Capítulo Quatorze.

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JOÃO ROMANIA.
17 de maio de 2019.

— Vai me levar pra algum lugar insalubre próxima semana? - questiono, brincalhão.

Tófani nega com a cabeça, rindo baixo. Estaciono o carro em frente à sua casa, me virando para ele.

— Quero te levar em um restaurante, posso? - ele pergunta, um pouco inseguro. Meus olhos se arregalam levemente, sem esconder o meu espanto. — Se você não quiser, não tem problema.. e-eu... - o interrompo.

— Relaxa. - murmuro, pousando minha mão em seu ombro, na intenção de tranquiliza-lo. — Eu aceito. Nada melhor que um jantar de amigos no meio da semana para descansar.

O jogador sorri desengonçado, coçando a nuca.

— João, eu tô te chamando para um encontro. - ele diz, colocando uma de suas mãos por cima da minha em um ato leve.

Meu corpo paralisa por alguns segundos, permitindo o nervosismo tomar conta de mim. Minha barriga embrulha como se houvessem mil borboletas voando freneticamente dentro dela, buscando uma saída.

— Um encontro..?

Engulo em seco, encarando o moreno em minha frente que esperava uma resposta, com um sorriso tímido.

Eu nunca havia visto esse lado do Tófani. Na verdade, eu nunca achei que ele ao menos possuísse um lado romântico, por mínimo que fosse. Um sorriso involuntário se forma em meus lábios, como uma prévia da minha resposta após tantos minutos de espera.

— Se você não quiser, tudo bem. Pode ser um jantar de amigos.

— Eu.. q-quero sair com você. - afirmo, gaguejando um pouco.

Meus pensamentos estão confusos e meu coração acelerado, enfatizando meus sentimentos para mim mesmo. Fazia um bom tempo que eu não saia com alguém, mas isso nunca foi um problema devido ao tanto de trabalho que eu tinha para fazer. Agora, olhando nos olhos de um jogador do Barcelona, vejo uma nova oportunidade de descobrir a mim mesmo, da mesma maneira que ele parece se descobrir aos poucos.

— Te ligo para combinarmos, que tal? - ele sorri com o canto da boca, entrelaçando nossos dedos em cima de seu ombro.

— Eu vou esperar. - respondo, ainda um pouco travado. Tófani se estica no carro e me abraça levemente.

Para qualquer outra pessoa, isso seria uma tentativa de abraço muito normal, mas para mim, era como se ele tentasse se comunicar comigo através de toques.

Ele estava nervoso, experimentando coisas novas, e eu também.

Tófani nunca pareceu ser o tipo de cara que chama outras pessoas para encontros, ou que deita no ombro e pede para ficar mais um pouco. Talvez eu nunca tenha permitido que ele mostrasse para mim esse lado carinhoso e fofo dele.

Nesse momento, percebo que parei de conhecer Tófani, o jogador do Barcelona, e comecei a conhecer o Pedro.

Isso parecia ser algo muito reservado na vida dele, e eu não queria invadi-lo. Mas uma ponta de curiosidade começa a tomar conta de mim.

Começo a querer conhecer mais do Pedro.

O Pedro que é expressivo, que gosta de toque físico e também sabe se divertir em lugares caretas que eu gosto de frequentar. O Pedro que é o amigo da Malu, e que quer ser meu amigo.

Ou mais que isso.

Me sinto descobrindo novas terras a todo momento, e nesse abraço simples e meio desengonçado, senti meu rosto queimar e tomar uma cor avermelhada.

Pedro sorri antes de sair do carro, entrando em sua casa e me deixando sozinho com meus próprios pensamentos. Por alguns minutos, me permito ficar no carro, desfrutando do momento fofo que acaba de acontecer sem ao menos percebermos.

Eu imaginaria o final desse dia de muitas formas, mas nunca imaginei que ele me chamaria para sair desse jeito.

É claro que, eu percebi sua aproximação exagerada mais cedo, na biblioteca. Cheguei a pensar que ele estivesse tentando me beijar, e por isso, recuei rapidamente.

Pois se fosse para ser alguém, eu não queria ser um qualquer.

E talvez, eu não fosse ser um.

Histórias bem contadas, com começo meio e fim, são as que eu mais gosto de ler quando estou sozinho. E agora, eu me sinto vivendo um começo de uma bela história, que um dia eu poderei contar para alguém.

Meio brega, romântico até demais para alguém que eu estou conhecendo agora. Mas, eu adoro dizer, que o mundo é daqueles que sabem expressar os seus sentimentos e se afundar neles por completo.

Ou seja, se eu quiser, o mundo pode ser meu.

Nessa noite, me deito em minha cama confortável, repassando em minha mente todos os últimos acontecimentos de minha vida. Eu estive tão focado no trabalho nesses últimos meses, que não pude aproveitar da maneira que eu sempre mereci. Talvez um certo jogador esteja me ajudando com isso aos poucos.

Conhecer o mundo dele e mostra-lo o meu mundo, está se tornando minha parte favorita da semana, aos poucos. Eu não quero que isso acabe.

Me afundo em meus pensamentos e me permito dormir em um sono relaxante, esvaziando meu corpo de toda pressão que o trabalho coloca sobre mim.

Agora, eu tenho mais algo para pensar. Algo que está se formando, algo bonito.

Com um sorriso no rosto, adormeço com Pedro no pensamento, apenas pensando em como me vestiria para o encontro, ou, qual seria o restaurante que ele iria me levar. Eu deveria levar algo para ele? Ou será que ele levaria para mim?

Faço uma nota mental, querendo me lembrar desses questionamentos amanhã, para perguntar aos meus amigos o que deveria fazer.

Nessa noite fria, enrolado nos meus cobertores, me sinto leve como uma pena.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora