Entrelinhas De Barcelona | pejão

Capítulo Trinta e quatro.

JOÃO ROMANIA.
16 de junho de 2019. — dois dias restantes.

Em dois dias pode acontecer muita coisa. No meu caso, eu posso salvar o jornal da falência ou, enterra-lo mais ainda junto com meu cargo de sub chefe.

Me sinto em um livro em que o personagem principal tem que abdicar de toda a sua essência natural para salvar alguém ou algo que ele ama.

Talvez seja isso mesmo que eu esteja fazendo.

Assisti diversos treinos esta manhã. Escrevi vários esboços de matérias sobre as janelas de transferência, mas eu sabia que, nenhuma delas chamaria a atenção do público.

Agora, no período da tarde, aproveitei para passar no parque e espairecer a mente. Eu sempre gostei disso. Caminhar pela praça, frequentar a biblioteca e ir na cafeteria sempre foram meus meios mais confortáveis de me encontrar comigo mesmo.

Isso me lembra a minha autobiografia, que até agora está estacionada. Com todo esse problema no Diário de Barcelona, eu nem havia percebido que perdi o mínimo foco que eu ainda tinha nesse projeto. Meu pai estava cada vez mais irritado e descontando sua raiva em mim.

Eu não o culpo, sei que várias vezes eu poderia ter feito melhor do que eu fiz. Meu celular está no silencioso, mas eu apostaria milhões de reais que ele está me ligando há horas para saber o motivo de eu não estar no escritório.

Meu pai sempre foi durão e estressado, mas nunca comigo e com minha mãe. Isso começou quando ele me contratou e me elegeu como sub chefe, provavelmente porque ele precisava de mais do que eu poderia proporcionar.

Os funcionários sempre reclamam dele às escondidas e meus amigos sempre ressaltam que ele fica mais calmo quando eu estou por perto.

Talvez seja porque ele não resolve nada quando eu estou por perto.

Ultimamente ele está mais estressado que o normal, e eu o entendo. Há chances de que eu só entenda porque sou filho dele, mas eu o entendo. Ter um trabalho derrubado de repente, deve ser frustrante.

Minha mãe sempre me disse que "coisas boas acontecem com pessoas boas". Eu sou uma pessoa boa, e eu sei que meu pai também é. Quando criança, ele sempre foi o meu herói, minha inspiração. Mas quando entrei na adolescência e fui crescendo, percebi que tudo era apenas uma idealização de uma criança.

Ele não era meu herói.

Nesse momento, na verdade, ele parecia mais meu inimigo.

Pode ser que não seja para tanto, mas eu sempre fui acostumado a receber carinho dos meus familiares, sempre fui apegado demais a tudo isso. Ver meu pai agir dessa maneira, é uma grande decepção para o João que um dia viu ele
como a pessoa mais incrível do mundo.

Sentado no banco da praça, pego meu celular e passo os olhos pelas mensagens que estão no topo. Um "Bom dia 🤍" de Pedro, mensagens raivosas do meu pai e um convite de almoço da minha mente.

Respondo apenas minha mãe e me levanto voltando a caminhar até o escritório novamente. O sol estava forte, mas não o suficiente para deixar o ar quente. Meus cabelos cacheados balançavam contra o vento da mesma maneira que meu coração balançava dentro do meu peito.

Ver a mensagem de Pedro me lembrou que temos uma data marcada para o fim do que mal começou.

Primeiro de agosto.

Nossa data de validade era um pouco mais de um mês e meio.

Após passar no escritório, volto para minha casa e decido ligar para o moreno. Ele atende no primeiro toque.

— Estava esperando você ligar. - diz, com um bico nos lábios.

— Demorei pra chegar em casa, desculpa. - respondo, me sentando na cama.

— Você tá lindo, seus cachos estão uma gracinha. - ele sorri, com o rosto bem perto da câmera do celular.

A visão dos olhos brilhantes dele na tela, era encantadora.

— Obrigado. Eu ia dizer que você também está, mas você sempre está lindo demais.

— Como está na empresa? - ele questiona, curioso. — Percebi você meio triste ultimamente..

— É.. as coisas não estão muito legais. Tenho tentado ao máximo escrever alguma matéria que impressione o público.. Meu pai está cada vez mais rígido comigo, ele me deu um prazo de dois dias para entregar a matéria perfeita, escrita e revisada.

— Você podia escrever sobre os treinos, sei lá. Eu gosto de ler sobre isso. Agora na janela de transferência vão ter muitas notícias também. - comenta, deitado no travesseiro.

— Acho que não é o suficiente, mas estou tentando pensar em algo melhor. - assumo, entristecido.

— Eu recebi hoje uma ligação da diretoria do Chelsea. Eles querem me levar o mais rápido possível, o Hazard, atacante titular, rompeu o ligamento do joelho.

— Nossa, que complicado. Espero que ele fique bem. - murmuro, um pouco cansado. — Se você for com antecedência, vai quando?

— Acho que só uma semana antes, ou talvez duas. - ele suspira. — Mas vai ficar tudo bem.

Vai ficar tudo bem.

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N/a: boa noite meus amores hoje tem corinthians!