Capítulo Cinquenta e oito.

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JOÃO ROMANIA.
29 de julho de 2019.

Giro o controle em minhas mãos enquanto espero Pedro finalmente se acomodar no sofá. Após o banho, vesti apenas uma camiseta e, me contrariando, Pedro vestiu uma bermuda. Agora, estou pensando em um filme legal para colocar enquanto ele pede o sorvete da maneira mais demorada possível.

— Amor! Ninguém hoje em dia pede sorvete ligando. - reclamo, preguiçoso. Posso ouvir sua risada vindo da cozinha.

— Eles já estão vindo, meu amor. Estou separando os copinhos para comermos.

— Desse jeito parece até que a casa é sua. - brinco, largado no sofá.

— É nossa.

Volto meu olhar para televisão, levemente desinteressado. Os filmes que passavam eu já havia assistido, e não conseguia achar nenhum que parecesse bom o suficiente para assistir com o Pedro.

O invés de correr para um filme de romance, coloquei "Extraordinário". Talvez Pedro nunca tenha assistido e, na minha opinião, todos deveriam assistir.

Quando Pedro senta no sofá, a campainha toca e ele corre para pegar nosso sorvete. O pote é de tamanho médio e eu facilmente comeria ele todo sozinho.

— Por que você pegou esses copos? - questiono, ao pegar o pote.

— Pra gente comer neles. - ele responde, óbvio. Solto um risinho baixo com seu jeito.

— Eu comeria um desse todo sozinho. Não precisamos de copos. - digo, pegando uma colher e colocando dentro do pote para pegar uma boa parte do sorvete.

Quando estou prestes a colocar a colher na boca, Pedro avança em mim e come primeiro.

— Pedro! - grito, assustado.

— Só pra você parar de ser respondão.

O encaro indignado e ele ri, com os lábios todos sujos de sorvete.

— Você tá um pouquinho sujo. - aviso, fazendo um sinal com os dedos. — Posso limpar?

— Claro que pode. - ele revira os olhos um pouco risonho, me entregando um guardanapo.

Pego o guardanapo e coloco em meu bolso, o deixando confuso.

— Ah! Pode amor. - ele diz, quando percebe o que eu realmente queria fazer.

— Ainda tô com saudade. - sussurro, acariciando a bochecha do moreno.

— Essa saudade nunca vai embora, né? - ele diz. — Foi tempo demais.

— Mas agora acabou.

— Acabou.

Nós sorrimos um para o outro antes que eu me incline para beija-lo. É um beijo lento e inocente, cheio de carinho. Tudo com Pedro era cheio de carinho, na verdade.

— Posso comer meu sorvete agora, ou você vai tirar de mim? - questiono, com nossos lábios ainda colados.

— Se toda vez que eu tirar, você me retribuir assim... sinto muito, mas você nunca mais vai comer sorvete. - ele sorri com o canto dos lábios e eu o respondo com um tapa no braço.

— Ridículo!

No final, engatamos em uma conversa e mal assistimos o filme. Eu sempre gostei muito de falar e me comunicar com as pessoas a minha
volta, Pedro sempre me dava essa oportunidade para falar até cansar.

E era isso que eu fazia.

Começamos a falar de trabalho, em seguida de animais, falamos de família e assuntos fúteis. Agora, estamos entrando em um assunto um pouco desconfortável.

— João. - ele começa, incerto. — Eu quero te apresentar meus pais.

Meus olhos se arregalam levemente com a fala repentina. Já era esperado que isso fosse acontecer, mas, não agora. Eu não sabia se estava pronto.

— C-Claro amor. - afirmo, abrindo um sorriso desengonçando.

Pedro me encara como se não conseguisse decifrar minha reação. Ficamos em silêncio por cerca de três segundos e ele se vira para mim novamente.

— Você ficou nervoso? - pergunta, deslizando sua mão pelo sofá até ela chegar na minha.

— Fiquei. - assumo, facilmente. — Não estava esperando, desculpa.

— Lindo - ele ri baixinho. — Tá tudo bem. Mas você não precisa se sentir assim, até porque, você é ótimo em conversar com as pessoas. Meus pais não são as melhores pessoas do mundo mas com certeza vão te adorar.

— E se eles não gostarem de mim? Sabe, já basta o meu pai no nosso meio.. - murmuro, apertando meus dedos em volta de sua mão.

— Não existe a possibilidade de alguém não gostar de você.

— Você não gostava. - acuso, brincando com ele. Ele nega com a cabeça enquanto ri.

— Mas eu não te conhecia. Depois que te conheci, mudei de opinião. Eu vou informá-los da gente e tentar marcar o dia para vê-los. Eles estão no Brasil.

— Gostei da parte de viajar pro Brasil. - digo, ignorando por instantes todo o resto do que ele havia dito. — Podemos passar uns dias?

— Se você puder, sim. - ele afirma, soltando minha mão para pegar um pouco de sorvete no pote. — Vamos decidir isso com calma, tudo bem?

— Tudo bem, amor. Depois você liga pra eles e nós resolvemos. Preciso ver a minha agenda também.

— Perfeito.

— O sorvete? Também achei. E olha que o sabor creme não é um dos meus favoritos. - faço uma careta.

— Tudo. O sorvete, você e nós. - responde, simples. — Eu adoro esse, muito gostoso.

— Acho ele simples demais, não tem um gostinho diferente, sabe?

— Você prefere coisas mais diferentes? - pergunta, encarando o pote quase vazio. — Pra mim, o básico funciona.

— Depende do dia. As vezes eu só quero um sorvete de chocolate pra ser feliz. - digo, jogando os ombros.

Quando terminamos de comer, coloco o pote na mesinha de centro e me deito no sofá, puxando Pedro e nossa coberta fofinha para perto de mim.

— Vem cá. - chamo, o abraçando.

Pedro deita em meu peito e afunda o rosto em meu pescoço, sentindo meu cheiro. Sua perna rodeia minha cintura e eu acaricio suas costas levemente, aproveitando a preguiça.

— Você está mesmo afim de conhecer meus pais? - ele pergunta, após alguns segundos em silêncio.

— Estou. É só nervosismo.

Ele assente com a cabeça e se aconchega mais em meu corpo. Não tem nada melhor que um cochilo pós sobremesa.

N/a: voltando aos pouquinhos. :)

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora