Capítulo Cinquenta e dois.

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"Eu não conheço todas as flores, mas vou mandar todas que eu puder"
— Me Encontra; Charlie Brown Jr.
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JOÃO ROMANIA.
25 de julho de 2019.

Deitado no sofá e com as pernas cruzadas, começo a ler o último capítulo do livro "Harry Potter e a Ordem da Fênix". Eu já havia lido a saga inteira diversas vezes durante toda a minha vida, mas de alguma forma, eu sentia que precisava cumprir todos os itens da nossa lista, mesmo que ele não estivesse cumprindo também.

Assim que termino de ler a última página, sou surpreendido pela campainha da minha casa sendo tocada. Me pergunto quem deve ser, já que eu não havia convidado ninguém para vir aqui hoje.

Principalmente porque eu não queria ver ninguém além dele.

Suspiro, me levantando contra a minha vontade para atender a porta. Quando olho para frente. não há ninguém.

— Mas- corto minha própria frase ao descer meu olhar para o chão, encarando um buquê de rosas vermelhas, tradicional.

Sorrio bobo e pego o buquê com cuidado, levando para dentro da minha casa. Me sento na poltrona e abro o cartão, que não possuía nada além de uma frase.

"Eu não conheço todas as flores, mas vou mandar todas que eu puder."

Um riso baixo escapa de meus lábios, sabendo exatamente quem havia enviado elas para mim. Sinto o aroma com os olhos fechados, aproveitando esse momento de felicidade e calmaria.

Segundos depois, a campainha toca mais uma vez. Deixo o buquê em cima da poltrona com cuidado e caminho até a porta, sorrindo de maneira que parece rasgar as minhas bochechas.

Eu esperava vê-lo do outro lado da porta, mas não era ele.

Novamente, encaro o chão.

Outro buquê.

Sem entender muito bem, pego o buquê com as duas mãos e volto para casa. Dessa vez, eram girassóis, amarelos como o sol quente.

No cartão havia mais uma frase.

"Fica comigo então, não me abandona, não.."

Céu azul era o nome dessa música, a música que eu escutei por dias consecutivos na minha vitrola antiga, deitado nesse mesmo sofá.

Caminho até a cozinha e procuro por dois jarros de vidro para colocar as flores. No momento em que estou enchendo os jarros com água, a campainha toca novamente.

De novo?

Caminho até a porta confuso, e a história se repete. Outro buquê.

Tulipas.

A frase da vez era:

"Se não eu, quem vai fazer você feliz?"

Proibida pra mim é o nome dessa música.

Novamente, levo o buquê até a sala e procuro mais um jarro para coloca-lo. Encho os três e coloco as flores delicadamente em cada um.

Esse com certeza foi um dos atos de amor mais lindos que eu já recebi. Meu sorriso não some do rosto por nenhum segundo.

Assim que me sento no sofá, novamente a campainha ecoa por toda a minha casa.

Não é possível.

Solto uma risada baixa, desacreditado ao encarar o buquê de margaridas.

— Isso não pode ser sério. - murmuro, ainda rindo.

"A vontade de te ver já é maior que tudo
Não existem distâncias no meu novo mundo."

Quando percebo, já tem cerca de 28 buquês de flores espalhados pela minha sala de estar.

28 buquês diferentes.
28 cartões com frases do Charlie Brown Jr.

Me sento no chão, lendo o último cartão até o momento.

"Você deixou saudade.. quero te ver outra vez.
Você quer me ver outra vez, amor?"

Embaixo, haviam dois quadrados, como mas cartinhas que os jovens enviam na escola.

Sim ou Não?

Solto mais uma risadinha com seu jeito bobo de ser, ignorando momentaneamente que eu não tinha onde guardar 28 buquês.

Não tenho tempo de marcar minha resposta na cartinha, a campainha toca outra vez.

Eu não aguento mais ouvir esse som.

Suspiro, mesmo que feliz.

Abro a porta contra a minha vontade, com o braço dolorido de tanto fazer esse mesmo movimento.

— Não consegui esperar você devolver a minha cartinha. - Pedro sorri, estendendo uma florzinha de jardim para mim.

— Você gastou quantos milhões para me enviar tudo isso? - pergunto, brincalhão. Ele me entrega a florzinha e eu coloco em minha orelha, sorridente. — Ninguém nunca fez nada parecido pra mim.

— Eu gastaria até o dinheiro que não tenho pra te ter de volta, João Vitor. - responde, certeiro.

— Não fala isso, eu acredito. - murmuro, mordendo o lábio inferior para conter um sorriso maior.

— Volta pra mim? - ele pergunta. Gosto da maneira que ele é direto comigo.

Meus olhos se arregalam levemente, mostrando que estou um pouco em choque.

— Pedro. - digo, fitando meus pés.

— Por favor me diz que sim. - ele pede, pegando em minha mão. — Eu não ligo pro seu pai, eu não ligo pra mais nada além de nós. Ficar sem você foi terrível, e eu sei que a gente precisa conversar muito sobre isso ainda, mas... me deixa te mostrar que existe um lado bom nessa história.

Alterno meu olhar entre nossas mãos e os olhos dele, que brilham como a estrela mais linda que eu já vi. Com minha mão livre, aperto o colar em meu pescoço. Meu colar de estrela.

— Se você achar melhor, me deixa entrar e nós conversamos pelo tempo que for necessário. Eu quero ter você pra mim de novo. - prossegue, dando um passo para frente.

Assinto com a cabeça, sorrindo com o canto dos lábios. Dou passagem para que ele entre, com os dedos entrelaçados nos dele.

— Vamos quer que conversar no quarto, você meio que lotou a minha casa. - digo, rindo anasalado.

— É porque você ainda não viu o seu escritório. - murmura, um pouco alto demais. Me viro bruscamente para ele.

— Pedro??? - quase grito, indignado. — Você tá brincando.. né?

— Se você quiser perguntar pra Malu.. - ele diz, coçando a nuca enquanto anda.

— Eu não acredito nisso.

— Você adorou, eu sei que adorou. - ele fala, ainda um pouco envergonhado.

— Eu amei.

Seguimos para o meu quarto. Fecho a porta e me sento na cama, pensando em tudo o que eu tenho para dizer.

Estou nervoso, mas muito feliz.

N/a: Continua...

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora