Capítulo Quarenta.

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JOÃO ROMANIA.
24 de junho de 2019. — entrevistar o pedro.

Acordo com o toque baixo do meu celular, indicando que estava recebendo uma ligação. Rapidamente, me levanto da cama e pego o eletrônico, receoso que o barulho acorde o sono tranquilo de Pedro.

Desviando dos gatos, caminho até a sala e me jogo no sofá, colocando o telefone no ouvido no mesmo instante.

— Alô? - murmuro, um pouco sonolento.

Sou retribuindo por falas histéricas do meu pai do outro lado da linha, reclamando da minha ausência no escritório.

— Eu já enviei a matéria pra você, não é o bastante? - pergunto, engolindo seco.

— Não. Eu preciso de mais informações para finaliza-la. - responde, irritado.

— Você está editando a minha matéria? - pergunto, me levantando do sofá em um pulo. Meu tom de voz aumenta apenas de imaginar o que ele pode estar escrevendo em meu nome.

— Estou apenas aumentando ela. Achei curta, a informação é muito boa para ser desperdiçada. - ele diz. No fundo, é possível ouvir o barulho de teclas sendo pressionadas no computador.

— Eu vou pensar em algo. - murmuro, antes de desligar a chamada.

Me jogo no sofá, percebendo o quão ferrado eu estou nesse momento. Minha vida tem desandado cada vez mais.

E eu não vou pensar em nada.

Logo, Pedro aparece na sala com uma expressão preocupada.

— Meu amor, tudo bem? - pergunta, coçando os olhos. Seu jeito sonolento me arranca um sorriso.

Ele deita em meu peito e raspa seu nariz em meu pescoço, fazendo um leve carinho.

— Você tá muito no seu mundinho, aconteceu algo? - insiste, com os olhos fechados.

— Aconteceu..

Respiro fundo, acariciando seus cabelos com os dedos. Pedro merecia saber a verdade.

— Eu discuti com o meu pai.

Mas não agora.

— E como você está? Por que discutiram? - ele fala, preocupado. Pedro se apoia em um cotovelo e beija meu nariz, me passando conforto.

— Ele quer publicar uma matéria em meu nome, mas ele que está escrevendo. - bufo, frustrado. — Isso pode prejudicar muita gente se realmente acontecer.

— Que barra, lindo. - resmunga, confuso. — E você não pode fazer nada?

— Eu não tenho mais como impedir ele.. Só estou com medo das consequências.

Me afundo em seu abraço e permito que algumas lágrimas molhem sua camiseta. Pedro parece entender o meu momento e não me pergunta mais nada a respeito.

Ele me acolhe e acaricia minhas costas, demonstrando afeto pelo toque físico. Com o tempo, me sinto mais calmo.

Mas toda vez que levanto meu rosto e o encaro novamente, as lágrimas voltam a se formar. Pedro já não parece entender mais.

— Meu amor, fala comigo. Estou preocupado. - sussurra, acariciando meu rosto. — Você quer fazer algo pra se distrair? Eu faço com você, fico aqui mais um tempo, que tal?

As palavras somem de minha boca. É como se minha garganta fechasse por completo e só abrisse espaço para os soluços incessantes. Me aninho mais ainda no corpo do moreno, que me aperta contra si como se quisesse pegar toda a minha dor.

Sinto que estou despedaçando, e sentindo tudo o que evitei sentir de uma vez só. As brigas com meu pai, os números baixos do jornal, a merda que eu fiz, o fim do meu cargo e a distância enorme que aparecerá entre mim e Pedro.

Ele vai embora de qualquer forma, e talvez nunca mais queira ao menos saber o meu nome.

Tudo isso por causa de um cargo, porque eu não consegui me tornar um jornalista independente a tempo.

Se eu tivesse terminado a autobiografia, isso não teria acontecido. Perder meu cargo não seria tão drástico e importante.

Mas eu não consegui e perder meu cargo é o fim do mundo.

Pedro prossegue com as carícias cautelosas em meu rosto, cabelos e costas, até que eu de fato me acalme. Foram longos minutos de choro intenso, tristeza e arrependimento.

Não consigo falar, apenas deito em seu colo e tento relaxar meu corpo. Ele não insiste mais, apenas cuida de mim com uma expressão preocupada e sonolenta.

A verdade é que eu queria reverter tudo isso, queria impedir a publicação dessa matéria ou voltar no tempo e não escrevê-la. Mas isso é impossível.

E será impossível convencer Pedro de que eu estou arrependido de verdade.

Afinal, eu acabei com a carreira dele.

Ele só não sabe ainda.

— Pepê. - sussurro, um pouco incerto. Me sento no sofá enquanto ele me encara com atenção, em silêncio.

— Pode falar, lindo. - responde, cuidadoso. Mordo meu lábio inferior, pensando se deveria ou não abrir meu coração para ele.

Eu não queria parecer uma vítima, não queria que ele se culpasse por se sentir bravo mais para frente, mas precisava que ele soubesse de tudo o que eu sinto.

Antes que tenhamos um fim.

— Eu preciso te falar umas coisas e.. - inicio, travado. — Pedro, eu tô muito apaixonado por
você. Eu tô muito mesmo, eu penso em você toda hora e te quero por perto, quero te beijar, te abraçar, passar os meus dias legais com você sempre e te ouvir falar por horas no meu ouvido. - suspiro, tentando retomar minha fala sem chorar. — E eu quero que você saiba, antes de tudo, que se um dia eu te magoar, não foi de propósito e eu te amei muito. Eu sei que eu sou muito intenso e sentimental as vezes, talvez isso te assuste.. Mas eu sinto que preciso te dizer tudo isso o quanto antes.

Minhas mãos já estão trêmulas e seguram as de Pedro, mantendo-o perto de mim. Ele tenta me tranquilizar com carinhos na mão enquanto presta atenção em cada palavra que sai da minha boca.

— João, meu bem, respira. - ele diz, apertando minha mão para me incentivar. — Você está assim porque eu vou embora?

— Sim.. Não.. Também! - respondo, confuso. — Eu não posso mais perder nenhum segundo com você, Pedro.

— Você não está perdendo nada.. Ei.. Ainda falta quase um mês.

— Eu posso estar falando tudo isso no impulso do nervosismo, mas eu quero te dar a certeza que eu te amo, e que eu quero levar isso pra frente. Eu quero me esforçar o máximo possível pra manter a gente junto, amor.

— Eu te amo, João. - responde, beijando minha bochecha delicadamente. — Não foi exatamente assim que eu imaginei o nosso primeiro "eu te amo", mas fico feliz que tenha me dito isso. A distância não vai separar a gente assim, se essa é a sua preocupação. Eu tô apaixonado demais pra simplesmente ir embora.

Ele limpa minhas bochechas e beija o topo da minha cabeça, me abraçando calorosamente.

O amor nem sempre é fácil.

                                           ✶

N/a: queria dizer que chorei escrevendo esse, e ele é o mais leve.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora