Capítulo Quinze.

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PEDRO TÓFANI.
19 de maio de 2019.

Os dias de jogo sempre são os mais tensos, ainda mais após uma eliminação e chegando cada vez mais perto da partida final da 'Copa Del Rey'.

Hoje, o jogo seria fora de casa, no Estádio Municipal de Ipurua, pela 'La Liga'. O caminho até o estádio foi cansativo, mesmo o estádio se localizando na Espanha, não era tão próximo assim. Consegui descansar por alguns minutos, mas não foi o suficiente para diminuir o frio na barriga que estava sentindo.

Eu ainda não sabia se seria escalado novamente. Nos treinos, os times estavam bem distribuídos, como se o técnico desejasse mudar algumas coisas. Algumas vezes eu fui titular, outras não, como se ele testasse cada possibilidade.

No vestiário, pré-jogo, conversei com Messi sobre bobagens a fim de relaxar, e funcionou. Entrei em campo como titular, mais calmo do que da última vez. O jogo foi muito disputado e eu fiz o gol do empate, encerrando com 2x2 no placar.

Na saída do campo, com a camisa no ombro direito e o cabelo molhado, encarei disfarçadamente Romania, que estava entrevistando alguns jogadores. Sorri para ele e recebi um sorriso tímido e discreto de volta, com as bochechas avermelhadas.

— Jogou muito, cara! - Messi diz, enquanto caminhamos para o vestiário, me tirando de meus pensamentos.

— Ah, valeu. - jogo os ombros, sorrindo convencido.

— Dessa vez não tem nada pra falarem de você! - ele brinca e eu assinto com a cabeça, pensando sobre a matéria de Romania.

É inevitável refletir sobre como isso funcionará daqui para frente. João havia conseguido muitos acessos no jornal em razão do meu nome, mesmo já sendo famoso o suficiente para ser o assunto do momento quase todos os dias.

Nossa amizade poderia interferir em seu trabalho? Ou melhor, o trabalho dele poderia interferir na nossa relação?

Mais tarde, quando a matéria sai, penso algumas vezes se deveria mesmo ler. Afinal, aquela não era a opinião do João que eu estava conhecendo, e sim, a opinião do Jornalista Esportivo, João Romania.

Suspiro algumas vezes antes de clicar no link, abrindo a página em meu celular. Deitado na cama, leio os grandes parágrafos sobre o jogo, alguns comentários, frases descrevendo os gols e frases das entrevistas ao lado de algumas fotos. Percebo que meu nome aparece apenas em um momento, o meu gol.

"considerado o gol mais bonito da temporada."

Eu sei que aquela frase não era dele, e sim, de torcedores. Entretanto, senti minhas mãos suarem e meu estômago se embrulhar com tal frase, demonstrando que, sim, eu me importo com o que ele acha do meu trabalho.

Seguindo a emoção, digito rapidamente uma mensagem para o loiro, sem parecer muito interessado, mas também, querendo mostrar o que eu sinto.

"Bela matéria :)"

Ele responde com um simples "Obrigado" e uma figurinha de cachorro sorrindo. Uma risada baixa sai de minha boca e eu largo o celular na cama, me entregando ao cansaço, mas logo recebo uma ligação de Malu.

— Fala. - resmungo, me aconchegando na cama enquanto atendo a vídeo chamada.

— Credo, menino ignorante.

Malu me conta um pouco do dia dela e eu conto um pouco do meu, omitindo as trocas de olhares com o loiro jornalista e os sorrisos desengonçados que eu deixei escapar. Ninguém precisava saber disso agora.

Conversamos por cerca de duas horas, contei para ela um pouco sobre os últimos acontecimentos com meus pais e ela reclamou e chorou comigo, como sempre fazemos. Malu é a pessoa que eu mais confio no mundo, e sem dúvidas, uma das que eu mais amo.

Estar ao lado dela é estar em casa.

— Mas então.. eu vi a matéria do meu chefe hoje.. - ela começa, sorrindo.

— Ele me elogiou pela primeira vez na vida. - brinco, rindo anasalado.

— Besta! Você jogou bem Pê, mereceu a crítica positiva. Só não vale se estressar de novo se jogar mal!

— Você como sempre sendo a maior defensora desse jornal. - respondo irônico arrumando meus cabelos pela tela do celular.

— E você se achando como sempre também. - retruca, implicante.

Em algum momento, caio no sono enquanto Malu conta em palavras rápidas sobre como está a situação da empresa, algo de chefe insuportável e o filho dele, não consegui prestar muita atenção.

21 de maio de 2019.

— Maria Luísa! Eu nem posso entrar aqui! - reclamo, birrento.

Meu dia de folga se tornou um castigo rapidamente, já que Malu decidiu me arrastar para ver uma palestra na empresa dela.

— Vem logo, seu chato! Eu prometi que traria alguém. - responde, me puxando pelo braço até a sala em que aconteceria a palestra.

Nos sentamos na primeira fileira, minha cara de tédio denunciava que eu não estava com vontade de estar aqui, mas antes isso, do que um almoço com meus pais.

— Que saco. - resmungo, cruzando os braços, largado na cadeira.

Algumas pessoas sobem no palco e falam sobre coisas do jornal que eu não me interesso nem um pouco, enquanto Malu encara todos eles com admiração e respeito.

De repente, as luzes se apagam por alguns segundos, ascendendo luzes mais sutis e certeiras no palco, carregando a atenção do público para uma poltrona vazia.

Logo, uma série de aplausos toma conta do local. O loiro sobe lentamente as escadas, acenando para alguns conhecidos com um grande sorriso no rosto. Rapidamente, ajeito minha postura na cadeira, passando a mão esquerda no cabelo e o encarando admirado.

— Boa noite. - ele sorri, sentando-se na poltrona. Um sorriso involuntário brota em meus lábios.

Muito boa noite, Romania.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora