Capítulo Onze.

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PEDRO TÓFANI
13 de maio de 2019.

Me recordo vagamente da noite de ontem, mas infelizmente, não consegui esquecer o motivo de ter um cartão com o número de João Romania no meu bolso.

Assim que acordei, tomei um banho e comi algo leve, tentando ignorar as lembranças que passeavam pela minha mente, mas sem sucesso.

Ontem, deixei escapar uma versão de mim um pouco menos irritante e chata, o que talvez tenha surpreendido Romania com aquele jeito estranho e sério de ser. Eu sabia o que estava fazendo, mas agora, não entendo porque fiz.

Também não me importo em arcar com as consequências.

Disco o número do jornalista rapidamente em meu celular, esperando que a chamada seja recusada.

Ele atende no terceiro toque.

— Eu lembrei. - murmuro. Era perceptível o sorriso ladino em minha voz. O loiro suspira do outro lado da linha, se dando por vencido.

— No fundo eu esperava que você não lembrasse. - confessa.

— Mas eu lembrei, então, como combinado, te pego às 21h. Vou te levar em um lugar legal.

— Existe mesmo alguém que sai de casa às 21h, de uma Segunda-feira? - questiona, incrédulo.

— Eu vou desligar antes que você me irrite. - resmungo. — Me manda o endereço da sua casa por mensagem, valeu!

Antes que ele possa responder, desligo a chamada e jogo o celular para o lado, pensando em algum lugar para levar o inimigo da diversão.

Mais tarde, visto uma calça preta e uma camisa branca. Como acessório, o meu colar de sempre.

Uma roupa básica que combina com qualquer local.

Passo na casa de Romania às 21 em ponto, me deparando com o loiro sentado na escadinha da própria casa. Ele coloca o celular no bolso e caminha até o carro, no momento que baixo o vidro.

— Tá bonito. - digo indiferente, reparando em suas roupas. O jornalista veste uma camiseta branca e uma jaqueta jeans por cima, combinando com a calça.

— Obrigado, você também. - responde, arrumando os cabelos enquanto se olha no retrovisor. — Vamos para onde?

— Surpresa.

— Já está me fazendo surpresinhas? - pergunta irônico, com um sorriso de lado.

— Muito engraçado! - retruco, implicante. — Vou te mostrar como eu me divirto nas épocas sem jogo. Espero que não saia divulgando por aí.

— Achei que o engraçado era eu. - ele fala, levantando as sobrancelhas. — Coloca uma música, por favor.

— O que você gosta de ouvir? - questiono.

— Charlie Brown Jr. - joga os ombros, mexendo no som do meu carro, conectando o celular dele.

— Bem sua cara mesmo, coloca aí.

Dirijo até um local muito conhecido por mim, onde dois amigos nos esperavam com sorrisos no rosto. O caminho foi silencioso, apenas com as músicas que Romania escolhia tocando.

Confesso que ele tem um bom gosto musical.

— Chegamos. - sorrio, estacionando o carro. O loiro me encara um pouco confuso e assustado.

— Você me trouxe em um beco? - pergunta, espantado. — Tófani, eu não vou descer aí.

— Deixa de ser medroso, Romania. - rolo os olhos, rindo baixo.

O jornalista nega com a cabeça freneticamente, cruzando os braços.

— Esse não é o tipo de lugar que eu costumo frequentar. - afirma.

— Claro, você é um chato! - resmungo, tentando encoraja-ló. — Tem dois amigos meus aí, não vai acontecer nada loirinho.

— Não tenho coragem.

— O que eu preciso fazer, pra você descer do carro? - questiono, deitando a cabeça no banco.

— Não consigo pensar em nada..

— Então vamos, confia em mim! - peço, batendo em seu ombro levemente.

— Na próxima vez, eu que vou escolher o local. - murmura, se dando por vencido ao ver que eu não desistiria.

Então terá próxima vez?

— Combinado. Agora vamos.

— E você vai ter que me pagar um café. - completa, com os olhos semicerrados.

— Tá certo, Romania! Desce logo! - reclamo já fora do carro, enquanto o loiro enrola para abrir a porta. Puxo seu braço, arrancando ele do carro.

Entramos no beco e já posso ter a visão da fumaça que meus amigos faziam, tirando o meu do bolso e ascendendo.

— Eu trouxe um amigo. - apresento, sorrindo. — Romania, esses são Jack e Caio. Pessoal, esse é o Romania.

— Me chamem de João. - ele diz, um pouco deslocado. Jogo os ombros, encostando na parede.

— Ele precisa de umas aulinhas de como se divertir. - explico.

— Bem-vindo ao beco, Jão. - Jack fala, com um sorriso ladino.

Semicerro os olhos ao perceber suas intenções, cruzando os braços.

— Vem, Romania. Vou te levar ali pra dividirmos um. - disparo, puxando o loiro pelo braço. — Toma, tenta.

— Eu já fumei uma vez, Tófani. - resmunga, revirando os olhos. — Eu tive uma vida antes, só sou um profissional centrado.

— Nem parece. - retruco irônico.

— Seu amigo me olhou estranho. - ele diz, com uma das mãos no bolso da jaqueta, levando o baseado até a boca.

— Ele quer ficar com você, eu acho. - sugiro, com uma careta.

— Meu Deus! Não! - ele ri alto, me entregando o baseado.

— Pois é! - resmungo, negando com a cabeça. — Ele não é flor que se cheire, por isso tirei você de lá.

— É engraçado você falando como se eu fosse uma alma pura e ingênua. - diz, encostado na parede, apoiado com uma das pernas.

— Para mim, você é.

Eu sabia que haviam chances do Romania ter vivido coisas divertidas antes de virar esse cara concentrado até demais, mas a ideia de trazer ele para o "meu mundo" me confortava.

Quero mostrar para ele que não sou tão chato como ele pensa, mas ao mesmo tempo, tenho dúvidas se é essa versão de mim que eu quero apresentar para ele.

Nós começamos com o pé esquerdo, mas com o passar dos acontecimentos, percebi que ele só está fazendo o trabalho dele de forma bem feita, e eu estava tão magoado que tornei disso um assunto pessoal.

Minha maior intenção com essa saída era provar que eu posso ser divertido e formar amizades repentinas.

Talvez para me convencer de que não estou cada vez mais inseguro e sozinho.

Ou para convence-lo que não vou tão vazio.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora