Capítulo Trinta e seis.

424 52 26
                                    


PEDRO TÓFANI.
22 de junho de 2019. — dias depois.

Os últimos dias foram felizes, assinei contratos e fiz planos de mudança, me sentindo realizado. Jogar no Barcelona sempre foi meu sonho, mas eu sentia que não me encaixava mais e precisava de algo novo.

Agora eu tenho certeza que tomei a decisão correta.

Apesar dos medos da mudança, da distância dos amigos e de João, era um acontecimento feliz. Ou era para ser.

Falando em João, não nos vemos há alguns dias. Ele diz estar se afundando muito no trabalho e eu apenas aceitei, visto que sempre soube que ele é um homem dedicado. O Diário de Barcelona, agora enfrenta uma grande crise, e eu queria conseguir contribuir com algo, mas infelizmente, não tem nada ao meu alcance além de mensagens carinhosas e de encorajamento.

Eu ainda não pensei no que vai acontecer quando eu for para longe. Vamos terminar o que mal começamos? Vamos continuar e ver no que dá? Eu sei o quanto gosto de João e tenho certeza que não é algo passageiro.

Eu realmente adoro ele e o quero por perto.

Talvez a gente precise conversar um pouco antes de eu ir.

Hoje nós combinamos de sair juntos. Eu imaginei que seria para uma sorveteria ou algo do gênero, mas ele me convidou para ir na casa dos pais dele, afirmando com certeza que não teria ninguém em casa além de nós e sua mãe.

Porque por alguma razão, o pai dele não é muito amável.

Agora, estou no carro ouvindo a playlist favorita de João, a caminho de sua antiga casa. Ele já está me esperando na porta quando estaciono, com os braços abertos a minha espera. O abraço um pouco nervoso e beijo sua bochecha, antes que ele me dê passagem para entrar.

Sua mãe está na sala com uma sorriso de orelha a orelha e com as mãos na cintura, nos encarando gentilmente.

— Então esse é o famoso cara que está te roubando de mim? - ela diz, conforme seu sorriso vai sumindo.

Meu corpo enrijece de nervosismo, minhas mãos suam e eu encaro João, buscando apoio.

Segundos depois, o silêncio se estoura  uma gargalhada da senhora.

— É brincadeira! Pedro, né? Bem vindo. - ela ri, acariciando meu braço. João nos encara mordendo o lábio inferior, contendo um sorriso.

Ela me abraça apertado, como se já me conhecesse há muito tempo. Retribuo na mesma intensidade.

— João fala muito de você. - digo, tímido. Ela sorri orgulhosa e beija o rosto do filho.

— De você ele fala muito mais, tenho certeza! Ele não consegue nem conter um sorriso quando cita se-

— Mãe! - João repreende, envergonhado. Suas bochechas ficam vermelhas e ele desvia o olhar para o lado. — Vem Pedro, vamos lá pro quarto.

Ele me puxa, nos tirando daquela conversa engraçada e um pouco constrangedora.

— Você espera eu tomar banho? Depois podemos ver um filme na sala, mamãe adora coisas assim. - ele diz, tirando a camisa enquanto fala.

Me deito de bruços em sua cama, tentando não seca-lo durante esse ato. Falho miseravelmente.

— Não tenho como fugir. - brinco, rindo baixinho. Ele me mostra a língua e entra no banheiro, fechando a porta.

Aproveito para passear meus olhos pelo seu antigo quarto. Uma decoração claramente adolescente, com cores juvenis e pôsteres engraçados.

As paredes eram azuis e no teto haviam aquelas estrelinhas brilhantes, que as mães colocam no teto do quarto dos filhos que tem medo do escuro.

Será que ele ainda tem medo do escuro?

O quarto tem alguns instrumentos e muitos, muitos livros mesmo. Parecia mais uma biblioteca do que um quarto. Vários papéis pregados na parede revelavam seus interesses e hobbies.

De repente, me deparo com um cartaz engraçado. No meio dele havia um João desenhado em palitinhos, e em volta, várias setas com frases e textos.

Era um cartaz de sonhos.

Fico encarando aquele cartaz por mais tempo do que deveria, nem percebo quando João aparece atrás de mim, abraçando minha cintura.

— Vejo que já conheceu o João Palito.

— Que susto, cara. - estremeço. — Coitado, esse é o nome dele?

— Sempre foi. - joga os ombros, indiferente. — Nunca pensei em nada melhor.

— Eu gostei desse cartaz, você tem realizado muitos sonhos? - questiono, encarando-o novamente.

— Não muitos.. alguns mudaram e outros continuam aqui no meu coração, por mais difíceis que sejam. Acho que um dia eu preciso refazer esse cartaz e ver no que dá.

— Se você quiser, podemos fazer juntos. - digo, sorridente. — Podemos fazer uma lista de coisas que queremos realizar juntos e separados, e ajudar um ao outro.

Ele fica em silêncio, provavelmente se deixando levar pelo pensamento.

— Você quer se conhecer mais, né? - pergunto, induzindo ele a pensar. Ele assente. — Então, isso poderia ser uma forma de você realizar as coisas aos poucos, e eu adoraria te ajudar.

— Você não existe, Pepê. - murmura, um pouco emocionando. Sorrio com o canto dos lábios e beijo seu nariz, em um ato de carinho.

— Tem papel e lápis aí? Já sei o que vamos fazer hoje. - falo, muito empolgado.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora