Capítulo Três.

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PEDRO TÓFANI.
7 de maio de 2019.

A minha maneira de me preparar para um jogo é sempre diferenciada, mas dessa vez, talvez eu tenha ultrapassado um pouquinho o horário, indo dormir às quatro horas da manhã.

Nós acordamos às seis. Em ponto.

Piqué reclama da minha preguiça, sabendo que logo deveríamos estar no restaurante do café da manhã. Na verdade, nós já estamos quinze minutos atrasados, e posso ouvir os passos de Lionel, antes que ele bata forte na nossa porta.

E lá vem uma boa lição de moral..

— Vocês estão achando que isso aqui é brincadeira!? - questiona inconformado, após a porta ser aberta pelo meu colega de quarto.

— Eu ia falar pra você não abrir, mas não deu tempo. - digo, encarando Piqué. Lionel revira os olhos, cruzando os braços.

— Só falta vocês dois.

— Na verdade, só falta o Tófani! Esse cara parece a Barbie de tanto que se olha no espelho. - esbraveja Piqué.

— Não enche! Não tenho culpa que sou lindo assim, só estou garantindo que todos tenham uma boa visão no dia de hoje. - argumento, jogando os ombros. — Vamos, antes que me mandem pro banco por atraso.

— Agora você quer ir, né? - meu colega de quarto pergunta, irônico. Mostro meu dedo do meio para ele.

— Se vocês brigassem menos e andassem mais, já estaríamos lá. - Messi interrompe, andando com as mãos nos bolsos.

— Relaxa aí, meu velho! Eu tenho energia de sobra pra hoje. - implico, trancando a porta do quarto.

— Me respeita, garoto. Não velho de ninguém. - bufa, nos fazendo rir.

Estar com eles era agradável.

                                           ✶

Caralho.
É tudo o que eu penso quando entro em campo pela primeira vez no dia, encarando toda a torcida cantar e bater palmas para o time adversário. O estádio estava completamente lotado, com torcida mista, mas grande parte era disponibilizada apenas para a torcida do Liverpool.

Respiro fundo, pegando uma bola para aquecer. Eu estou cansado, e pela primeira vez, inseguro. Meu pai havia ligado informando que assistiria o jogo, eu precisava mostrar que escolhi o caminho certo e não decepciona-lo.

Aqueço tranquilo, afastando a insegurança da minha mente por alguns minutos. Nada poderia me atrapalhar hoje.

— Ei! Tófani! - Lionel grita, chamando a minha atenção. Me viro para ele, com a bola nas mãos. — Você tá tenso, o que foi?

— Tô de boa. O jogo já tá ganho. - jogo os ombros, fingindo convicção. Na verdade, minhas mãos suavam e meu estômago estava embrulhado.

— Você sabe que no futebol as coisas são imprevisíveis. - ressalta, me fazendo revirar os olhos.

— Cara, 3x0 no jogo de ida. Nosso time tá ótimo, vai dar tudo certo. - insisto, na tentativa de esconder meu desespero. Messi revira os olhos e sai rindo, inconformado.

Mais algumas embaixadinhas e eu saio do campo, determinado. Tiro a camisa do aquecimento e visto a do jogo enquanto ouço os planejamentos dos meus amigos no vestiário. Todos estavam concentrados e repassando várias vezes as jogadas ensaiadas e formações, momentos antes do técnico aparecer com sua voz grossa e autoritária.

Ao entrar no campo, pulo algumas vezes, aquecendo as pernas e tentando adquirir mais confiança da maneira que eu deixava transparecer para os outros. O apito inicial soa pelo campo e eu percebo que os próximos quarenta e cinco minutos serão de pura agonia.

Sete minutos são suficientes para um gol do adversário. Irritado, bato os pés na grama até voltar para minha posição inicial, na intenção de não surtar. Os próximos minutos são torturantes, a bola não chegava nos meus pés, e quando chegava, eu caía.

Fato curioso: O juíz não marcou nenhuma falta em mim.

O primeiro tempo é encerrado, o time adversário é parabenizado com aplausos fortes e gritos altos. Me direciono ao vestiário enquanto tento me manter firme, afinal, na soma do agregado, ainda estávamos na frente com placar de 3x1. Entretanto, apesar de estarmos na vantagem, minhas pernas balançam em ansiedade e meus olhos com certeza estão vermelhos.

— Cara, que porra foi essa? - Suárez questiona, passando um pano pelo rosto suado.

— Não enche! - respondo grosseiramente, passando as mãos pela testa, sentado no banco. — Ainda estamos ganhando.

— O juíz não marcou nada em cima de você, Tófani. - Messi reclama, com os braços cruzados.

— Pelo menos alguém percebeu. - resmungo atordoado.

O segundo tempo começa e eu posso sentir uma energia diferente no ar. Concentração e confiança, é disso que eu estou precisando.

No primeiro lance, eu e Lionel conseguimos carregar a bola até a grande área, driblando algumas pessoas e com passes certeiros e fáceis. Tudo parece funcionar, mas quando a bola é cruzada em minha direção, minha confiança vai embora, e meu pé erra a bola.

Inacreditável.

— Que porra! - grito frustrado, passando as mãos pelos cabelos.

Os cinquenta e quatro minutos, mais um gol deles, somando 3x2. Dois minutos depois, mais um.

Eles empataram.

Um nó se forma em minha garganta e o mínimo de confiança que ainda me resta, vai embora rapidamente.

Me lembro do que meu pai me disse mais cedo, sobre não confiar em mim. Talvez ele esteja correto, porque em uma falha minha, levamos o quarto gol, aos 79 minutos.

Quando o som do apito final toma conta do campo, e a torcida levanta e faz barulho, chuto a grama irritado, sem acreditar no que havia acabado de acontecer.

Nós perdemos.

                                           ✶

N/a: Essa confiança toda do Pedro era tudo uma mentira? Quem diria..

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora