Capítulo Trinta e dois.

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PEDRO TÓFANI.
9 de junho de 2019.

O caminho até o escritório foi animado como sempre, eu estava muito feliz de estar com o João indo visitar um lugar que faz tão bem a ele. Eu nunca havia entrado em um ambiente de trabalho jornalístico na minha vida, sempre assisti pela televisão ou pela internet, mas mesmo assim, é um trabalho que eu admiro muito.

Ele insistiu que dessa vez eu poderia escolher a música. Entretanto, durou poucos minutos. Antes mesmo da música acabar, João visivelmente não aguentava mais.

— Meu Deus, nossos estilos são completamente diferentes. - ele diz, um pouco surpreso.

— Por isso eu nunca me ofereci para colocar a música, sempre deixei que você escolhesse. - eu jogo os ombros, rindo com seu espanto.

Apesar de ter gostos muito diferentes, nós combinamos muito no jeito de ser, isso eu não posso negar. Por muito tempo eu me moldei para me encaixar em um nicho que não era meu, uma versão de mim que não existia vagava pelas ruas escuras de Barcelona todos as noites.

Hoje, eu me encontro sendo eu mesmo.

E acho que João também se sente assim.

— Na primeira sala que vamos entrar, você vai ver muita loucura e pessoas correndo de um lado pro outro para atender telefones, então só me segue. - ele diz, que quando chegamos na porta do local.

João anda na frente, confiante e confortável. Já eu, caminho atrás, seguindo seus passos milimetricamente.

— É maior do que eu pensava.

— Não vamos demorar. - ele assegura, segurando sua bolsa presa no corpo.

Vejo alguns rostos conhecidos, mas finjo normalidade enquanto passo por aqueles corredores largos e cheios de gente. O local era bem grande, eu me lembro da última e única vez que vim aqui. Era o dia da palestra e o acesso era restrito apenas para o primeiro andar, mas eu havia entrado no andar de João sem permissão.

O andar dele era o terceiro e último, bem como nos filmes em que o chefe de tudo fica acima de todos. As vezes eu me esqueço da importância de João nessa empresa.

Além de rostos conhecidos, vejo olhos curiosos. Afinal, o que um jogador do Barcelona estaria fazendo em um edifício jornalístico? Nem eu sei dizer.

— Como você já conheceu, esse é meu escritório. - ele diz, girando as chaves na porta e dando visão ao escritório perfeitamente arrumado e alinhado.

Do jeito dele.

— É muito confortável. - comento, apoiado em uma cadeira enquanto ele remexe as gavetas.

João pega uma pasta transparente e coloca em baixo do braço, trancando a gaveta novamente e seguindo para fora da sala. Logo entramos em outro escritório, que não havia ninguém. Ele deixa a pasta em cima da mesa e escreve algo em um papel colorido, o qual eu não consigo espiar.

— Pronto, uma coisa já está feita. - ele diz, como se fosse uma nota mental. — Agora vamos só passar no estúdio, quero ver como está.

Assinto com a cabeça, um pouco desconcertado. Andar dessa forma por um lugar que não é meu, que eu não conheço e que eu não deveria estar, me assusta.

Reconheço alguns amigos de João de longe e vejo Maria Luísa também, concentrada em uma gravação ao vivo.

Aquele era um mundo totalmente diferente do meu, mas apesar de tudo, as notícias futebolísticas sendo compartilhadas e enviadas a todo momento, me deixavam mais confortável.

Me sento em uma cadeira de plástico e observo João trabalhar. Sua postura era séria mas ao mesmo tempo acolhedora, sem dar muita liberdade para os funcionários. Era perceptível que todos se sentiam mais confortáveis com João do que com outra pessoa.

Com os braços cruzados e o corpo largado na cadeira, assisto, sem ao menos piscar, o homem que um dia vai ser meu fazendo o seu trabalho.

Ele anda para um lado, anda para o outro, coloca as mãos no bolso e tem um olhar sério. Estou gostando cada vez mais dessa versão dele.

— Vamos? Desculpa a demora. - ele fala, fofo. Solto uma risada baixinha e me levanto, assentindo com a cabeça.

Andamos lado a lado até o carro novamente. Fico em silêncio enquanto o loiro cumprimenta algumas pessoas nos corredores. Absolutamente todos conhecem ele.

Não demora muito para chegarmos finalmente na biblioteca. João desce do carro com sua bolsa e seu livro, já indo em direção a atendente que ele tanto conhece.

Eles conversam brevemente e nós entramos, nos direcionando até o cantinho que ficamos da última vez.

O cantinho dele.

Que talvez vire o nosso.

— Não aguentava mais esperar para ler. - assumo, com um biquinho. Ele sorri, se deitando em um puff.

Me deito em seu peito, com o corpo virado para cima.

— Não vai pegar seu livro? - questiona, confuso.

— Quero ler com você. - peço, um tanto manhoso. João morde levemente o lábio inferior, contendo um breve sorriso.

Deitados, lemos o livro juntos até o final. Era difícil acompanhar a leitura rápida dele, mas ele disse que com o tempo eu me acostumaria com isso.

Meus cabelos já estavam bagunçados e os de João também, amassados contra o puff. Nem percebo que me afundei em um breve sono, aconchegado em seus braços.

Mas quando acordo, percebo que já há outro livro em suas mãos.

"Aristóteles e Dante mergulham nas águas do mundo."

A parte dois do livro.

"E eu tinha a sensação de ser real . Antes de Dante, estar com alguém era a coisa mais difícil do mundo para mim. Mas, com ele, conversar e viver e sentir pareciam coisas perfeitamente naturais. No meu mundo não eram."

N/a: desculpem a demora, tive uns problemas pessoais e também fiquei doente 😓 minha imunidade esse mês tá terrível.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora