Capítulo Nove.

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PEDRO TÓFANI.
12 de maio de 2019.

Primeiro jogo pós eliminação, e eu estava no banco.

O dia anterior havia sido caótico, Malu me levou até a casa dela e cuidou de mim durante horas até que eu conseguisse me acalmar por completo e dormir um pouco. Acordei com meu celular cheio de notificações e chamadas perdidas dos jogadores, interessados em saber onde eu estava e o motivo da minha fuga.

Eu não me importei em responder ninguém, apenas desliguei o celular, e mais tarde, minutos antes de dormir de novo, respondi algumas mensagens avisando que estava bem e em casa.

Meus pais não buscaram contato nenhum após as notícias no jornal e comentários sobre o jogo, me ignorando completamente como sinal de decepção. Eu já esperava que isso acontecesse no segundo que li a matéria daquele jornalista ridículo, mas não achei que duraria mais do que horas

Hoje de manhã li outra matéria sobre a vitória do Liverpool e a má fase do Barcelona, confesso que ela não me atingiu até que meu nome fosse citado mais uma vez. Entendo que são consequências de ser considerado um dos melhores do time e falhar em um jogo importante, mas tenho que concordar que Messi estava certo quando me disse que é só o começo das críticas.

Independente do time que seja contratado para jogar, críticas são rotineiras para todos, mas quando eu jogava no Brasil, na base do Corinthians, eu não precisava lidar com tanto ódio assim. Era novidade estar no profissional do Barcelona sendo "tão jovem", e as críticas estavam chegando com tudo na minha mente.

Pelo menos, eu tinha o meu lugar de conforto. Maria Luísa sempre esteve comigo e apoiou meus sonhos, até se mudou para Barcelona e entrou em um jornal famoso para me acompanhar de perto. Sem ela, eu não sei como lidaria com todos esses acontecimentos.

Mas nem tudo ela poderia curar. A dor de ter sido rebaixado ao banco de reservas, nunca seria entendida por alguém de fora do mundo futebolístico. Ver o jogo fluir comigo no banco era agonizante, já que eu não poderia ajudar de nenhuma forma.

Penso em fugir novamente, mas sei que me traria mais consequências. Eu já estava em más condições no time, não precisava de mais um problema.

No final do segundo tempo, entro finalmente em campo e jogo os últimos minutos, mas a minha concentração era mínima e logo o jogo acaba.

Ganhamos de 2x0 mas a minha participação foi inútil, consequentemente, saio de campo irritado, apenas com vontade de sair desse estádio o mais rápido possível.

Ao chegar em casa, a matéria do jornalista que cobriu o jogo já estava no ar. Reviro os olhos ao ver meu nome novamente no meio do texto escrito por Romania, decidido que hoje eu não iria me entristecer por essa razão novamente.

Já havia virado rotina essa troca de farpas e eu não estava nem um pouco contente com meu nome sendo citado nas críticas do jornalista, mas não havia nada que eu pudesse fazer agora. Eu já confrontei ele no hotel, e ele riu da minha cara.

Talvez a solução fosse ignorar esse assunto até ele se tornar mínimo.

Após um banho quente e relaxante, visto uma camisa preta colada, uma calça baixa e um tênis da adidas. Além disso, coloco um colar prateado para dar destaque. Passo as mãos pelos cabelos enquanto me olho no espelho, sorrindo de canto com minha própria imagem.

Eu não parecia tão triste, e essa era a intenção.

Hoje eu iria aproveitar ao máximo.

Mando uma mensagem para Maria Luísa, que me responde de imediato falando que hoje não poderá me acompanhar devido ao jornal.

Resmungo decidindo sair da mesma forma, pegando um uber até o bar mais próximo da minha casa. Eu poderia ser muito irresponsável, mas não iria voltar bêbado de carro de forma alguma.

Ao entrar no bar, coloco as mãos no bolso e me dirijo ao balcão de bebidas, pedindo um drink com vodka, desejando que fosse forte o bastante para me embebedar apenas com alguns copos.

Ando pelo bar com meu copo na mão, falando com algumas pessoas que me conhecem e beijando algumas bocas, nada de especial e diferente para mim.

Uma hora depois, avisto uma silhueta muito comum. Novamente, meus olhos encontram os do loiro e ele suspira, desviando o olhar para o seu notebook.

Ele está trabalhando em um bar?

Pego outro drink e deixo que a curiosidade me mova até a mesa do jornalista, me sentando em sua frente, atrevido.

— Você está trabalhando em um bar? - questiono, atraindo sua atenção novamente. Ele bufa, como se não fosse a primeira vez que alguém o atrapalha.

— Estou. - responde curto, estralando os dedos enquanto alterna o olhar entre o notebook e meu rosto.

— Para alguém que faz tantas matérias sobre mim, não achei que você precisaria vir em um bar para ter inspirações. Sua inspiração está aqui na sua frente. - disparo, bebendo um pouco do meu copo em seguida.

Ele fecha o notebook lentamente, me olhando com desdém.

— Nem tudo é sobre você, Tófani. - retruca, indiferente.

— Você é tão careta! - digo, prologando um pouco a frase, apoiando meu rosto nas mãos. — Você precisa se divertir um pouco, beber e transar, sei lá!

— Eu já me divirto. - ele responde, arqueando uma sobrancelha.

— Ss diverte como? Escrevendo e lendo livros? Isso não é uma diversão! - resmungo, entediado. Estico meu drink na direção do loiro, que faz uma careta. — Bebe um gole!

— Você está bêbado? - questiona, se esquivando do copo.

— Não muito, ainda não deu tempo. - jogo os ombros, deixando o copo na frente dele. — Vou te mostrar como se divertir de verdade.

Completo antes de me levantar, procurando com os olhos a mulher mais bonita do bar.

N/a: Muito intrometido esse Pedro, como pode?

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora