"I write down almost everything
'Cause all that's left of me is what's left of our memory
And I can see you everywhere now."__________________________________
JOÃO ROMANIA.
4 de julho de 2019.Saudade. Uma palavra, 7 letras, meu sentimento constante.
Poucos dias se passaram desde a viagem. Eu poderia dizer que estou de volta a minha realidade, mas na verdade, por todos esses dias, eu nem saí de casa.
Andava de um lado pro outro pela minha sala de estar, pensando em como confrontar meu pai pela primeira vez. Pode parecer um problema fútil, mas para mim, nunca foi. Meu pai sempre foi o meu herói e inspiração, independente do que me dissessem sobre ele.
Agora eu já não acho mais isso.
De herói para vilão em pouco tempo.
A matéria saiu do ar, graças a minha influência dentro da empresa. Entretanto, isso não mudava o futuro de Pedro e o que eu fiz com os sonhos dele. Me pergunto o que ele está fazendo nesse momento, por alguns segundos, penso em mandar uma mensagem ou ligar, apenas para ouvir sua voz doce no meu ouvido.
A última vez que eu ouvi, ela não estava nem um pouco doce.
Me sento na poltrona da sala, me lembrando de suas palavras antes de ir embora.
"Não me procura mais."
E eu não vou procura-lo. Independente do tempo que passar, foi a última coisa que ele me pediu antes de deixar de ser meu.
Me levanto e caminho até a minha vitrola, escolhendo um dos álbuns do Charlie Brown Jr.
Ao invés de deixa-lo tocar por inteiro, seleciono a música 'Céu Azul' e me deito no sofá, encarando o teto completamente branco enquanto brinco com meus dedos da mão.
Não há mais nada que eu possa fazer por nós.
Checo meu celular pela milésima vez no dia. Nenhuma mensagem dele. Nem mais cedo, nem agora, nem mais tarde.
Quando a música acaba, me levanto novamente e coloco ela do começo, pegando meu violão velho logo em seguida.
Pra algo ele tem que servir.
Brinco com os dedos nas cordas, tentando acompanhar a música que tocava na vitrola. Após algumas tentativas, me recordo dos acordes.
Arrisco uma cantoria fajuta, derramando uma lágrima solitária a cada parte que apertava mais o meu coração. Abro o gravador de voz do celular, decidido do que vou fazer nesse momento.
3 minutos demorados e sofridos, mas que tiraram um grande peso das minhas costas. Se eu mandaria isso pra ele? Nunca.
Ou talvez um dia.
Meu corpo fica mais leve apenas pela iniciativa de parar de fingir que ele não está no meu pensamento a todo minuto. Meu coração se aperta mais em saudade e meus olhos ardem.
A dor parece cada vez mais real, e se ela é real, será que um dia eu poderei encontrar a cura? Até o momento, minha cura era ele.
Continuo dedilhando no violão, permitindo que meus pensamentos me consumam por inteiro. Murmuro palavras que diria para ele, em um ritmo desajeitado e esquisito.
Eu consigo te ver em todo lugar, em cada outdoor, em cada canto, eu me equilibro na beira do precipício porque vejo seu rosto na água.
Meu pé esquerdo bate levemente no chão, definindo de troca de acordes aleatórios, definidos pelo meu sentimento atual.
Estou sendo paranóico? eu tentei deixar tudo pra trás, tentei mesmo.
É tudo o que eu consigo escrever antes de cair em lágrimas novamente. Não só pelo nosso fim, mas pela quebra de confiança, pelos nossos momentos, por tudo o que tenho passado com meu pai e por tudo o que Pedro pode estar sentindo agora.
Com certeza, a minha ausência está sendo o menor de seus problemas.
Coloco o violão no chão e me encolho no sofá, afundando meu rosto nos braços. Com os olhos fechados, me imagino fazendo tudo diferente. Me imagino criando coragem para enfrentar meu pai e lutar pelos nossos sonhos.
Pelos meus e pelos de Pedro.
Me entrego ao sentimento. Assim, passo a minha noite e madrugada de quinta-feira, sendo eu mesmo por alguns instantes.
Nesse momento, abandono o João que se faz de forte. Abandono aquele que não tem medo, aquele que faz tudo o que querem e não consegue se impor contra a família. Aquele que prioriza o trabalho e coloca acima de tudo.
Eu me torno o João que sente. O João que se entrega sem se arrepender, o João com medo mas que tem coragem. Os corajosos são aqueles que vencem os seus próprios medos. E eu preciso vencer os meus.
Preciso ser mais como o Pedro.
Ou como o João que agora está sentado nesse sofá, encolhido como uma criança que chora pela sua mãe. Infelizmente, minha mãe não tem como me ajudar nessa.
Em uma nota mental, me lembro de chama-la pra conversar, mesmo que ela não possa me ajudar. Minha mãe sempre foi minha melhor amiga, e continuará sendo.
Independente do João que eu seja ou me torne.
Desejo incansavelmente que meu pai fosse assim comigo. Porém, nem todos os desejos se tornam reais.
Tal qual o desejo de ser acolhido pelo abraço do meu amor.
Com muita saudade em meu coração, eu durmo após minutos de choro intenso, que vai me render belas olheiras amanhã cedo.
✶
N/a: paranoid.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entrelinhas De Barcelona | pejão
Hayran Kurgujoão romania é um jornalista esportivo muito aclamado, uma inspiração para todos de sua empresa e um exemplo a ser seguido. entretanto, críticas direcionadas a um certo jogador do barcelona, podem prejudica-lo.