Capítulo Vinte e quatro.

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JOÃO ROMANIA.
2 de junho de 2019.

Trabalhar no mesmo ambiente que o próprio pai, nunca foi muito fácil para mim. Eu tento não pensar muito nisso, mas a todo momento, alguém faz questão de lembrar o quão irritante mandão ele é.

Por muitos anos da minha vida, eu me comparei com ele, quis ser como ele. Mas hoje, como todo mundo já deve estar sabendo, meu sonho é ser diferente dele, ter algo meu.

Mas esse sonho ainda está um pouco distante, e por enquanto, eu tenho que lidar com todos os problemas que meu pai despeja em mim.

Como se soubesse que estou pensando nele, a porta do meu escritório é aberta silenciosamente. Encaro o homem, que se senta na cadeira em minha frente sem ao menos pedir permissão para invadir o meu espaço de trabalho.

Não falo nada.

— Preciso conversar com você. - ele diz, com as pernas cruzadas.

— À sua disposição.

— Não sei se você percebeu, já que está passando muito tempo longe da empresa, mas o jornal está com números menores. - inicia, me fazendo suspirar baixo.

— Eu sei. - resmungo, coçando a nuca. Meu pai cruza as mãos em cima da minha mesa, me encarando atentamente. — Já mandei Renan e Maria Luísa correrem atrás desse prejuízo.

— Não é bem assim, João Vitor. - fala, em um sermão. — As visualizações das suas matérias também estão diminuindo.

— Não tenho como fazer matérias perfeitas se não tem jogo. - disparo, frustrado. — No próximo treino, talvez saia uma melhor.

— Você deveria fazer mais matérias como a sua mais famosa. O que você escreveu sobre a primeira eliminação do Barcelona, foi brilhante.

— Aquela matéria nem era tão boa assim. - nego com a cabeça, girando uma caneta com os dedos.

— Era ótima! Todos estavam comentando sobre as coisas que você disse sobre aquele atacante. - insiste, descruzando as pernas e apoiando o corpo na mesa.

— Eles gostam de fofoca e falação, eu não sou esse tipo de jornalista. - nego, irredutível.

— Eu tenho uma ótima ideia, que traria todos os leitores de volta...

— E qual seria? - questiono, encostando na cadeira e relaxando o corpo.

— Pesquise sobre a vida pessoal de Pedro Tófani. Descubra sobre ele, sobre a família dele.. Faça uma matéria do jeito que o público gosta. - propõe, com um sorriso largo.

— Senhor Alexandre, esse não é o meu trabalho. - respondo, firme. — Isso é falta de ética.

— Se você quer voltar a ser comentado.. melhor pensar na minha proposta.

Ele sorri e sai da sala, me deixando sozinho com meus pensamentos atordoados.

Bufo irritado, desligando meu notebook e guardando meus pertences em minha bolsa, decidido em ir logo para casa. No meio do corredor, esbarro com Giovana.

— Foi mal, tô com pressa. - murmuro, segurando seus ombros. A garota me encara com a sobrancelha arqueada.

— Você tá com cara de quem precisa de uma boa conversa. - ele deduz, com a mão no queixo.

— Ok, talvez eu precise. Mais tarde lá em casa? Eu você e o Renan?

— Te vejo lá, relaxa enquanto isso.

Assinto com a cabeça e saio em rumo ao meu carro, me sentando no banco do motorista e seguindo até minha casa. Quando chego em meu conforto, me jogo na cama e me permito dormir até ouvir a campainha tocar.

Quando abro a porta, me deparo com meus amigos, me esperando.

— Chegaram antes. - murmuro, olhando para o relógio em meu braço.

— Você tava dormindo? - Giovana pergunta, me olhando de cima a baixo.

— Só por umas horinhas.. - rio, passando as mãos nos cabelos. — Entrem aí.

Eles se sentam no balcão da minha cozinha e eu fico de pé, encarando-os.

— Cookies ou Brownie? - pergunto, já sabendo a resposta.

— Cookies! - eles gritam em uníssono, me fazendo rir.

— Certo.

— Mas então, o que aconteceu? - Renan pergunta, curioso.

— Tanta coisa.. Vocês nem acreditariam. - resmungo, pegando os ingredientes.

Eles ainda não sabiam de nada sobre mim e Pedro, e eu também não sabia se deveria contar agora.

— Pois comece a contar agora. - a garota incentiva, balançando os pés.

— Tive uns problemas com meu pai hoje. - digo, um pouco incomodado. — Ele quer que eu invada a privacidade de um jogador, pra conseguir mais leituras.

— E você não vai fazer isso, né? - Renan pergunta, arqueando a sobrancelha.

— João é a pessoa mais certinha do mundo, claro que não.. - Giovana responde por mim.

— É, não vou. - jogo os ombros, um pouco incerto.

Isso era contra os meus conceitos principais.

— Ele comentou um pouco irritado, que você não está mais tanto na empresa quanto antes. - meu amigo fala, um pouco inseguro. Me viro para ele.

— Estou saindo com uma pessoa. - disparo, como se fosse um crime.

Meus dois amigos se encaram por alguns segundos, rindo alto em seguida.

— O que foi? - pergunto, enquanto eles riem de mim.

— João! - Renan ri, colocando as mãos na barriga.

— Eu sabia que esse dia iria chegar! - a baixinha diz, batendo a mão no balcão.

— Você me deve dez reais! - o homem diz, apontando para ela.

— Injusto! Ele só contou agora, ou seja, seu prazo está inválido.

— Desde quando vocês apostam minha vida amorosa? - pergunto, confuso.

— Desde sempre..

— O Renan apostou que você estava afim de alguém no dia da palestra. - Giovana explica, ainda rindo baixo.

— E a Gio está invalidando minha aposta sem ao menos saber se você já estava enrolado nessa época.

— Na época da palestra.. - início, envergonhado. — Eu já estava conhecendo ele.

— ELE? - eles praticamente gritam, se levantando às pressas.

— É. - sussurro, tímido. — Nós estamos conversando tem algumas semanas..

— E...?

— Ele é um doce. - digo, perdendo um pouco a minha postura, apoiado na pia. — Sério. Ele é romântico, tímido e um cavalheiro.

— E você pretende namorar ele? - Renan pergunta, muito curioso.

— Namorar? - falo, espantado. — Nós.. ainda não nos beijamos.

Meus dois amigos me olham em choque, antes de me encarar novamente.

— Estão conversando há semanas e ainda não se beijaram? - a mais baixa pergunta.

— É.. Nós já nos beijamos na bochecha, e na última vez que nos vimos, ele beijou quase no canto da boca.

— Meu Deus, você achou um bobão igual você! - ele fala rindo, negando com a cabeça.

— Chatos! Vamos voltar aos cookies!

Eles rirem novamente e nós mudamos de assunto, enquanto eu volto para a preparação do nosso lanche.

                                           ✶

N/a: eu não aguento com esses dois, vou ficar diabética.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora