Capítulo Setenta e dois.

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PEDRO TÓFANI.
12 de agosto de 2019: 2 dias sonhando.

Quando finalmente chego no hotel, procuro a chave em meio as plantas e percebo que João já está dormindo. Tiro os sapatos e me deito na cama, olhando para o relógio. Duas horas da manhã.

Me deito ao lado do loiro, exausto e chateado por não ter tido tempo de acompanha-lo até em casa. Em segundos, eu acabo caindo no sono. O dia foi puxado e burocrático, tudo o que eu precisava para dormir bem era estar ao lado do meu namorado.

De manhã, quando acordo, ele já não está mais na cama comigo. Me espreguiço e olho para o relógio da mesma maneira que fiz antes de dormir. Oito horas da manhã.

Caminho até o banheiro e tomo um banho gelado, lavando o rosto para acordar rapidamente e começar mais um dia em São Paulo. Faltavam apenas dois dias para voltar para Barcelona, e eu ainda não havia resolvido a minha vida por completo, nem levado João aos lugares mais legais possíveis para aproveitarmos juntos.

Deixo meu celular carregando no quarto e desço para tomar café, também não encontro ele no ambiente de refeição. Um pouco chateado, faço tudo sozinho e volto para o quarto, me perguntando onde João estava e o motivo pelo qual ele não me informou que sairia. Quando abro a porta do quarto, minhas sobrancelhas se levantam: ele havia voltado e estava sentado na cama, escrevendo algo no notebook.

— Bom dia, você lembra que tem namorado? - questiono, em tom irônico e brincalhão. Ele vira o rosto para mim por alguns segundos, com uma feição séria.

— Eu que te pergunto. - ele responde, voltando seu olhar para o notebook.

— Eu acordei e você não tava mais aqui, o que foi fazer? - digo, me sentando na cama devagar e virando apenas o rosto para ele.

— Fui escrever em outro lugar. - murmura, simples.

O encaro sem entender seu jeito, me aproximando um pouco mais.

— Você não vai nem me dar um beijo de bom dia? - insisto, acariciando as costas do loiro. Ele não me responde, apenas continua trabalhando. — O que foi, João?

Ele ainda não diz nada. Não insisto mais, apenas suspiro e pego meu celular e as chaves, colocando no bolso da minha bermuda.

— Você não vai mesmo me dizer? - questiono, de pé. — Não precisamos conversar agora, se você não quiser. Só me diz, eu fiz alguma coisa?

— Você ainda pergunta?

— Pergunto. O que eu fiz? A gente mal se viu de ontem para hoje.

— Esse é o problema, você me prometeu algo e descumpriu. - diz, se virando para mim. — Pode ser uma besteira pra você, mas eu fiquei te esperando. Fiquei esperando que você fosse lá me ver ou sei lá, me acompanhar até aqui depois. Fui um bobo.

— Amor. - respiro fundo, soltando os ombros e me sentando novamente na cama. — Eu só não tive tempo.

— Você poderia ao menos ter me falado que não ia. Eu fiquei te esperando depois, e você nem respondia minhas mensagens. Foi um dia importante pra mim e você não tava lá.

— Também foi importante pra mim, João. E eu queria ter ido, mas não teve como. Eu errei em não ter te avisado, não sabia que você tinha ficado me esperando por tanto tempo. - explico, com o tom de voz calmo.

— Você me falou que só ia participar de uma reunião e essa reunião não durou o dia inteiro, eu tenho certeza. - ele afirma, encarando as próprias mãos. — Me diz, Pedro.

— Não durou, eu não disse que tinha durado. Mas apareceram outras coisas e eu fiquei cheio, não tinha tempo de passar lá embaixo. - respondo, um pouco frustrado com a discussão. — Mas eu deveria ter te avisado, eu sei disso. Eu só não pensei na hora.

— Só não pensou em mim?

Fecho os olhos e enterro meu rosto nas mãos, suspirando lentamente.

— Não foi isso que eu disse.

— Eu não disse que foi.

— Para de insinuar coisas ruins. - peço apoiando uma de minhas mãos na cama. — Eu não quero brigar.

— Eu também não quero brigar, Pedro. Me diz o que você foi fazer.

— Eu fui resolver as coisas da reunião, só isso. - falo, subindo meu olhar de encontro ao dele. — Acabou tomando mais tempo do que deveria.

Ele também suspira e se vira novamente para o computador, apoiando o queixo em uma das mãos.

— Tá bom.

— Para com isso. - digo, revirando os olhos levemente. — Eu não entendo o motivo de tanta raiva.

— Eu não tô com raiva, só tô chateado. - explica, jogando os ombros minimamente. — Esperei uma coisa que não aconteceu e me frustrei, só isso.

— Eu queria ter ido te ver, amor. É sério. Eu sei o quão importante e legal deve ter sido pra você participar de tudo isso depois de ficar anos na sombra do seu pai. - falo, deslizando minha mão até a perna do loiro. — Não deu tempo, mas agora eu tô aqui pra ouvir como foi tudo. Não é isso que importa?

— Você estar aqui agora não muda que você não esteve ontem como prometido. - sussurra, encarando a tela brilhante do eletrônico. — Mas tudo bem.

— Não tá tudo bem, você tá chateado. Eu queria muito ter ido, lindo, de verdade. Eu quero muito que você me mostre tudo o que você fez ontem e eu tenho certeza que vou ficar muito orgulhoso. Me desculpa não ter te avisado que eu não poderia mais.

— Tudo bem. - ele fala, simples. — Acontece.

— Me perdoa? Eu vou ficar mais atento a isso, eu prometo.

— Não me prometa se você não tiver certeza de que vai tentar cumprir.

— João, é sério. Eu te prometo.

Ele assente levemente e coloca o notebook no colo, se aproximando para deitar a cabeça em meu peito.

— Mas eu tenho algo pra te contar e, eu preciso que você tente me entender. Talvez não seja tão fácil de ouvir.

— Do que você tá falando, amor?

N/a: ai.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora