Capítulo Doze.

410 42 31
                                    


JOÃO ROMANIA.
13 de maio de 2019.

Na volta para casa, cochilei no banco do passageiro enquanto Tófani dirigia chapado pelas ruas escuras de Barcelona. Eram cerca de quatro horas da manhã e eu teria que acordar às seis.

Claramente, eu já estava arrependido.

— Sexta-feira você está livre dos treinos, né? - pergunto, antes de descer do carro. Tófani assente. — Eu que vou te levar em um lugar, não aceito "não" como resposta.

— Vai passar para me buscar? - ele questiona, sorrindo.

— Vou. Te mando uma mensagem. - assinto com a cabeça, levemente tonto.

Nos despedimos com sorrisos tortos e eu entro em casa, me perguntando a todo momento o motivo de ter me submetido a isso.

Não demora muito para que eu caísse no sono, acordando exatamente às seis da manhã, como todos os outros dias da minha vida rotineira e cansativa.

Mas também, feliz.

17 de maio de 2019.

Finalmente Sexta-feira! A semana havia passado se arrastando como nunca passou, eu já não aguentava mais contar os segundos para levar Tófani no lugar que eu havia escolhido a dedo.

Pode-se dizer que estou ansioso para mostra-lo que existe um mundo incrível além das drogas e curtição: O meu mundo. E eu quero que ele conheça.

Com uma calça cargo, camiseta branca e óculos redondos, saio de casa às cinco horas da tarde, informando ao moreno que estava a caminho.

Ele me responde com uma mensagem que havia uma carinha feliz, afirmando que estava a minha espera. No meu carro, tocava o de sempre: Charlie Brown Jr.

"Me encontra" era a música que estralava no som do meu carro quando Tófani entra no banco do passageiro, sorrindo de orelha a orelha.

— Olha quem está menos antipático hoje! - brinco, empurrando levemente seu ombro.

— E olha quem está menos careta. - ele ri, passando as mãos pelos cabelos. — Óculos maneiro.

— Obrigado. - jogo os ombros, evitando um sorriso.

Dirijo até o local batendo levemente as mãos no volante, no ritmo das músicas que tocavam. Tófani parecia aproveitar um pouco também, encarando a janela.

— O seu local é uma biblioteca? - questiona, assim que meu carro é estacionado. Assinto com a cabeça freneticamente, sorrindo.

— É um dos meus lugares favoritos, vem comigo. - respondo trancando o carro e o puxando pela mão, até a porta da biblioteca.

Entramos em silêncio, Tófani encara o local como se fosse algo novo para ele. Talvez seja.

Converso um pouco com a moça do balcão, que de tanto vir aqui, eu já considerava uma amiga. Conto para ela que dessa vez trouxe um colega, fazendo-a sorrir.

— Você é uma graça, João. - ela diz, virando um pouco a cabeça de lado.

Sorrio tímido para a mulher ruiva, pegando na mão do jogador e caminhando com ele pela biblioteca, até encontrar o meu cantinho.

No fundo da biblioteca, haviam dois puffs e uma prateleira com os meus livros preferidos. Ninguém mexia no meu cantinho além de mim.

Tiro minha bolsa do corpo, colocando-a no chão enquanto me sento em um dos puffs. Tófani acompanha meus movimentos, um pouco perdido, mas também se senta.

— O que vamos fazer em uma biblioteca? - pergunta, com uma careta.

— Ouvir música e ler. - digo animado, retirando um livro da minha bolsa.

Aristóteles e Dante.

— Não sou muito fã de leitura. - resmunga, cruzando os braços.

— E eu não sou fã de becos, mas acontece. - jogos os ombros, sarcástico. — Aqui na biblioteca deve ter outro livro desse, igual o meu. Podemos ler juntos.

— A biblioteca é enorme, eu nunca vou encontrar. - retruca, procurando uma desculpa.

— Terceiro corredor à esquerda. - digo, desinteressado. Ele me olha em choque, bufando antes de levantar e seguir o caminho dito por mim.

Sorrio vitorioso, abrindo o livro em minha mão e procurando a parte em que parei. Não havia lido muito esses últimos dias, me faltava tempo para jogar as pernas pro alto e me afundar na história.

Logo vejo Pedro voltar para o puff, com o livro em mãos.

— Encontrou o livro? - questiono, mesmo sabendo que ele havia encontrado. O moreno me olha com deboche, folheando o livro.

Conecto meu fone no celular e entrego um dos lados para ele, ouvindo o de sempre.

De início, ele parece se recusar a ler, mas com o passar dos minutos, começo a perceber suas expressões enquanto está lendo concentrado.

O encaro por uma grande quantidade de tempo, apenas reparando nas suas reações a cada frase nova que passa pelos olhos dele. Me sinto realizado por traze-lo para o meu universo por algumas horas.

— Você parou de ler? - ele pergunta, me encarando por cima do livro. Desvio o olhar rapidamente, encarando meus pés cruzados.

— Estava esperando você chegar na parte que eu estou. - respondo coçando o cabelo, disfarçando o fato de ter sido pego no flagra.

— Estou gostando. - assume sorrindo, antes de voltar a ler.

Eu me identifico em partes com o livro, e estou ansioso para termina-lo. Os melhores livros são os que eu encontro em um dia qualquer na biblioteca, apenas com a intenção de me distrair.

Esse livro tem me feito questionar sobre muitas coisas da vida. Ari e Dante são muito diferentes. Dante é tudo que Ari não é e vice e versa. E os dois se complementam muito bem e o laço que os dois desenvolvem é muito lindo.

"Um garoto como Dante, com um jeito tão único de ver o mundo, deveria ser a última pessoa capaz de romper as barreiras que Ari construiu em volta de si. Mas quando os dois se conhecem, logo surge uma forte ligação."

Talvez não sejam só Aristóteles e Dante que estão criando uma forte ligação.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora