Capítulo Cinquenta e um.

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JOÃO ROMANIA.
20 de julho de 2019.

Fecho a porta atrás de mim assim que entro em meu escritório novamente. Meu pai agora está sozinho, encarando a paisagem pelo vidro grande na minha parede.

— Eu fico alguns dias fora e isso acontece? - questiono, afrontoso. Ele se vira para mim lentamente, sentado em minha cadeira.

— Você estando aqui ou não, esse fracassado teria feito a mesma coisa. - afirma. — O que vocês conversaram?

— Nunca aconteceu antes de você começar a interferir no meu trabalho. Nosso jornal está nas ruínas e você está afundando mais, arrumando processos sem sentido. Independente do seu cargo nesse lugar, você sabe que eu também sou importante e a minha opinião e interferência são necessárias aqui. - retruco ignorante e caminho até a escrivaninha. — Falamos apenas de negócios, ele está disposto a resolver isso.

— Você mudou muito. - ele fala após alguns segundos, como se pensasse sobre. — Não te reconheço mais.

— Eu sei que mudei. - digo em concordância. — Eu finalmente percebi que por mais que eu ame o que eu faço, não é tudo.

— Você não é nada sem esse jornal.

— Sem esse jornal, eu continuo sendo o João. - disparo, sentindo meu corpo um pouco quente. — Continuo sendo o João Vitor de sempre, o seu filho..

O João Vitor que o Pedro amou.

Fecho meus olhos, apoiando meus braços na mesa.

— Eu não quero te faltar com respeito, muito menos discutir com você.. Por favor, pode se retirar do meu escritório? - peço, engolindo seco.

Ele se levanta irritado, saindo em silêncio.

Eu sou o maior desgosto do meu pai.

Tiro a bolsa de meu corpo e me jogo na cadeira macia, fechando os olhos novamente, no intuito de relaxar.

Sentindo que preciso desopilar tudo o que tem em minha mente, logo abro o notebook, escrevendo algumas frases soltas no bloco de notas.

Minha respiração se torna ofegante e meu corpo continua quente, em razão do desespero momentâneo. Eu nunca havia enfrentado meu pai com tanta confiança, nunca havia discordado dele dessa maneira e nunca havia tido tanta certeza que desapontei ele.

Talvez ele não me perdoe ou fique irritado por muito tempo, mas eu sei que era necessário. Mesmo assim, sinto que não falei nada do que eu realmente queria falar.

Queria dizer que os melhores dias da minha vida foram ao lado do tal jogador que ele despreza, queria dizer que eu nunca escreveria uma matéria daquelas e muito menos sobre o homem que sou cegamente apaixonado. Eu faria uma lista de coisas que eu desejava ter dito naquele momento, mas, infelizmente, é demais para mim agora.

Talvez um dia eu consiga.

Ou eu só precise sumir daqui.

Decido voltar para casa e assim o faço, empenhado em resolver a minha vida. Quero voltar para a minha rotina, ser exemplar, tomar cafés caros em cafeterias arrumadinhas e escrever matérias legais sobre o mundo futebolístico.

A janela de transferências já estava fechada, logo mais os treinos voltariam e eu estava ansioso para cobrir alguns deles e voltar a fazer o que eu mais gosto.

Minha autobiografia está pela metade no momento, não sinto vontade de continua-la, na verdade, não faço ideia de como seguir escrevendo ela.

Quando finalmente chego em casa, me deito na cama e rolo as páginas de notícias recentes, buscando pelas informações lançadas durante o tempo em que estive fora.

Nada de muito especial.

Estranho o fato de não encontrar nenhuma notícia recente sobre Pedro, já que o mundo todo já estava ciente da sua transferência.

Quando nos vimos, ele não parecia muito feliz.

                                          ✶

PEDRO TÓFANI.
20 de julho de 2019.

Cansado de discutir com meus pais, desligo a chamada de vídeo, cortando alguma frase sem noção que estava sendo dita. Me sento no sofá e afundo meu rosto nas mãos, pensando no que fazer daqui em diante.

Por mais dinheiro que eu fosse receber por esse processo, não era justo com João. Ele não teve escolha ao fazer o que fez, mas continuar com isso, é decisão minha. Não vale a minha carreira, não vale um cargo importante, não vale nada além de ego e dinheiro.

E isso eu já tenho de sobra.

O que me falta no momento é amor. Me falta carinho dos meus pais, conexão com a família, me falta alguém para compartilhar a minha vida todos os dias.

Como eu fiz por mais de um mês com João Vitor.

Desde que nos separamos, eu penso nele o dobro do que eu pensava antes. Meu coração acelera e se desmancha em pedaços cada vez que nossos olhares se cruzam em um olhar qualquer.

Julho não tem sido fácil sem ele.

Penso em ligar, falar mais sobre sentir falta dele, dizer que ele é incrível e que ele também não me perdeu em momento algum. Vê-lo novamente despertou mais ainda minha vontade de resolver as coisas, de tê-lo para mim novamente.

De repente, me lembro do dia em que mandei flores para ele com frases do Charlie Brown escritas em um cartão bonito. Sorrio sozinho com essa memória boa de nós.

Pego meu celular e ligo para a floricultura mais próxima, com um sorriso largo no rosto.

Eu sei exatamente o que fazer para mostrar que ainda o amo.

                                         

N/a: impossível alguém estar com mais saudade deles do que eu! votem e comentem bastante nesse, porque o próximo é um capítulo muito esperado por mim desde o início da fanfic :) espero que gostem dele tanto quanto eu.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora