Capítulo Vinte e dois.

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PEDRO TÓFANI.
1 de junho — Segundo Encontro.
Horas antes.

Jogo minha cabeça para trás, em meio a uma risada. Era apenas mais uma das diversas ligações que eu e João fizemos durante a semana.

A última vez que nos vimos, foi no dia que ele me viu chorar e dormiu comigo. Depois disso, cada um se afundou em eu próprio mundo do trabalho.

Mas agora, eu finalmente estava de férias temporárias.

Os treinos continuam, mas com uma frequência menor e não temos jogos. Até porque, fomos eliminados de todos os campeonatos que ainda estão acontecendo.

— Fala sério! Não acredito! - respondo rindo, após ouvir uma das histórias de trabalho do loiro.

Estou com as pernas para o alto no sofá, encarando o jornalista risonho do outro lado da tela.

— Estou com saudades de você. - assumo, fazendo um biquinho. João sorri de canto, acariciando o pelo do Santiago.

— Eu também. Estou te devendo um encontro, né? - ele lembra, passando uma das mãos pelo rosto.

— Achei que você nunca ia lembrar! - brinco, tombando a cabeça para trás.

— Já sei onde vou te levar. Sabe andar de bicicleta? - pergunta, animado.

João entra em um cômodo escuro de sua casa, e eu perco seu rosto de vista.

— Claro que eu sei. - afirmo, convencido.

Logo, tenho a visão de duas bicicletas azuis.

— Vem pra minha casa, vamos passear. - ele manda, desligando sem ao menos me dar tchau.

Como eu me arrumaria para um encontro que eu nem sei como será?

Remexo o guarda-roupa por longos minutos, até achar algo que me agrade. Decido optar pelo simples e quentinho, já que lá fora estava muito frio: um conjunto de moletom.

Dirijo até a casa de João com um pouco de pressa, ansioso para revê-lo.

Nessas últimas semanas, estamos cada vez mais próximos, compartilhando mais sobre nós mesmos e nossos sentimentos. Sinto que eu e João estamos interligados de alguma forma, e algo nos puxa cada vez mais para perto do outro.

— Oi. - é só o que eu digo ao adentrar a casa do loiro.

— Pode ir indo para trás, vamos pegar as bikes na garagem. - ele fala, antes de me abraçar rapidamente. — Vem!

Sigo ele até a garagem, escolhendo uma bicicleta e subindo nela, esperando para descobrir nosso próximo destino.

— Onde vamos?

— Tem uma pracinha aqui perto, quero ir lá com você. - ele sorri largo, subindo na bicicleta escolhida. — Duvido você chegar lá primeiro que eu.

— Ah é? - questiono, sorrindo como uma criança.

Nos encaramos por aproximadamente três segundos e partimos para a praça, pedalando rapidamente, na intenção de vencer a competição. O vento frio bate forte em meu rosto e bagunça meus cabelos, enquanto isso, os de João ao menos se mexem.

Gargalho ao passar em sua frente, balançando o sino de minha bicicleta, na intenção de provoca-lo. Ele compra minha provocação e desvia do caminho, tentando pegar um atalho. Eu o sigo.

— Você está roubando! - acuso. Mesmo assim, passo por ele novamente, encostando a bike as pressas ao chegar na praça. — E eu venci.

— Pela primeira vez na sua vida, você venceu. - assume, revirando os olhos. — Na volta vai ter revanche!

Jogo os ombros indiferente, pegando em sua mão para andarmos pela calçada. Nossos dedos se entrelaçam e sinto como se vários fios elétricos estivessem em contato com meu corpo.

— Quer um picolé? - ele pergunta, balançando nossas mãos.

— Quero! De chocolate. - peço, encostando minha cabeça em seu ombro enquanto andamos.

Caminhamos até um carrinho de picolé e João compra dois de chocolate, nos direcionando até um banco em seguida.

— Eu nunca vi você jogando bola.. - comento, enquanto nos sentamos. João ri.

— E nunca vai ver!

— Você tem que jogar comigo um dia, eu quero ver. - proponho enquanto abro meu picolé.

— Só nos seus sonhos, Pedro. - brinca, me encarando com o canto do olho.

Conversamos sobre bobeiras por longos minutos, reparando nas árvores, flores e na escuridão daquela noite estrelada.

As noites estreladas ficam mais bonitas ao lado de João.

A conversa cessa e, entre nós, se instala um silêncio agradável. Nos olhamos um pouco envergonhados, provavelmente, pensávamos na mesma coisa.

Me aproximo do loiro, me arrastando levemente
pelo banco até estar ao seu lado, com nossas pernas coladas. Ele sorri com o canto dos lábios e acaricia meu rosto com os dedos, deslizando-os lentamente pela minha bochecha em um carinho gostoso.

Eu queria sentir esse carinho por horas consecutivas.

Meus olhos se fecham quando sinto os lábios de João em minha bochecha, em um selar demorado e envergonhado. Seus lábios grudam em minha pele por um certo tempo, como se ele não quisesse se afastar.

Mas ele se afasta, relutante.

— Eu gostei disso. - murmuro, tentando quebrar o silêncio. O loiro ri comigo, desviando o olhar para nossas pernas juntas. — Olha pra mim, bobão.

Seguro seu queixo, direcionando seu rosto para mim novamente. Seus olhos levantam e ele me encara, com as pupilas dilatadas.

Com ele, eu volto a me sentir um simples garotinho.

Seguro seu rosto com as duas mãos e selo meus lábios em sua bochecha, especificamente na mesma em que ele beijou. Seus olhos também se
fecham e seu corpo relaxa, aproveitando a sensação.

Nem parecia que já éramos adultos há alguns anos, porque eu me sinto um adolescente descobrindo sua primeira paixão.

Ultrapassamos mais uma fase e, sinceramente, me sinto preparado para tentar algo a mais. Espero que João também se sinta assim.

Competimos novamente em cima das bicicletas até chegar na casa dele, e novamente, eu venço.

— Achamos algo que você é melhor que eu! - ele ri, descendo da bicicleta e caminhando comigo até a porta. — Vai entrar? Podemos ver um filme...

                                           ✶

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora