Capítulo Sessenta e cinco.

304 50 46
                                    


JOÃO ROMANIA.
6 de agosto de 2019: 8 dias sonhando.

Em pé na beira do campo, assisto o famoso Majestoso entre Corinthians e São Paulo, no Morumbi. Estou ansioso para entrevistar os jogadores no intervalo, devido ao tempo que passei longe de tudo isso. Pedro está sentado em um banco um pouco atrás de mim, assistindo o jogo atentamente.

Sei como ele sente falta de jogar e queria muito ajuda-lo a consertar o estrago que eu fiz em sua vida. Infelizmente, temos que esperar.

O jogo está 2x1 para o Corinthians, então preparo minhas perguntas mentalmente para cada time que está em campo. Quando chega o intervalo, me direciono até onde a câmera está paralisada e me posiciono ao lado de Calleri, atual capitão do São Paulo.

Ele me diz que é um jogo importante e exaustivo, que o time tem lidado bem com a pressão e que está melhorando cada vez mais. Quando ele termina de falar, agradeço pela atenção e espero que Romero, representante do Corinthians, se posicione no lugar em que o jogador estava.

Ele o faz e assim eu o questiono sobre o jogo. Romero me conta sobre a formação e a adaptação do time ao jogar fora de casa em um campeonato tão importante para o time quanto o Brasileirão. Brigar ferozmente pelo título nessa reta final não é pra qualquer time.

Após as entrevistas, volto para onde Pedro estava e me sento ao seu lado apenas para beijar sua bochecha, tentando ser discreto.

— Você fica lindo demais trabalhando, já disse isso? - pergunta, sorrindo de canto. Eu assinto com a cabeça.

— Já disse, mas adoro que você repita. - murmuro, beijando seus lábios dessa vez. — Está gostando do jogo?

— Sim. Eu fiquei com vontade de jogar, na verdade. - diz, sincero. — Sinto muita falta.

— Eu imagino. Sinto muito por ter sido responsável por isso.

— Eu não tava bem no time há tempos, não foi culpa sua. Fechar um contrato de repente, sem nem pensar, também foi erro meu. Talvez eu só não devesse ir. - ele joga os ombros. — Não era meu lugar. Meu lugar é aqui.

— Você gostaria de voltar a jogar no Brasil? - questiono, interessado.

— Eu amaria. - ele suspira. — Tá na minha lista de desejos me aposentar nesse lugar.

— Então por que você não tenta? - questiono. — A janela tá logo aí, você tá no mercado..

— Eu não quero ficar longe de você, João. - ele diz, óbvio. — Não importa pra mim se esse é meu sonho, eu me achei em você.

— Eu vou pra onde você for, meu bem. - digo, acariciando o rosto do moreno. — Se você quiser vir pra cá, ficamos aqui pra todo sempre.

— Tá louco? E o jornal? - questiona, com os olhos levemente arregalados.

— Se estamos falando de sonho, meu sonho é estar contigo pra sempre. - retruco, segurando o rosto dele com as duas mãos. — Tenta entrar. Se você conseguir, eu vou pra onde você for.

— Essa viagem tá te deixando anormal. - diz, rindo. — Amor, isso é loucura.

— Então vive essa loucura comigo. - insisto, rindo. — Tenta, amor.

— Eu vou pensar, você tá maluco. - responde, beijando meus lábios lentamente. — Agora volta ao trabalho, depois nós conversamos sobre isso.

Assinto com a cabeça, beijando ele outra vez antes que os jogadores voltem para o campo.

Eu não ligo se esse estádio está lotado de pessoas nos observando e batendo fotos nossas para postar na internet, só ligo de estar com ele.

Daqui há algumas horas eu sei que haverão ligações desesperadas de meu pai para saber sobre isso, então, coloco meu celular no silencioso e volto ao trabalho. Os jogadores voltam para o campo e o segundo tempo começa, bem chato, por sinal. Nenhuma emoção, gol, nem ataques perigosos.

O jogo acaba com o mesmo placar e eu me dirijo até a saída, terminando meu trabalho da melhor maneira possível. Quando o último jogador passa, me viro para procurar Pedro, mas ele não está mais lá.

Pego meu celular, me deparando com vinte chamadas perdidas do meu pai e cinco de minha mãe, mas ignoro elas completamente e procuro por uma mensagem de Pedro. Ele avisou que estava resolvendo um assunto.

Respondo que estou esperando ele e me sento em um banco, pegando meu bloquinho para fazer algumas anotações para minha matéria final sobre o jogo. Meu notebook estava no hotel, então teria que esperar chegar lá para passar toda a matéria a limpo e publica-la eu mesmo. Cheguei em um momento do meu trabalho que eu não dependo mais de ninguém para fazer a minha parte, não mando mais para editores e revisores, eu sou o meu próprio funcionário.

Gatekeeper, que se chama.

Gatekeeper é todas essas funções, juntas ou separadas. É quem apura, quem revisa, quem escreve, tudo isso são Gatekeepers. Sinto orgulho de dizer que sou tudo isso em um só.

Quando Pedro volta, pego em sua mão e o sigo.

— Onde estava? - questiono, curioso.

— Resolvendo umas coisas. Vamos para o hotel? Quero deitar na cama e ver um filminho.

— Eu também quero. - faço bico. — Meus pais tão me ligando toda hora.

— Atende e acaba logo com isso. - ele resmunga, fazendo uma careta. — Quer que eu atenda?

— E o louco sou eu.. - digo, irônico. Nós rimos juntos com a bobeira.

— Deixa eu atender. - ele fala, pegando o celular de minha mão e clicando para retornar a ligação. — Alô? Oi! É o Pedro, tudo bem? - ele respira fundo. — Sim, o Tófani. Sim, estamos namorando.

— Pedro! - repreendo, chocado com sua cara de pau.

— Aham, ele é meu agora. - ele fala, sorrindo da maneira mais canalha que eu já vi.

— Pedro!!! - quase grito, batendo em seu braço. Ele ri alto.

— Tá certo, vou avisar ele. - ele espera alguns segundos. — Posta no jornal pra ganhar visualização, vai ser quase uma cena de filme.

— Me dá isso! - tiro o celular da mão dele, levemente desesperado. — Depois eu te ligo, pai!

Pedro ri a todo momento, com as mãos na barriga.

— Você é maluco, Pedro Tófani.

— Você é mais ainda, por isso eu sou tão seu.

N/a: eu amo esse jeito boboca deles.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora