Capítulo Trinta.

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PEDRO TÓFANI.
8 de junho de 2019.

Passando a mão esquerda pelos meus cabelos suados, encaro a tela do meu celular. Uma chamada perdida de João.

Será que ele viu as flores?

Clico para retornar a chamada de vídeo, caminhando para um local mais reservado e silencioso.

— Me ligou? - pergunto, como se não fosse óbvio. Ele ri, um pouco sonolento.

— Liguei. Onde você está? - ele responde, coçando os olhos.

— Tô no racha, indo para casa. - digo, encostado na parede do banheiro. Ele faz uma careta. — Eu te acordei?

— Acordou, mas ainda bem. Gostei das flores. - ele sorri, envergonhado. Mordo meu lábio inferior, segurando uma breve risada tímida. — Queria te agradecer pessoalmente.

— Elas me lembraram você, e a letra também. - afirmo, sincero. — Que tal sairmos mais tarde?

— Vem aqui em casa. - ele chama, com um biquinho.

— Você está preguiçoso demais!

Nós rimos juntos, encarando fixamente os olhos um do outro por aquela telinha minúscula. Meu peito arde de saudades de João.

— Te vejo em uma hora então. - digo, antes de desligar a chamada.

Caminho de volta para o campo fazendo algumas caretas. Há poucos minutos, eu havia caído em cima do meu braço e machucado o pulso, e segurar o celular piorou um pouco essa circunstância.

Pego meus pertences e me despeço rapidamente dos meus amigos, voltando para casa às pressas, na intenção de acabar com essa saudade de uma vez por todas.

Um banho gelado foi o suficiente para me relaxar e acalmar os nervos. Após o banho, faço um curativo mal feito em meu braço machucado e visto uma roupa confortável, partindo para a casa de João.

Quando chego, ele já está na porta para me receber com aquele sorriso lindo, de orelha a orelha. Tiro minhas mãos dos bolsos e o abraço apertado por longos segundos, me aconchegando em seu abraço. Nossos rostos se afastam minimamente e ele se permite me roubar um selinho, seguido de uma risadinha.

— Oi. - murmuro, encostando nossos narizes.

— Oi. - ele responde, repetindo tal ato. — Vem comigo.

Ele usava apenas uma calça moletom branca, que realçava os traços de seu corpo, mesmo ele sendo tão branco quanto. Não consegui parar de reparar nele desde que coloquei o pé nessa casa, pela qual passeavam gatos a todo instante.

No meio do caminho, falo com alguns deles, acariciando os pelos ou apenas dando um tchauzinho, enquanto João me puxa pela mão até o quarto dele.

Ele se joga na cama e me puxa junto, me abraçando com todo seu corpo.

— Meu Deus, você tomou alguma injeção de carinho extremo? - falo, beijando seu rosto. Ele ri, apertando nosso abraço.

— Eu só estou muito feliz. Um cara aí me mandou flores hoje.

— Quem te mandou flores? Eu deixei? - pergunto brincalhão, beliscando sua cintura.

— Um moreno super lindo! A gente tá saindo. - dispara, provocante. O encaro em choque enquanto uma risada baixa ecoa pelo quarto.

— Eu não permiti isso! Como ele é?

— Ele é muito simpático, mesmo com cara de marrento. Ele me deu flores azuis e um cartão com uma música que eu gosto muito. - responde, entrelaçando nossas pernas.

— E você tá apaixonado? - pergunto, sem pensar muito.

De repente, a brincadeira acabou. O sorriso de João desaparece no mesmo instante, e seus olhos se fixam nos meus. O silêncio prevalece enquanto nos olhamos, percebendo que, já não era mesmo mais uma brincadeira.

— Estou, muito. - ele sussurra, como se fosse o nosso segredo. Volto a me jogar por cima dele e encho seu rosto de beijos, enquanto ele ri tentando se soltar das minhas carícias exageradas.

— Me dá um beijo aqui! - peço, esticando minha cabeça. João nos rola na cama, tentando se desvencilhar.

— Pedro! - exclama, tentando segurar meu rosto.

— Só um beijinho! - insisto, me dando por vencido quando ele segura minhas mãos e seu rosto se aproxima.

— Só depois. - diz, beijando minha bochecha. João se aninha em meu peito e nos cobre com uma coberta macia, ligando o ar-condicionado do quarto.

— Você me chamou pra dormir? - questiono, indignado.

— Sim e não. Queria te agradecer pessoalmente pelas flores, são lindas. Mas também, estava com saudades. - explica, voltando a se aconchegar em mim.

Passo meus braços pelo seu corpo e acaricio seus cabelos com leveza, beijando sua testa.

— O que é essa faixa na sua mão? - pergunta, reparando no meu pulso machucado.

— Nada demais, só me machuquei jogando. - amenizo, fingindo que não sentia tanta dor assim.

— Quando acordarmos, vou cuidar dela direitinho. - ele promete, em meio a um bocejo.

— Se você acordar amanhã né? Com um sono desses, acho que só próximo ano! - brinco, descendo o carinho para as costas do loiro.

— Engraçado você! Vou acordar primeiro.

— Até nisso você quer perder pra mim? - pergunto.

— Me desculpe, mas em rotinas eu sou profissional. Impossível você ganhar de mim nessa, você vai ter que lidar com isso.

— Repita isso amanhã, quando você acordar sozinho na cama e subir um cheiro de almoço. - provoco, sorridente.

— Veremos.

Ficamos em silêncio e com os olhos fechados, apenas ouvindo a respiração um do outro por alguns instantes.

Quando a luz do quarto é finalmente desligada, escuto um breve sussurro.

— Pepê. - ele chama, baixinho.

— Oi, João? - murmuro, abrindo apenas uma brechinha dos olhos.

— Se você acordar primeiro, não me deixa aqui sozinho.

— Não vou deixar.

                                          ✶

N/a: 🥺. menorzinho hoje pq amanhã minhas aulas voltam.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora