Capítulo Vinte e três.

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PEDRO TÓFANI.
1 de junho — Segundo Encontro.
parte dois.

Paro por alguns segundos, soltando a mão do loiro e fingindo pensar muito na minha resposta.

— Eu topo!

Entramos juntos na casa dele, nos jogando ao mesmo tempo no sofá. João pega o controle da televisão e deita em meu colo, se aninhando em mim como um gatinho.

— Aproveite seus segundos de glória, porque assim que eu ver um gato seu eu vou ter que te abandonar. - aviso, rindo.

Se passam segundos e um gatinho preto e branco corre até mim, pulando em meus braços e ignorando João. Ele se levanta assustado pelo pulo e encara o animal incrédulo.

— Vicente?! - reclama, cruzando os braços.

O gato se encolhe em meu colo, aproveitando o espaço para descansar. Logo, mais um gatinho corre e pula no sofá. Pelo que eu me lembro, esse é o Santiago.

— Santiago! Ouvi falar muito de você. - brinco, acariciando a cabeça do gatinho com calma. — Coloca o filme.

João bufa, visivelmente enciumado, escolhendo um filme para assistirmos. O filme escolhido foi "Amor com data marcada", no qual eu nunca havia escutado sobre.

— Preciso que vocês saiam do colo dele. - João manda, falando com os gatos. Seguro uma risada alta. — Agora!

Vicente pula do meu colo enquanto protesta com miados, ao mesmo tempo, Santiago o ignora e deita no lugar que seu irmão estava.

— Mandei sair, Santiago. - reclama, pegando o gato nos braços e colocando-o no chão.

— Isso é ciúme de mim ou deles? - arrisco perguntar, rindo fraco.

— Não vou responder. - se recusa, deitando novamente a sua cabeça em meu colo, para enfim, assistirmos o filme.

O filme era bom, mas estávamos tão cansados, que cochilamos nessa mesma posição enquanto ele passava.

Acordo quando os créditos do filme já estão rolando na tela, resmungando pela claridade.

— João. - murmuro, acariciando seus cabelos. — Ei, loiro.

— Eu? - resmunga, se aconchegando em mim.

— Você. - rio, beijando sua testa. — O filme acabou e eu preciso ir pra casa.

— Não vai! - pede, fazendo manha.

Nego com a cabeça, achando essa situação fofa e e engraçada. Ele levanta resmungando, coçando os olhos ao se sentar no sofá.

— Fica mais, eu faço uma janta e depois paro de te amarrar aqui. - pede, juntando as mãos.

— Tudo bem. Mas só vou aceitar, porque na minha casa tá sem janta hoje.

— Isso! - comemora, como uma criança.

João levanta para ir até a cozinha e eu o sigo, desligando a televisão. Chicória, sua gatinha, caminha em passos lentos atrás de mim, se esfregando em minhas pernas.

— Acho que essa aqui gostou de mim. - comento, me apoiando no balcão. O loiro se vira rapidamente, arregalando os olhos ao ver sua gatinha me pedindo atenção.

— Que estranho.. ela não é disso. - diz, com a sobrancelha arqueada. — O que você fez?

— Nasci, eu acho. - falo em tom de brincadeira, arrancando uma risadinha do jornalista.

— Bobo, é sério. Ela tem fama de não gostar de ninguém além de mim.

— Bom.. acho que eu sou especial, então. - jogo os ombros, me agachando para acariciar o pelo da gatinha.

João prepara um delicioso macarrão com queijo. Seus dons na cozinha eram muito perceptíveis, ele realmente sabia o que estava fazendo. Nesse tempo, me sento no chão e brinco com Chicória, enquanto batemos um papo solto sobre coisas que gostamos de fazer.

— Está pronto! - ele avisa, enquanto coloca os pratos na mesa. Me levanto, ajudando-o a organizar tudo.

Com a mesa preparada, nos sentamos de frente um para o outro e nos servimos, como sempre, provando a comida ao mesmo tempo.

Estava uma delícia.

— Está muito boa mesmo! - digo, impressionado. João joga os cabelos, se achando.

— Claro, eu que fiz.

— E eu que sou o bobo! - retruco, sorrindo.

Após comer, insisto para João que eu deveria lavar a louça, e ele aceita, contanto que ele seque.

Lavo todas as peças e entrego para ele secar e guardar no lugar certo. Em seguida, me apoio na pia, o encarando.

Quando ele acaba de guardar o último prato, ele seca as mãos e vem até mim, parando em minha frente.

— Você tem mesmo que ir embora? - pergunta, fazendo bico.

— Infelizmente.. mas logo vamos nos ver, é sério. - ele resmunga algo inaudível e me puxa para um abraço leve e delicado.

Ficamos assim por alguns segundos, sentindo um ao outro. Eu podia sentir contra o meu peito o coração de João batendo acelerado, da mesma forma que o meu batia.

Ao nos separarmos, seguro seu rosto e beijo sua bochecha, quase no canto de sua boca. As bochechas de João coram e nós rimos, bobos.

— Vou te levar até a porta. - se oferece, sem me dar opção.

Assinto com a cabeça e me despeço dos gatos que estavam na sala, um por um, o seguindo logo depois.

— Te vejo o mais rápido possível. - afirmo, com as mãos nos bolsos o casaco.

— Eu espero que sim.

Nós sorrimos um para o outro e eu me viro para ir para casa. Já era tarde mas nem tanto, era o horário perfeito para apenas tomar banho e dormir tranquilamente, pensando em hoje e em todos os últimos dias.

Minha bochecha ainda sentia os lábios quentes dele, e minhas mãos ainda tremiam de nervoso. Ninguém nunca havia me feito sentir isso. Com João, eu sinto que estou descobrindo um novo eu, ou, o eu que eu sempre fui e não pude aceitar.

Mas e agora, o que eu faria com essas descobertas e sentimentos?

                                           ✶

Entrelinhas De Barcelona | pejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora