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Nicole

01 de Fevereiro de 2024
Vila Catirí, Bangu
Zona Oeste, Rio de Janeiro.

Nem dormi direito.

Cheguei em casa tão tarde e tão cansada por ter andado mais de três horas, mas eu não consegui pregar os olhos a madrugada inteira, porque eu precisava conseguir esse emprego.

Levantei cedo, antes mesmo de a minha mãe sair e ir para o trabalho, porque eu precisei pedir um trocado pro ônibus, prometendo que devolveria assim que eu conseguisse dinheiro.

Não comentei sobre o trabalho, nem com ela e nem ninguém. Deixaria pra contar depois que estivesse tudo certo.

Minha mãe me emprestou vinte reais e depois disso eu voltei pro meu quarto pra não precisar encontrar o Murilo tão cedo.

A Thayla me mandou mensagem.

"Bom dia, amiga. Vem aqui em casa mais tarde, eu tenho que te contar o que rolou ontem".

Eu simplesmente caguei pra mensagem dela e fingi que nem vi. Tiração da porra, né? Me deixou sozinha na roubada e agora tentava agir como se nada tivesse acontecido.

Já era três horas quando eu já não aguentava mais sentir fome, e sai do meu quarto pra buscar algo na cozinha. Claro que o Murilo estava no sofá vendo a porcaria da televisão... claro que eu passei por ele e fingi que ele nem existia.

Mas alegria de pobre sempre dura muito pouco.

Murilo: Que horas tu chegou em casa, Nicole? Era quatro da manhã mesmo?

Revirei os olhos com tanta força, que fiquei com medo de não voltarem ao lugar.

Eu precisava sair dessa casa. Eu precisava fingir que não conhecia esse monstro. A voz dele me dava nojo, o cheiro dele me enjoava e eu só queria não precisar olhar pra ele nunca mais.

Murilo: O gato comeu a língua, garota? Tô falando contigo.

Respirei fundo e tomei um pouco da água no copo.

Nicole: Não vi a hora, fiquei sem bateria. Mas devia ser sim - falei, sem olhar pra ele.

Incrível como cada palavra que eu precisava dirigir para aquele crápula era uma tortura. Parecia que automaticamente pregos rasgavam minha garganta. Era impossível reprimir a careta.

Murilo: Quarta-feira a noite e tu chegando em casa quatro da manhã, Nicole. Tu não toma jeito nunca? Eu devia ter dado um jeito em ti quando era nova, agora tá aí... - virei de frente pra ele.

Nicole: O quê? Agora tá aí, o quê? Continua - desafiei.

Ele me deu o sorriso mais nojento da face da terra, mostrando que não ia se intimidar comigo.

Deus, como eu precisava sair dessa casa.

Murilo: Uma vagabunda sem controle. Deve estar dormindo com um diferente toda noite! Vive usando maconha na rua. Tu é uma vagabunda drogada, pô!

Eu notei o prazer em cada palavra que saiu da boca dele. Deu pra notar que ele queria ter me dito tudo aquilo a muito tempo.

Mesmo que meu coração estivesse quase saindo pela boca de tanto ódio, raiva e nojo, eu engoli seco, sorri com todo deboche do mundo, e cruzei meus braços.

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