o que diga agora ou no calor do momento, eu sei que a infelicidade pública de sua irmã não a alegraria nem um pouco. Seu coração é apenas maior e melhor do que qualquer vingancinha.
Senti meu celular vibrar dentro do bolso repentinamente. E então uma segunda, terceira e quarta vez.
"Só tenho dois dias
Depois disso, vou te deixar em paz por um longo tempo
Não é tão difícil, não é como se vc não tivesse tirado proveito da última vez
E vc nem precisa gostar de mim. Olha só que alegria!"
Furiosamente digitei com pressa a resposta:
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Tudo o que Sonhei
Roman d'amourO melhor amigo, o crush ou o ídolo? Para a romântica e desajeitada Alison, todos estes clichês se tornam realidade num curto período de tempo e, quem olhasse de fora, diria que isto tinha de ser o destino agindo a favor de uma pobre alma... certo...