Capítulo Sete.

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PEDRO TÓFANI.
10 de maio de 2019.

Dois dias de treino e descanso antes do próximo jogo. É muito difícil para um time se reerguer após uma eliminação em um campeonato desejado por todos, mas faz parte do processo.

Minha mente está levemente conturbada após tantos acontecimentos frustrantes, além da matéria do jornal que não contribuiu para a minha confiança e desenvolvimento pós jogo. O treino de ontem havia sido leve devido a viagem, mas hoje, voltaríamos a rotina.

No campo, ao ver o esboço da escalação do treino, percebo algo diferente: Eu estou no banco.

Exatamente. Eu estou escalado pro banco de reservas.

Meus olhos se arregalam e automaticamente procuram o do técnico, enquanto ele compartilha as informações do treino para os jogadores que estão no campo. Assim que sua fala é encerrada, bufo caminhando até o banco e me jogo bruscamente, com os braços cruzados.

Todos podem perceber a minha fúria.

Nas arquibancadas e na beira do campo, alguns jornalistas comentam sobre o treino aberto com seus microfones e fones de ouvido, compartilhando as informações dos jogadores escalados até o momento.

Minha frustração se duplica ao perceber que um desses jornalistas é João Romania.

De novo esse cara?

Ele me encara por alguns segundos antes de escrever freneticamente em seu bloquinho de notas ridículo, com aquela cara de quem sabe de tudo.

Irritante.

Meus colegas de trabalho que estão no banco, conversam sobre diversos tópicos relacionados ao treino, mas eu não me importo em participar dessa conversa no momento. Algo me distrai a todo instante.

No intervalo, ando em passos rápidos até o vestiário e procuro meu celular, ligando para Maria Luísa, minha melhor amiga.

— Oi. - murmuro, me sentando no canto do vestiário. — Eu queria saber se hoje você tá livre.

— Oi Pê! - ela diz, animada. — Durante a tarde eu estou, mas você está no treino, né?

— Estou, mas quero sair daqui. - peço. Minha garganta fecha em um nó de angústia.

— Claro, eu passo aí pra te buscar, tá? Vou de uber e saímos daí com seu carro. - afirma, do outro da linha.

Sussurro uma resposta em afirmação, guardando o celular no bolso e pensando em como farei para sair no meio do treino sem que ninguém perceba.

A verdade, é que todos vão perceber em algum momento.

Mas eu não ligo.

O futebol tem épocas muito boas, mas também muito ruins. É muito boa a sensação de estar em boa fase, fazendo gols e com confiança e determinação, encantando a torcida. Ao mesmo tempo, é drástica a sensação contrária.

Eu sempre estive muito preso no amor da torcida, no favoritismo do técnico e na confiança invejável que todos diziam que eu tinha, mas hoje, eu sinto que estou perdendo tudo aos poucos.

A cobrança que meus pais depositaram em mim nunca foi um problema tão grande, mas em algum momento recente eu comecei a me importar mais com o que eles acham de maneira exagerada. Acredito que a mudança de time causou isso em mim.

Mudar de país, de time, mudar toda sua rotina e língua predominante, não é para qualquer pessoa. Morar longe dos meus pais fez com que eu me tornasse mais independente, mas também, mais inseguro nas minhas ações.

Da minha mudança em diante, só recebo ligações deles para ouvir críticas e pedidos, nunca para perguntar como eu estou ou me elogiar de alguma maneira.

Parece que para eles é quase um crime me elogiar.

Suspiro negando com a cabeça enquanto pego minha mochila com as roupas dentro, colocando nas costas e saindo do Ct (Centro de Treinamento) para esperar minha melhor amiga do lado de fora.

Quando me vê, seu sorriso animado e feliz se torna uma expressão preocupada. Entro no carro em silêncio e apenas a abraço de lado, desejando que todos os meus problemas sumam imediatamente.

Mas eles não somem.

Na verdade, aparecem lágrimas em meus olhos.

Por longos minutos eu me permito chorar dentro daquele carro, no abraço de Maria Luísa, o meu favorito.

— Eu não sei o que aconteceu, mas eu estou sempre aqui, Pê. - ela murmura, acariciando meus cabelos.

Assinto com a cabeça levemente, apertando o abraço da maneira que posso. Malu sempre demonstrou se importar comigo e me entender do jeito que eu sou, e por isso, sempre fomos muito próximos. Nossa conexão é incrível.

Mais alguns minutos de choro e eu consigo me reerguer, limpando os olhos com as costas das mãos e deitando a cabeça no banco, de olhos fechados.

Meus olhos ardentes se abrem e eu encaro a porta do Ct, me deparando com a figura loira novamente. Seus olhos curiosos me encaram mesmo que de longe e ele coloca o bloquinho no bolso, sem tirar os olhos de mim. Eu também não desvio.

Malu liga o carro para irmos embora, mas mesmo assim não corto o contato visual com o loiro nem por um instante. Algo me prende naqueles olhos atrativos.

Ao chegar em casa, me jogo na cama em um suspiro cansado, já arrependido da minha decisão. É claro que eu levaria uma punição pela fuga, e não seria compreendido se explicasse o meu motivo.

Mas isso era um problema para o Pedro do futuro.

Porque o Pedro do presente, só quer dormir para não chorar mais.

O Pedro do presente, está frustrado e triste, inconformado com o rebaixamento para o banco de reservas.

O Pedro do presente, sabe que fez uma partida ruim na Semi-final da Champions League.

Mas ele também sabe, que estava fazendo o seu melhor.

Talvez eu só não seja tão bom assim quanto eu acho que sou.

                                           ✶

N/a: Um pouquinho da visão frustrada do Pepê :(

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