Capítulo Dezoito.

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JOÃO ROMANIA.
22 de maio de 2019. — primeiro encontro, parte dois.

Fecho meus olhos, aproveitando o sabor da comida em minha boca.

Esse prato com certeza estava melhor, mas ele não precisava saber disso.

— Eu adorei esse macarrão. - ele diz, me encarando rapidamente.

— Eu gostei muito. Mas também, é difícil encontrar um lugar que tenha macarrão ruim. - respondo,  pousando meu garfo no prato.

— Pelo visto, temos um amante de macarrão nessa mesa. - brinca, limpando a boca com um guardanapo. Assinto levemente com a cabeça, sorrindo com o canto da boca.

— É minha comida preferida! - afirmo, animado em razão do assunto.

Quando eu era criança, minha mãe fazia um macarrão ao molho branco super caprichado quando meu boletim chegava. Era nossa maneira de comemorar o fim de um semestre cansativo de duradouro para mim.

E eu amava.

Até hoje, quando conquisto algo que queria muito, nos juntamos e comemos juntos o macarrão da minha mãe, em família.

— Tá brincando! Acertei muito em te trazer aqui então. - Pedro ri, fazendo sinal para que o garçom venha até nós e traga uma bebida. — Agora eu fiquei mais curioso sobre você, me fala mais!

— Já sei. Podemos fazer um jogo de perguntas. Primeiro eu te faço uma pergunta e você responde, depois, invertemos. Só pode perguntar depois de responder a do outro.

— Fechado. - ele concorda.

Ao mesmo tempo, o garçom coloca o vinho em cima da nossa mesa, nos servindo calmamente.

— Vamos começar então. Cor favorita? - pergunto, simples.

— Preto. Também quero saber a sua, vai ser muito útil. - responde rápido, passando as mãos pelos cabelos.

Pelo visto, era uma mania.

— Azul. - brinco com a taça em minhas mãos. - Artista que você mais escuta?

— Matuê. - joga os ombros. — Nem preciso perguntar o seu, né? Tenho até medo de entrar na sua casa e dar de cara com um mural do cbjr.

— E por que você iria na minha casa? - questiono, arqueando uma das sobrancelhas. Tófani ri, sem graça enquanto coça a nuca.

— Fica aí o questionamento. - retruca, disfarçando sua vergonha. — Ainda é minha vez! Você disse que as vezes é necessário ser vulnerável.. Tem alguém que perto de você, te deixa confortável pra isso?

Paro por alguns segundos, sorrindo sozinho ao lembrar da minha família.

— Minha mãe, meu pai e os meus gatinhos são tudo para mim. Mas acho que eu fico muito mais confortável com minha mãe e com os gatos.

— Você tem gatos?! Ah não, agora vamos ter que parar a brincadeira imediatamente! Me conte sobre eles. - ele pede, juntando as mãos. Sorrio, me dando por vencido sem precisar de muito esforço.

Eu amo falar dos meus gatos.

— Eu tenho quatro: Vicente, Chicória, Santiago e Quito. São meus maiores amores! Cada um tem uma personalidade marcante, e eu amo conversar e brincar com eles. - respondo, virando o restante de vinho da garrafa em minha taça.

Em seguida, mostro fotos deles para o moreno, que sorri e se desmancha de amores a cada foto bonitinha que aparece na tela.

— Eles são tão lindos, João! - fala, fazendo um biquinho. — Quero roubar eles pra mim!

— São meus. - meu sorriso some e eu cruzo os braços, arrancando uma risada de Pedro.

— Calma, possessivo!

— Você não vai roubar nada. - afirmo, sério. Pedro continua rindo.

— E o pai deles, eu posso roubar? - questiona, cobrindo minha mão com a dele, por cima da mesa.

Nossas mãos se encostam e meu corpo tensiona, relaxando assim que o polegar do moreno desliza pelos meus dedos.

— Depende.. - inicio, me fazendo de difícil. — Vai me levar pra comer macarrão mais vezes?

— Claro!

— Então eu seria todo seu. - respondo em tom de brincadeira.

Logo, pedimos a conta e iniciamos a discussão final da noite: Quem pagaria a conta.

— Pedro. Você já me trouxe até aqui, foi um cavalheiro, eu posso pagar a conta. - insisto, tentando entregar meu cartão para o garçom, que nos encarava confuso.

— Se eu fui um cavalheiro até agora, quero continuar sendo. - afirma, contraditório. — Moço, não aceita o cartão dele, usa esse!

— Moço, usa o meu sim! - resmungo, empurrando meu braço mais para frente.

Tófani revira os olhos, segurando meu braço.

— Eu que trouxe, eu que pago.

— Então vou ter que te retribuir de alguma forma. - retruco, jogando a cabeça para trás, desistindo.

— Tudo bem, depois conversamos sobre isso.

Após pagar, seguimos para o carro. Novamente, Pedro abre a porta para mim e eu rio, como se estivéssemos vivendo tudo novamente.

A playlist do Charlie Brown Jr volta a tocar, tomando conta do som do carro. Cantarolo por todo o caminho, até chegarmos em minha casa.

O melhor de estar com Tófani era não ter momentos constrangedores. Tudo flui naturalmente, nossos silêncios são confortáveis e nós aproveitamos bem a companhia um do outro.

— Não quero te deixar em casa. - assume, parando o carro.

— E eu não quero ir pra casa. - respondo, sorrindo envergonhado. — Foi uma noite legal e leve, eu gostei muito. Obrigado.

— Só foi assim por sua causa. - ele sorri de volta. — Eu adorei sair com você.. e.. eu já quero de novo.

— Estou achando fofo esse seu jeitinho. - digo, implicante. Tófani empurra meu ombro. — Eu também. Como posso te retribuir?

— Eu tenho uma ideia.. se você não quiser, tudo bem.

O encaro um pouco confuso, engolindo em seco. Pedro me encara também, passando a língua entre os lábios.

— O que você quer? - pergunto, um pouco tímido.

— Quero um abraço seu. De despedida. - pede, mordendo os lábios pelo nervosismo.

Abro a porta do passageiro, tirando o cinto e saindo do carro. Pedro fica no carro por alguns segundos, um pouco confuso, se dirigindo até mim em seguida.

— Eu posso? - questiona, se aproximando. Assinto com a cabeça, abrindo levemente os braços e encaixando seu corpo no meu.

O abraço do moreno é caloroso e delicado ao mesmo tempo, meu corpo relaxa em seus braços e ficamos assim por alguns segundos, aproveitando os braços um do outro. Minha mão desliza por suas costas devagar, fazendo carinho.

Com esse ato, nos despedimos. É o fim do primeiro encontro.

Só do primeiro.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora