Capítulo Cinquenta e nove.

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JOÃO ROMANIA.
1 de agosto de 2019.

A contagem regressiva para minha viagem com Pedro, começa a partir de hoje. Temos três dias para nos organizar e mais dez de viagem, totalizando 13 dias em um mundo quase totalmente brasileiro. Quando ele me contou essa ideia, eu mal pude acreditar. Até porque, ele nunca havia conversado comigo sobre me apresentar para os pais dele.

Pelo visto, não era uma simples brincadeira ou uma fala da boca para fora. As passagens estão compradas, nossos dias estão contados e eu mal posso esperar para pisar em terras do Brasil novamente.

Combinamos de nos resolver primeiro com nossa vida privada, para depois nos juntarmos e decidirmos nossa rota de viagem e nossos passeios. Por isso, hoje eu acordei cedo e segui minha rotina favorita, passando na cafeteria antes de ir para o escritório.

Ao chegar em minha sala, fiz uma breve arrumação antes de começar a fazer ligações e marcar reuniões para os próximos três dias, adiantando o máximo de trabalho possível.

Claro que, eu não iria largar o jornal pela viagem. Meu notebook, companheiro de todas as horas e lugares, estará comigo a todo momento.

Nesse tempo, não tenho encontrado muito com meu pai. Nos evitamos nos corredores e eu só frequento a casa da minha família quando minha mãe está sozinha, assim, tornamos o clima familiar mais agradável. Ou não.

Não podemos ignorar o problema para sempre, mas farei isso até o meu limite. Estar com Pedro e focar no meu crescimento pessoal era o meu foco no momento, e nada poderia me atrapalhar.

Me sento em minha cadeira e observo os carros passarem na rua pela minha vidraça na parede. Hoje o céu estava lindo em Barcelona e me lembrava os momentos no alto do prédio escuro, acompanhado de Pedro. Sinto que vejo ele em todo lugar agora.

De repente, batidas na porta me surpreendem. Como se soubesse que acabei de pensar nele, meu pai aparece na porta da minha sala, fechando-a atrás de si.

— Você vai viajar? - ele questiona, direto. Me levanto da cadeira a mantenho a formalidade, cruzando meus braços.

— Vou. Quem te contou? - digo, seco e simples.

— Não importa. E o jornal, como fica?

— Achei que o jornal não precisava de mim pra se manter. - retruco irônico. — Eu já resolvi tudo, como sempre. Você só vai ter que se preocupar em supervisionar os funcionários.

— Eu não vejo um bom motivo para essa viagem, João Vitor. Nosso jornal é centrado em Barcelona, não tem contato com o Brasil.

Suspiro, voltando a me sentar na cadeira. Eu preciso ter mais paciência.

— Eu vejo um ótimo motivo. Preciso desse tempo longe daqui, esse lugar está me sufocando aos poucos. Continuarei fazendo meu trabalho mesmo de longe. - explico, exausto. — Agora, por favor, retire-se da minha sala.

Meu pai bufa e sai da sala em passos pesados, expressando sua raiva. Já faz um tempo que eu não me importo com sua fúria e o que ela pode causar. Minha exaustão é maior, mesmo que eu o ame.

Atualizo minha agenda dos próximos três dias e separo alguns momentos de cada tarde para passar com Pedro, planejando os lugares que visitaremos quando chegarmos em São Paulo.

Já conheço boa parte do lugar, Pedro também. De qualquer forma, sempre frequentamos lugares muito diferentes e conhecemos partes diferentes do mundo, ou seja, conhecerei mais sobre a vida de Pedro fora de Barcelona.

Giovana e Renan vão entrar em choque quando eu contar tudo isso. Faço uma nota mental para lembrar de marcar algo com eles antes de
viajar, se passou tanto tempo desde a última vez que tivemos uma noite só nossa, que eu mal sei se eles já estão cientes dos últimos acontecimentos escandalosos.

Após atualizar minha agenda, saio do meu escritório e caminho pelos corredores, em busca de meus funcionários. Para o meu agrado, todos estavam no estúdio produzindo com concentração. Meu corpo se tranquiliza assim que eu percebo que o jornal está em boas mãos.

Meu pai é do tipo que rejeita e despreza funcionários, apenas por eles serem o que são, todos sabem disso. Mas eu não vejo muita diferença entre eu e eles além do cargo. Estou ciente de minhas responsabilidades e que eles farão o que eu mandar, mas por qual motivo eu usaria isso para prejudica-los? Eles me ajudam muito bem e são ótimas pessoas, até fico feliz por tê-los aqui comigo.

Como várias outras coisas, sei que é impossível mudar a mente de meu pai sobre algo. Ele sempre foi assim e sempre será, não importa o que digam. Se favorece ele, é o que basta, não importa o que outras pessoas podem passar por sua causa.

A cada momento que passa eu percebo o quanto fui cego por muito tempo. Quantas coisas ruins eu fiz sem perceber, só por ele ser meu pai? Eu sempre tive um caráter e uma ética a zelar, mas as vezes, nos tornamos cegos pela nossa própria consciência. No final de tudo, sei que fiz o que eu pude.

E farei mais se eu puder daqui para frente.

— Bom trabalho, pessoal! - elogio os funcionários a minha volta, com um sorriso no rosto.

Sorrindo mesmo após tanta tristeza e decepção em mente.

N/a: Começando a temporada de viagem para o Brasil, essa vai dar muito o que falar 😼

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora