Capítulo Quarenta e dois.

438 49 33
                                    


JOÃO ROMANIA.
29 de junho de 2019. — viajar para praia.

Segundo dia de viagem. Pedro dormia em meu peito enquanto as lágrimas silenciosas desciam pelo meu rosto. Eu estava perdido.

Não no sentido prático da palavra, mas perdido. Me sentia sozinho, sem o apoio do meu próprio pai e sem rumo. Logo eu também estaria sem ele.

Talvez seja errado adiar tudo isso, mesmo me sentindo péssimo. Eu nunca havia vivido nada parecido antes, e muito menos, violado meus próprios princípios.

Eu com certeza não sei lidar com essa situação.

Já estive em posições horríveis, trabalhei com pessoas com péssimo caráter e vi coisas que não queria ter visto, mas nunca vieram de mim.

Nem da minha família.

Eu me sinto vivendo em um mundo paralelo, em que tudo é um pesadelo. Sinto vontade de contar tudo de uma vez, mas sei que não aguentarei ao menos começar a me explicar sem derramar cachoeiras de lágrimas quentes.

A questão é que, eu preciso me recuperar primeiro, antes de tentar nos salvar dessa tragédia. Eu queria aproveitar o pouco tempo que nos resta pessoalmente, abraça-lo o máximo possível, beija-lo, tê-lo. Mas nada disso era possível com essa pontada afiada de culpa no meu peito a todo momento.

Desde o dia que eu enviei essa matéria, eu nunca mais fui o mesmo. Mudei meu jeito de agir, fiquei mais retraído, calado, na minha. Pedro percebeu facilmente, mas ele não insiste e sempre respeita meu espaço.

A matéria que pode destruir a vida de alguém, vai estar assinada com meu nome embaixo, e não fui eu que escrevi ela daquela maneira.

Além disso, esse alguém é o Pedro.

Pedro Tófani.

O cara que eu briguei por semanas, e depois me rendi ao seu charme de marrento. Nós éramos opostos, mas ao mesmo tempo, muito iguais. Sempre querendo conhecer o mundo um do outro e nos afundar nele de cabeça, vivendo a vida como ela deve ser vivida.

Mas então, como ela deve ser vivida daqui pra frente? Quando ele descobrir o que eu fiz, talvez nunca me perdoe.

Eu preciso criar coragem e contar toda a verdade de uma vez por todas, sem mentir ou omitir informações. Pedro me conhece, sabe que eu nunca faria isso por vontade própria.

Ele sabe, né?

A culpa se intensifica em meu peito e eu busco relaxar com os olhos fechados, com medo de acorda-lo. Logo durmo novamente e acordo cerca de uma hora depois, com suas carícias.

Meus olhos estão inchados e meu meu rosto grudento, Pedro percebe de imediato. Ele me olha como se tentasse me desvendar, mas não faz nada além de beijar minha testa com a maior cautela possível.

Ele não existe.

E eu estou prestes a magoar ele.

— Como se sente? - pergunta, preocupado.

— Não muito bem, mas não quero falar sobre mim. O que vamos fazer hoje, amor?

— Pensei em torrar no sol, depois andar em uma canoa muito legal que eu vi lá fora ontem. O que acha? - sugere, sentando na cama.

— Eu gosto.

Me sento também e coço meus olhos, tentando fugir dos efeitos da noite mal dormida e do choro incessante.

Eu vou contar para o Pedro, ainda nessa viagem.

— Vou me trocar no banheiro, você pode ficar aqui. - ele diz, pegando sua bermuda na mochila e entrando no banheiro em seguida.

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora