Entrelinhas De Barcelona | pejão

Capítulo Trinta e oito.

PEDRO TÓFANI.
23 de junho de 2019. — jogando bola juntos.

Hoje é o primeiro dia de realização da nossa lista de desejos. Estou empolgado e ao mesmo tempo ansioso, porque o primeiro item é um desejo meu.

Achei que seria mais difícil convencer o João a jogar bola comigo, mas ele sequer reclamou em nenhum momento. Então cá estou eu, parado na frente da casa dele com o carro ligado, esperando que ele saia de casa para leva-lo até o meu campo de treino favorito.

Enquanto ele não aparece, procuro a música que ele mais gosta do Charlie Brown Jr e coloco para tocar.

Como se fosse chamado pela música, João dá três batidinhas leves no vidro do passageiro, indicando que estava do lado de fora do carro. Destravo a porta e viro meu rosto em sua direção, me deparando com a cena mais engraçada do meu dia.

— O que é isso? - questiono, encarando seu traje.

João vestia um conjunto de moletom, óculos de sol e um tênis preto de academia. Apesar de estar lindo, aqueles trajes com certeza não eram apropriados.

— Não gostou? Tô feio? - ele retruca, em tom preocupado. — Eu vou rapidinho em casa e me troco.

— João! - interrompo suas falas frenéticas, segurando sua mão. — Eu não tenho nem palavras para descrever o quão lindo você está, mas essa roupa vai te incomodar na hora de jogar.

— Tem certeza que é só isso? - insiste, com um beicinho nos lábios. Solto uma risada divertida.

— Tenho, meu amor. Você tá criminoso de tão lindo, deveria até ser proibido esse conteúdo pra qualquer um ver.

— Agora você exagerou demais! - ele ri, modesto. — Eu vou me trocar.

— Não precisa, eu tenho uma roupa reserva na mochila que tá no porta-malas. Lá tem um banheiro e você se troca. - asseguro, colocando as mãos no volante e dando partida no carro.

— Só se você for comigo. - ele sorri de canto, acariciando minha nuca enquanto eu dirijo.

— Eu vou pensar no seu caso.

Desde o nosso reencontro ontem, quando fizemos a lista, percebi uma inquietação diferenciada em João. Ele sempre foi mais calmo que eu, um pouco elétrico quando fala de coisas que ele gosta e com poucas manias ansiosas.

Ultimamente, tenho percebido sua tensão a todo momento, suas mordidas de lábio e pernas ansiosas, sua mania nova de mexer no cabelo e seu jeito que antes era tranquilo, ficou frenético e inquieto.

Me pergunto o motivo de toda essa mudança. E a resposta eu talvez não tenha tão cedo.

Que o jornal passava por problemas, todo o meio futebolístico e político já estava ciente. Mas que eram também problemas de família, acho que poucas pessoas sabiam. Maria Luísa me contou que o clima na empresa estava cada vez mais desagradável, tanto que até João, que sempre foi um doce com todos, mal saia da sala.

Ela até me perguntou se eu sabia de algo, porque ele parecia muito triste.

Mas ele não me contou nada.

Penso diversas vezes em perguntar durante o caminho até o campo, mas desisto em todas elas. Hoje ele parecia mais calmo e eu não queria tirar isso dele no meio de tantos acontecimentos ruins.

Involuntariamente, minha mão vai até sua coxa e paira sobre ela, acariciando levemente enquanto dirijo com a mão livre.

Ele aperta minha mão como se tivesse medo que eu escapasse.